Diversificação Internacional é realmente importante?
Você provavelmente já escutou uma expressão muito conhecida que remete à ideia de diversificação, seja por professores, grupo de finanças ou blog de investimentos, e é fato conhecido que não se deve colocar todos os ovos em uma única cesta. Em um ambiente de taxa de juros baixa, bolsa de valores negativa e inflação alta é comum sentir-se incomodado com a rentabilidade aquém do esperado na carteira do investidor, e isso pode ter um diagnóstico grave: diversificação pouco eficiente.
Um portfólio balanceado deve estar exposto a diferentes mercados, e sem uma visão global fica-se muito exposto ao risco-país. Políticas públicas, desavença entre os principais poderes e, por exemplo, eleições, são alguns dos eventos ligados a esse risco que podem trazer volatilidade no curto prazo. Portanto, esperar esses movimentos e buscar proteção internacional é uma boa forma de suavizar choques que não necessariamente estão ligados à qualidade dos papéis locais.
O gráfico abaixo foi construído na plataforma do Investing.com e ilustra essa ideia. A área verde representa o desempenho do índice Ibovespa (empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro) e as linhas rosa e azul representam, respectivamente, a variação do Dólar frente ao Real e o desempenho do S&P500 (maiores empresas listadas em bolsa nos Estados Unidos). Abaixo do gráfico de desempenho há o coeficiente de correlação, o que é mais importante para a ideia deste artigo.
Howard Marks, Co-Fundador e Co-Presidente da Oaktree Capital Management, é um dos maiores investidores do mundo, e, como colocou em uma transmissão ao vivo recentemente, as empresas e economias tendem a prosperar no longo prazo. Ainda que em ritmos distintos, pode-se verificar esse movimento tanto no Ibovespa quanto no S&P500 e, apesar disso, há choques observados no decorrer do tempo que podem ser minimizados com a proteção certa.
Perceba que o coeficiente de correlação entre o Ibovespa e o Dólar/Real é, predominantemente, negativo – e isso é um bom sinal para o investidor. É um indicativo de que os dois índices em questão não caminham na mesma direção, ou seja, quando o primeiro sofre uma queda, o segundo tende a se colocar em alta – isso não significa que o investidor vai ficar no zero-a-zero, neutralizando os ganhos e perdas, pois, como ilustrado no gráfico, ambos têm valorização no longo prazo. O choque causado pelo Covid-19 no início de 2020 captura esse racional: período em que as bolsas sofreram fortes quedas, mas o Dólar/Real caminhou no caminho contrário. De forma similar, entre 2015 e 2016 verifica-se uma desaceleração do Ibovespa e forte correlação negativa deste com o Dólar/Real.
E você com isso? Há quem pense que incluir ativos em dólar é muito difícil e somente grandes investidores podem fazê-lo, mas não é bem assim. Existem algumas opções interessantes, além da compra de papel moeda – atenção, ao comprar dólar em espécie além de incorrer-se em custos que fazem a moeda sair mais cara, se abre mão do recebimento de juros ou valorização de papeis associados.
Ações
Apesar de serem empresas locais, existem o que são chamadas de empresas defensivas. De maneira geral, são companhias dolarizadas, que têm grande parte de suas receitas em dólar e, além disso, são bem consolidadas em seus mercados de atuação. Elas contam com boa capacidade de geração de caixa, alta previsibilidade de receita e têm um nível baixo de endividamento, o que se traduz em pagamento de dividendos interessantes aos acionistas.
Deve-se estar atento, pois mesmo sendo consideradas resilientes e bem consolidadas, elas não estão livres de riscos do mercado de ações. Seus papéis podem, por exemplo, desvalorizar significativamente como qualquer outra empresa listada.
BDRs
Os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) são recibos de ações das empresas que estão listadas em Bolsas de Valores de outros países, esses títulos são negociados aqui na B3, e é possível operar pelo Home Broker da sua corretora como qualquer outro ativo de renda variável. É uma forma equivalente e simples de se negociar, por exemplo, os papéis das maiores empresas dos Estados Unidos ou China. Ao se investir em BDRs o investidor se expõe àquela empresa específica e, também, à variação do Dólar frente ao Real.
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Empresas americanas possuem uma característica que o investidor deve ter em mente. Como exemplo, nos EUA, ao contrário do Brasil, as empresas não são obrigadas a pagarem dividendos e, quando pagam, há a incidência de imposto de renda. Portanto, quem investe em BDRs podem receber dividendos, porém, devido à natureza do país de onde a empresa está listada, eles podem não ser obrigatórios e também podem haver incidência do imposto de renda.
