Distúrbios mentais e trabalho, devo me expor?
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Distúrbios mentais e trabalho, devo me expor?

Contar aos meus colegas de trabalho sobre minha saúde (ou a falta dela) mental é uma boa alternativa?

Estar doente mentalmente é um grande problema, especialmente se as pessoas em seu redor não possuem conhecimento suficiente acerca do assunto. Cair no julgamento popular, como no caso da depressão, e ouvir frases como "é falta de ir na igreja" ou "é apenas preguiça" é um grande risco e irá afetar negativamente o doente ainda mais.

O medo de ser julgado(a) como incapaz de realizar mais tarefas ou projetos mais complexos também está presente. A angústia da possibilidade de não ser promovido àquele cargo que tanto nos esforçamos também nos afeta diariamente. Afinal existe um estigma que uma pessoa doente mentalmente não será capaz de liderar uma equipe ou um projeto com a mesma eficácia de uma pessoa saudável. É esse tipo de ambiente que coíbe ainda mais as pessoas a exporem sua situação pessoal no ambiente de trabalho.

A depressão e a ansiedade são mais comuns do que deveriam ser. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking na América Latina, com 5,8% de sua população afetada pela depressão e ganha do mundo todo no ranking de pessoas afetadas pela ansiedade com incríveis 9,3% da população enfrentando esse distúrbio. São mais de 11 milhões de pessoas depressivas e quase 19 milhões pessoas ansiosas. É possível que algum colega de trabalho seu esteja enfrentando isso e você nem saiba, não é mesmo?

Esses números reforçam a ideia de que este é um assunto que deve ser discutido dentro das empresas. No livro "Faça Acontecer", a autora Sheryl Sandberg defende a transparência sobre a vida pessoal no trabalho. Sandberg argumenta que não é possível ser duas personas completamente diferentes (uma durante o horário de trabalho e outra depois de sair do escritório) e que não é saudável nem sustentável manter as aparências de que nada da sua vida pessoal te afeta no trabalho.

Acontece que existem diferentes ambientes de trabalho e nem todas as pessoas têm a oportunidade de trabalharem em lugares onde se sentem psicologicamente seguras. Para definir este termo bacana, segue a definição da professora Amy Edmondson, da Harvard Business School, “segurança psicológica é a crença de que não serão punidos ou humilhados os que exporem suas ideias, questões, preocupações ou erros." (tradução livre feita por mim).

Caso você esteja inserido em um ambiente não-seguro, pode acabar sendo pior compartilhar informações particulares como esta. O pesadelo de ser julgado como fraco ou incompetente pode se tornar realidade. O ideal nesses casos é se manter firme no tratamento fora do ambiente corporativo ou, se possível, compartilhar com algum colega de trabalho mais próximo o que pode acontecer e como lidar em casos de crises.

Se você se sente emocionalmente seguro, é interessante que você fale em privado com seu superior direto, em um ambiente calmo e com tempo suficiente para que ele possa digerir as informações que você está trazendo a ele(a). Evite ter este tipo de conversa no meio de uma correria. De qualquer forma seria uma cena curiosa e trágica ver seu chefe correndo para uma reunião importante e você gritando "EU SOFRO DE DEPRESSÃO"!

É interessante que haja esta conversa para que possa ser provido suporte e um ambiente mais colaborativo para diminuir os impactos em sua performance. Se você tiver a sorte de estar em um ambiente seguro, fale sobre isso antes de ter uma crise, pois pode trazer compreensão acerca do tempo necessário para a recuperação depois dela ocorrer. Ter a ciência por parte de seus colegas e superiores sobre seu estado mental força com que os mesmos pesquisem mais sobre o assunto e percebam que você não é melhor ou pior do que qualquer outro funcionário.

Já passa da hora as empresas (e pessoas) pararem de tratar distúrbios mentais como um tabu. São muito raros os casos onde as empresas encorajam seus funcionários a se tratarem — como no caso da funcionária Rose Parker, que enviou um e-mail informando que tiraria um dia de folga para focar em sua saúde mental e o CEO da empresa Olark respondeu agradecendo a coragem e sinceridade dela — apesar de todos sabermos o quão importante buscar ajuda e tratamento seja. Infelizmente o ambiente de trabalho julga as pessoas que tiram um dia de folga por motivos de doença mental e faz com que todos mantenham uma postura de pessoa durona e inabalável.

Além da quebra do tabu, as empresas podem investir em atividades de baixo custo que podem afetar positivamente seus funcionários. Programas de meditação, caminhada em grupo ou aula de ioga, por exemplo, podem ser providenciadas no ambiente de trabalho e serem realizadas durante o almoço ou depois do horário de trabalho. Oferencendo ainda mais, as empresas podem investir em treinamento de seus gestores de time para saberem lidar com crises da melhor maneira possível — mudando o discurso de 'você deve buscar ajuda' para 'preciso saber como você se sente para que eu possa te ajudar'-.

Expor seu distúrbio mental no ambiente de trabalho requer coragem, mas é esta coragem que irá pressionar as empresas a oferecer mais suporte, não apenas para você, mas para todos que sofrem calados e aos que virão a enfrentar estes distúrbios. Se você tiver a oportunidade, compartilhe sim sua batalha com seus colegas e superiores. Isso pode vir a salvar sua vida e poupar a vida de muitas outras pessoas também (sim, estou falando de suicídio).

Precisamos debater os assuntos, entender que somos a mesma pessoa dentro e fora do ambiente de trabalho e lembrar que muitas vezes passamos mais tempo trabalhando do que dormindo. Vemos mais nosso colegas de trabalho do que nossos parceiros ou nossos pais. Nada mais justo do que ter um ambiente de trabalho acolhedor e seguro, livre de tabus e julgamentos. Toda e qualquer maneira de diminuir o estresse de lidar com distúrbios mentais é válida.

E você, empregado, o que acha deste tipo de debate? Já se expôs para seus colegas ou superiores? Qual foi sua experiência?

E você, gestor de time, acredita ser válido este tipo de conversa com seu time? Está preparado para lidar da maneira correta com pessoas depressivas e ansiosas?

Compartilhe sua opinião e experiências comigo!

***Lembrando que estou aqui expondo minha opinião. Não sou especialista no assunto, não sou médica e (ainda) não sou dona de empresa.

Um texto escrito por Fran Rozzatti.

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