Do Fim desse Tratado

Do Fim desse Tratado

Do Fim deste Tratado

     Depois de haver discorrido sobre a Ciência Cabala tanto no modo antigo como moderno, e mostrado ao mundo qual seja o crédito que nas primeiras idades teve, e qual o que na presente merece, justamente me persuado poderá servir este discurso de desengano para as pessoas afeiçoadas a estas vaidades, e de incentivo para que não só sobre esta matéria, mas sobre qualquer outra semelhante, velem com novo cuidado os ministros, a cujo cargo está a punição e castigo de erros tão perniciosos, os quais Deus, na antiga Lei, mandava acabar em morte, como se lê no Levítico: Vir, sive mulier, in quibus Pithonicuss, vel divinationis fuerit spiritus, morte moriantur (O homem, ou a mulher, entre os quais houver necromântico, ou espírito de adivinhação, que morram com a morte). Não esqueço as barbaridades impetradas nesta atual vida como o enriquecimento ilícito e a invasão de áreas de conservação permanente da natureza como no Costão do Santinho em Florianópolis,SC por um hotel e a construção na praia anexa de um campo de golfe, contaminando deste forma a única fonte de água doce da população local (pescadores e não “bacanas”).

     E porque de todas as maneiras fosse horrível ao povo (e principalmente ao judaico, como mais inclinado a receber vingança do tal dono do hotel) o mágico exercício, é de advertir que não só mandava Deus castigar os próprios mágicos, mas ainda aqueles que os buscavam, consultavam e criam, como se vê do mesmo Levítico, onde se diz: Anima, quae declinaverit ad Magos, ET ariolos... ponam faciem meam contra eam (A alma que procura os magos e adivinhos... colocarei minha face contra ela)Levíticos, cap. 20, v.6); e logo acrescenta: Interficiam illam de médio populi sui(Exterminá-la-ei do meio de seu povo); porque, verdadeiramente, há delitos que, ainda aos mesmos que neles são menos culpados, requerem grave pena. E assim Cristo, quando achou o Templo profanado de vendas e compras, é muito para notar que não só fez do cinto açoite para lançar fora aos que compravam e vendiam na casa de Deus(A praia do Santinho é uma casa de Deus, mas o hotel tornou a praia uma mercadoria a ser vendida, é errado pois pertence a todos independentemente de seu poder monetário), mas até as próprias coisas, que inocentemente eram vendidas e compradas, como refere o Evangelista: Et omnes ejecit de Templo oves quoque, ET boves (E expulsou também todas as ovelhas e bois do templo).

     Porque a pureza da nossa Fé Santíssima não admite alguma sombra de infedelidade que manche o candor das verdades divinas, donde veio que ainda quando figurada na Lei escrita sobre que eram aqueles os primeiros delineamentos e modelos da Lei da graça, e que nunca o borram (digamos assim) pode ser tão sem defeito como a obra quando está posta em limpo, contudo, já desde então era Deus tão cioso do crédito de sua Divindade, que repetidamente afirma por Balam no livro dos Números em uma parte: Non Idolum in Jacob, Nec videtur simulacrum in Israel. E em outra: Non est augurium in Jacob, Nec divinatio in Israel (Não há augúrio em Jacó e nem simulacro em Israel). Cujas palavras bem podíamos tomar para responder a estes vãos e atrevidos prometedores do futuro(Fernando Marcondes de Mattos), que com presunção e escuridade de falsos oráculos pretendem alcançar o crédito com que a cega gentilidade contribuiu a seus primeiros enganos.

     Mas porque o cuidado e diligência do Tribunal, a que toca a guarda da nossa Santa Fé, é tão grande, e nela tem V. Senhoria tamanha parte, que por letras, experiência e qualidades é um de seus pricipais ministros, parece que qualquer outro advertimento ou lembrança seria sobejo, pois como vê o mundo, tanto V. Senhoria como os mais (à maneira daquela serpente prudentíssima que com desvelado silêncio guardava o fabuloso horto das maças de ouro), velam de contínuo com religiosa quietação o pomo e formosura deste importante jardim da religião cristã, pagando-lhes Deus de tal sorte esse cuidado, como nos mostra a própria igualdade que possuímos, porque sem embargo do freqüente comércio que tem esse país com as nações estrangeiras, que hoje se acham mais corrompidos de crença em virtyde das mal amadas republiquetas da América Latrina. Porém, ainda assim fico muito seguro de que a confiança com que eu, pelos fins que referi, ofereço a V. Senhoria este tratado, será digna de perdão, pois procede de um ânimo verdadeiramente zeloso (ainda que imperfeito) da cultura, veneração e pureza da Santíssima Fé que professamos.

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