Doação e legado

Por Luisa Lima, gerente de comunicação e conhecimento no IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.

Quando se fala em doação, muitas vezes a imagem que nos vem à mente é de um gesto imediato, com resultados que se materializam de forma tangível e rápida. Seja a construção de uma escola, a compra de suprimentos para uma comunidade vulnerável ou o financiamento de um projeto ambiental, a expectativa de ver o impacto palpável do ato de doar está profundamente enraizada no imaginário coletivo. Esta perspectiva é natural, pois há uma satisfação inegável em testemunhar o resultado concreto e direto de nossa contribuição. No entanto, a doação pode transcender essa visão imediatista e adquirir uma dimensão mais duradoura: a doação com um olhar para o legado.

O conceito de legado está intimamente ligado à ideia de perpetuidade. Doar com essa mentalidade implica na construção de uma ponte para o futuro, um compromisso com a continuidade e a geração de impacto que não se esgota em um momento, mas que se desdobra ao longo do tempo. Essa abordagem tem se consolidado em práticas como a doação para fundos patrimoniais — veículos que permitem que os recursos doados hoje sejam investidos e gerem rendimentos ao longo dos anos, garantindo o financiamento de organizações e causas de forma sustentável e perene.

Imagine um aluno que, há 50 anos, decidiu fazer uma doação modesta para o fundo patrimonial da Universidade de Harvard. Naquela época, a quantia doada poderia parecer pequena e o impacto, quase imperceptível. No entanto, essa contribuição, aplicada de forma inteligente e gerida com rigor, cresceu ao longo das décadas. Hoje, aquela doação inicial gera rendimentos anuais significativos, destinados a financiar, entre outras coisas, pesquisas acadêmicas, bolsas de estudo e programas de inclusão, permitindo que estudantes talentosos de diversas origens possam acessar a universidade.

As motivações que levam alguém a doar variam amplamente e muitas vezes refletem a essência e os valores pessoais do doador. Desde que comecei a mergulhar no universo dos fundos patrimoniais, primeiro profissionalmente e depois pessoalmente, tenho considerado muito esta perspectiva do prazo mais amplo para ver os impactos das doações que realizado, entendendo que as transformações sociais e ambientais profundas demandam tempo, paciência e recursos contínuos. Neste ano, escolhi doar para dois fundos com os quais me identifico demais. O primeiro, o Sempre FEA, retribuindo os anos de ensino gratuito e de excelência ao qual tive acesso e possibilitando maior inclusão e equidade entre os novos alunos. O segundo, o Fundo de Fomento à Filantropia, o fundo patrimonial criado pelo IDIS neste ano, e cuja estrutura robusta de governança conduz ao uso responsável, transparente e de muito impacto dos rendimentos!

De acordo com o Monitor dos Fundos Patrimoniais, existem hoje no Brasil, 115 fundos patrimoniais ativos, que beneficiam inúmeras organizações e causas. O crescimento tem sido rápido, mas entre os principais desafios identificados pelos gestores desses fundos está justamente a captção de recursos, como revelado na última edição do Anuário de Desempenho de Fundos Patrimoniais.

Neste Dia de Doar, faço um convite para você não apenas doar, mas também refletir sobre como você deseja que este gesto reverbere. Pense se deseja doar para soluções para o presente ou se vai escolher, desta vez, contribuir para as gerações futuras. Se optar por deixar um legado, convido a conhecer alguns fundos patrimoniais brasileiros que recebem doações de pessoas físicas, a maior parte a partir de qualquer valor. Toda doação é importante e um ato de amor à humanidade!