Reflexões sobre o Trabalho e a Saúde Mental: Alta performance e sua relação com o Burnout e Esgotamento Físico.
Sentindo-se esgotado no trabalho?
Quem nunca se questionou se poderia fazer um pouco mais, até mesmo em momentos de descanso estes pensamentos nos perturbam e atrapalham um descanso integral. E esta sensação se tornou comum, reforçado pela máxima “trabalhe enquanto eles dormem” se transformou em um imperativo hegemônico.
Falo sobre uma ideia que nos é imposta diariamente, onde o desempenho é a alta performance, o sucesso é extremamente valorizado. O trabalho árduo é visto como o caminho para o sucesso. Tem um filósofo que critica essa visão que sugere que, com dedicação, autonomia e superação individual, é possível alcançar a alta realização, o sucesso e a liberdade. Byung-Chul Han também aponta que essa crença é, na verdade, uma armadilha disfarçada, resultando em uma sociedade do cansaço.
Vamos fazer uma rápida retrospectiva: Lá no século 20, estabeleceu-se uma visão dicotômica entre o que é bom e o que é mau, similar ao funcionamento dos nossos corpos quando atacados por uma gente externo, como aconteceu na pandemia do COVID-19, tínhamos um vírus (algo ruim que veio de fora) que nos atacou, levando muitos a morte, enquanto lutávamos para criar uma vacina que nos fortalecesse para combatê-lo (acionando as nossas defesas internas).
Essa lógica se manifestou em vários contextos, criando uma oposição entre o “eu” e o “outro”, muitas vezes visto como algo a ser temido, como um vírus. Assim como nossos corpos, a sociedade que vivemos é um sistema, e pensadores como Foucault, sustenta que o controle social acontece por meio da vigilância, da disciplina e da obediência, como fizemos com nossos corpos na pandemia.
Entretanto, na atualidade, esse cenário mudou: a dominação é agora neuronal, resultando em transtornos como Burnout, Depressão e Déficit de Atenção — doenças do século, difíceis de identificar e tratar.
Esses transtornos, ao contrário das doenças imunológicas, físicas, não se baseiam na negatividade e exclusão, mas na positividade. A violência sistêmica da autoexploração é imanente ao sistema e faz parte da lógica de funcionamento da sociedade contemporânea. A exploração e a dominação se fundamentam na ideia de que, com foco, vontade e determinação, nada é impossível para o indivíduo.
Recomendados pelo LinkedIn
No entanto, essa visão ignora o contexto político e social em que estamos inseridos, e responsabiliza o indivíduo pelo fracasso, gerando uma forma sofisticada de exploração, o “sujeito do desempenho”, que se vê livre para trabalhar, mas na verdade se autoexplora voluntariamente e apaixonadamente até o colapso.
O burnout e o esgotamento físico são consequências dessa autoexploração, gerando uma cultura da culpa que alimenta sintomas depressivos e ansiosos.
Essa não é uma crítica ao esforço daqueles que trabalham duro para sustentar suas famílias ou conquistar seus sonhos, mas sim à organização do trabalho que promete liberdade, mas entrega exploração disfarçada de autonomia. Essa nova forma de dominação, a psicopolítica, inaugura um tipo de subjetividade que leva a uma série de transtornos silenciosos, difíceis de combater.
Quero saber de você! O que você acha desse pensamento?