DIAMANTE

É muito comum depois de tempos estudando, depois de anos exercendo um determinada atividade olharmos para trás e não nos impressionarmos com a nossa "obra". É fato que em tempos de se escolher a carreira a seguir ainda não temos a maturidade necessária, não conhecemos nada de mercado, tendência e principalmente desafios do quotidiano. Ao tomarmos como exemplo a nossa carreira: ADVOGADO, vemos gente bonita, bem vestida, perfumada, sapatos lustrados, carros novos, pasta de marca e óculos escuros orbitando os tribunais. Com essa imagem nos lançamos no tradicional curso de DIREITO, que nem precisa ser em faculdade renomada, basta ser direito. No início a coisa é maçante! Muita leitura e nada de prática, muito direito civil e nada de penal, com o que todo aluno sonha. Sempre temos nossos ídolos. Obregon Gonçalves, Clarence Darrow, Rui Barbosa, Raimundo Cândido Júnior, Marcelo Leonardo, Marco Maciel, Ives Gandra, não necessariamente nessa ordem, apenas os citamos na ordem que se apresentaram. Lá no meio do curso a coisa engrossa. Direito processual e por fim prática do estágio, e o que mais nos encantava: MEDICINA LEGAL. 98% de aproveitamento, ao lado dos 94% do Direito Internacional Público e 100% na conclusão de Curso - TCC. Exame de Ordem é apenas a primeira das barreiras. Cláudio Lembo disse em entrevista: "Bacharelado é para qualquer um, advogado apenas para a minora branca". Também ficamos espantados, mas ouvimos. Encontrar alguém que queira nos aceitar em sua "mina de ouro" é outro grande desafio. Ninguém quer.. Então porque não abrirmos, nós mesmos, talvez com um colega de curso nosso próprio escritório? Simples: por não termos dinheiro. Não temos fiador, nosso terno ainda é da época do estágio e conta agora com 3 anos de uso. Vamos então nos tornar meio parceiro/agregado, qualquer coisa que se aproxime de sócio de um determinado escritório. Ali trabalharemos arduamente e ganharemos uma ninharia. Depois de uns dois anos, mais seguros, e com alguma economia abrimos nosso próprio escritório. Agora só faltam os clientes! Quando tardiamente começam a chegar, contrato de honorários, pagamento da entrada. Alguns não passam disso. Contas começam a vencer, a vida cobra, a sociedade cobra, afinal somos advogados! Poderíamos contar com a entidade de classe, tão famosa OAB. Não. Nada de prático para quem não precisa da van circulando pelas grandes cidades. Apenas anuidade. E o judiciário, ninguém falou. Ah o judiciário, que falta nos faz um judiciário efetivo. Aquelas parcas ações, quando conseguem galgar o muro da assistência judiciária gratuita, são conduzidas rapidamente ao gabinete - autos conclusos- e por lá mofam! E os clientes a cobrar respostas e você no fogo cruzado. Afinal é você que tem acesso ao quem julga. Uma intervenção verbal, nada. Duas, três e nada. E as contas chegando! A prestação daquele carro popular que parecia ser tão fácil pagar, R$600,00 ao mês, já se mostra como um monstro, vencendo a segunda, o temor da terceira e a medida de busca e apreensão, seu nome na justiça. Vamos cobrar dos clientes. Ligamos, cobramos e recebemos uma das quatro parcelas já vencidas. Pagamos as contas e saímos do aperto. Ótimo, temos um folga até o próximo mês! Em meio a tudo isso vem a ideia: Que tal sermos empreendedores? Vemos isso no Direito Empresarial, sabemos como funciona, vamos estudar o mercado, ver o nicho a ser explorado e após nos capacitarmos abrir nosso próprio negócio. Ótimo, essa será a sua segunda tentativa. Então arregaçamos as mangas e vamos lá. Tarefas cumpridas, negócio em funcionamento. Enfim o que queríamos, movimento, fluxo de caixa, crédito bancário, contas em dia, filhos em boas escolas, cabelos meio grisalhos, algumas rugas (dano colateral). Somos vencedores, temos nosso valor. Eis o diamante lapidado!

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