do site ao insight...
Entrou na sala vazia, notou a disposição dos móveis e cadeiras, o que lhe indicava o lugar a tomar quando fosse de tomar lugar, fez uma leitura visual em panorâmica da sala procurando ficar com uma imagem do cenário onde iria estar na hora seguinte, anotou mentalmente a impressão com que ia ficando e coloriu a sensação com um " está-se bem aqui, embora paire uma leve e insistente aragem de incómodo que não incomoda ".
Ele entrou na sala, saudou-a de forma curta e cortês, convidou-a a sentar-se onde ela já tinha identificado como a cadeira que lhe caberia, a outra estava por detrás de uma secretária, logo seria para ele, o consultório ganhava agora identidade e a consulta iria começar..., se é que já não tinha começado, mesmo sem que o relato o refira. Vim cá por uma simples razão..., adiantou-se ela, ele nem sequer tinha aberto a boca, talvez nem tivesse sido importante..., e gostaria que me dissesse, antes de mais, se é a pessoa indicada para me ajudar a resolvê-la. Se assim for, continuamos, se não..., não pretendo roubar tempo nem a si, nem a mim.
Ele ouviu-a como ela não era ouvida há muito tempo, de frente para ela, olhos a seguir os dela, postura serena e uns ligeiros acenos que afinavam com as ênfases que ela ia colocando na frase que proferiu e, humedecendo os lábios, como quem vai falar a seguir e receia ficar preso na secura das mucosas, dando a impressão de qualquer precipitação, ansiedade ou mesmo perplexidade..., respondeu-lhe com uma voz de barítono que a fez estremecer.... sou a pessoa indicada, pode ter a certeza, mas não para a ajudar a resolver uma simples razão. Seria uma inconveniência, uma usurpação, até, tomar nas mãos tal empreitada, já para não referir que jamais faria tal coisa sem a considerar como a timoneira da obra, mesmo que simples seja a razão que a fez vir aqui e pensar que teria a ganhar em resolvê-la.
Ela conferiu a frase agora ouvida, ficou maravilhada com o efeito, apenas não a percebeu, talvez seja um padrão a ter em conta, o que nos toca não é necessariamente o que nos é inteligível de imediato, antes pelo contrário, toca-nos..., mexe-nos... e ao que encaixar em nós, mobiliza-nos para o tornar inteligível..., sorriu, levantou-se da cadeira com um ar calmo e confiante, pegou na carteira e caminhou na direção da porta dando a entender que iria sair sem dar sinal de que antes abriria a porta. Ele, solícito e atento, foi lesto a dirigir-se à porta, uma cortesia, pretendi abri-la e facilitar-lhe a saída... ao que ela, de pronto, sentenciou..., não precisa abrir mais portas. Acabou de abrir a que me atormentava e, a partir de agora, sinto-me capaz para lidar com elas à minha maneira. Ele ficou em pé, a olhar para ela, enquanto ela, mantendo o sorriso calmo e ainda mais confiante, passou pela porta fechada como se de um amplo espaço aberto se tratasse.
Recursos Humanos | Psicóloga
4 aExcelente!!!! 👏
Heresiarch
4 aPassou pela porta fechada? Era uma fada das nuvens?