Machismo covarde

  Em depoimento prestado dia 11 de fevereiro último à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da empresa Yacows, especializada em disparo de mensagens em massa pelo Whatsapp, num comportamento vulgar e chulo, verdadeiramente cafajeste, ofendera a honra e a dignidade da jornalista Patrícia Campos Mello, afirmando entre outras coisas que ela se oferecera para fazer sexo com ele em troca de informações ocorridas durante a campanha presidencial de 2018.

Envolvendo quem? Nada mais nada menos que o capitão-indecente, quer dizer, presidente... O seu filho, o deputado-federal Eduardo Bolsonaro, aquele que se arvorava em ser o natural indicado a embaixador brasileiro nos EUA só por causa de saber preparar hambúrguer e por falar inglês para o gasto, ultrapassando os limites da civilidade e da urbanidade, caracterizando-se pelas patadas – com o devido respeito ao útil e amistoso asno – afirmara não duvidar que “a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro”.

Sobre ele é impossível não se perguntar: nunca será punido pelas ofensas que comete e pelo desrespeito que tem frequentemente demonstrado em relação às pessoas que não integram a sua patota ideológica?

Diante de tais requisitos, eles só poderiam mesmo estar afetos a ele. Sim, ele mesmo, aquele que, entre tantos desatinos e atos autoritários de quem se imagina dono do País, já ameaçara os brasileiros e, consequentemente, o próprio Congresso Nacional, do qual faz parte, com o fantasma ditatorial do AI 5.

Ah, também fora dele a brincadeirinha que envergonhara a nação brasileira: tirar selfie diante do monumento à paz, na ONU, fazendo com os dedos o formato de uma arma.

Talvez daí tenha brotado a ideia de o papai-presidente querer identificar o partido que pretende fundar com o nº 38...

Não bastasse a sordidez do depoente, fora ela endossada pelo deputado Eduardo Bolsonaro, numa clara manifestação machista e de cunho sexista, coadunando-se a transtornos de temperamento.

Como baixaria pouca é bobagem, o pai presidente, num arroubo perante a sua claque, aquele seu dileto e alienado público que se delicia com as suas idiotices e investidas contra a imprensa, não só sendo cúmplice da baixaria do filho, afirmara em 18 de fevereiro último que Patrícia queria “dar um furo” – no jargão jornalístico, a publicação de algo inédito, exclusivo que ninguém havia divulgado ainda -, ou seja, queria “dar o furo, em troca de informações”, tornando-se cópia fiel da cafajestice da testemunha Hans e do seu filho.      

Imediatamente, jornalistas e profissionais da imprensa em geral se mobilizaram em repúdio às falas de Hans, de Eduardo e do pai. Eles não têm limites nem serão punidos?

Não caberia uma denúncia perante o Congresso Nacional visando a cassar o mandato de Eduardo e a propor contra o pai uma apropriada ação de impeachment?

O vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Cid Benjamin, declarara que a “grosseria de que foi alvo a jornalista está relacionada com dois fenômenos: os contínuos ataques à imprensa e à multiplicação de comportamentos cafajestes”.

Igualmente, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo condenara a atitude de ambos. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fora enfático com relação ao depoente e a Eduardo: “difamação e sexismo têm de ser punidos com o rigor da lei”. Mas, quando? E por quem? Quem terá peito? Como diria o ex-presidente Fernando Collor: “só mesmo quem tiver aquilo roxo”. Não parece que algum congressista possa tê-lo...

Eduardo Bolsonaro investira contra a jornalista porque muitas das informações dadas por ela e pela “Folha de S. Paulo” desagradaram a ele e ao pai. Com o imenso poder que o presidente amealhara, e sem temer coisa alguma, pai e filhos nem se dão ao trabalho de controlar o seu agir meramente pelo instinto. Diante da frustração e da intolerância em lidar com a crítica, põem em risco não apenas a honra de qualquer pessoa, mas a estabilidade democrática da Nação.

Numa época plena na qual as mulheres conquistam direitos pelos quais lutaram durante décadas, onde o empoderamento feminino deve ser motivo de orgulho, independentemente do gênero, os bolsonaros tentam impor uma óptica retrógrada ao Brasil, opondo-se à sua contemporaneidade no mundo.

2022 não demorará a chegar! O eleitorado feminino é maioria no Brasil. Para quem deseja e almeja se reeleger, deve pôr a barba de molho. O troco pode vir a galope. 

Alonso de Oliveira, jornalista. Foi secretário de Administração, diretor de Suprimentos e coordenador de RH da prefeitura de Americana. RG 5.209.484. E. mail: alonsoliveira@hotmail.com.




   

 

 

 

 

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