ETFs
Muito populares e não é atoa, os ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos de índices. Imagine ter uma carteira que busque um desempenho similar aos índices das maiores empresas da China, ou EUA, ou em ambos. Seria necessário uma quantia significativa em dinheiro se não fossem pelos ETFs. Eles buscam acompanhar o desempenho de um índice específico, quanto mais fiel ao movimento do índice, melhor será a gestora. São negociados em bolsa e hoje são bem acessíveis, pois é possível operar a partir de 1 cota.
Apesar de ser o que é chamado de um produto Passivo, ETF é um investimento de Renda Variável e existem riscos associados que devem ser cuidadosamente avaliados pelo investidor, assim como todos os outros ativos.
Fundos de Investimentos
O mercado de Fundos de Investimentos é amplo e pode ser uma alternativa muito interessante para quem não tem familiaridade ou não gosta de operar em ambiente de bolsa pelo home broker. Os mais comuns para o objetivo de diversificação internacional são fundos cambiais, onde o principal objetivo pode ser, por exemplo, superar flutuação de moedas fortes como o Dólar. Apesar disso, existem outras soluções que os gestores de fundos podem utilizar para potencializar os ganhos e ter vantagens fiscais como, por exemplo, um Fundo de Ações com exposição cambial e benchmark no S&P500, onde tem-se 15% de Imposto de Renda direto na fonte independentemente do prazo, se beneficia do Dólar/Real mais forte e ainda pode acompanhar as variações do índice Americano que reúne as empresas mais relevantes por lá.
Apesar de ter uma natureza mais simples e prática para o investidor, os Fundos de Investimentos também possuem riscos específicos ligados aos ativos que compõem a carteira e não há garantias sobre o patrimônio que foi alocado. Além disso, o investidor incorre em custos diferentes, como Taxa de Administração e Taxa de Performance, por isso é muito importante escolher os gestores com cuidado, procure sempre o histórico de desempenho e pesquise sobre a reputação da casa.
Afinal, vale ou não a pena?
Como todo ativo, é necessário ponderar os fatores de risco com o apetite por este. Uma vez que o perfil do investidor esteja de acordo, a diversificação por meio de produtos internacionalizados é absolutamente necessária.
Uma visão global possibilita melhores expectativas de ganhos no longo prazo, protegendo-se de choques que ocorrem no decorrer do tempo. Como colocado recentemente pelo Martin Iglesias, professor de Economia e responsável pela Gerencia de Oferta de Investimentos e Finanças Comportamentais no Itaú Unibanco, o fator determinante para uma carteira bem sucedida em períodos de crise é a forma como o investidor estava posicionado no início dela. Um portfólio concentrado sofre perdas significativas as quais, muitas vezes, precisam ser realizadas para que seja possível efetuar alocações estratégicas que visam a diversificação e a redução de perdas ainda maiores.
Como todo processo de criação de portfólio, é necessário que o investidor avalie os riscos e custos associados, além de cadenciar com seu perfil, isto é, alinhar expectativas e apetite de risco. Apesar de conhecer as alternativas, manter por perto um profissional que possa ajudar na tomada de decisão, avaliando quais os melhores ativos para cada ciclo econômico e garantindo que estejam em linha com os seus objetivos pessoais é fundamental.
Atenção: este artigo tem caráter informativo e, de forma alguma, deve ser tratado como uma recomendação de investimentos.
Assessor de Investimentos | XP Investimentos
3 aSe analisarmos os momentos de alto risco( sistemático e até mesmo não sistemático), onde a volatilidade aumenta consideravelmente, essa diversificação em ativos dolarizados fazem total diferença na composição do portfólio. Excelente artigo. Parabéns pelo conteúdo!
Itaú Empresas PRO | CPA-10
3 aExcelente comentário, muito bem colocado! Você é o cara Fernando, esforçado e dedicado!!! Sucesso sempre. 👏🏼👊🏼
Aposentada - Itau Unibanco
3 aExcelente seu comentário Fernandinho! Parabéns! 👏👏👏
Especialista Íon Gestão de Patrimônio
3 aExcelente artigo Fernando. A diversificação de ativos em uma carteira, principalmente internacional é fundamental para buscar proteção e excelentes retornos no longo prazo. Se engana quem pensa que montar um portfólio é apenas concentrar bons ativos, com bons históricos. É necessário avaliar, entre outros dados, a correlação entre eles para entender como se comportam em momentos de risco. Assim como Warren Buffett disse, "never bet against America". Parabéns pelo texto, que seja o primeiro de muitos.
Assessor de Investimentos na Futureinvest
3 aMuito pertinente! No cenário de incertezas que estamos vivendo, e principalmente neste ano de eleições conturbadas que está se desenhando, diversificar com uma moeda mais sólida como o dólar faz muita diferença não só em performance da carteira como traz uma robustez no portfólio que é difícil ter se expondo apenas a real. Parabéns pelo conteúdo!