A doce despedida de Hermenegildo da Silva
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A doce despedida de Hermenegildo da Silva

Hermenegildo da Silva chegou cedo ao próprio velório. Era uma manhã linda de primavera. Havia bastante sol, mas o calor não era intenso. O espaço ao redor do salão era florido. O espírito se posicionou de forma a observar amigos e familiares.

O primeiro a chegar foi o primo Robertinho, acompanhado da mãe. Os dois cochichavam. Hermenegildo conseguiu ouvir o seguinte comentário do rapaz: “Você vai ver. A família vai ficar bem mais unida agora. Tudo o que ele fazia era espalhar fofocas”.

O espírito ficou surpreso, de certa forma até desnorteado. A ideia era ficar ali para ver como seriam as homenagens e não esperava que a primeira manifestação fosse essa. Depois, irritado, pensou: “Eu sempre desconfiei da falta de caráter do Robertinho mesmo...”.

Um choque ainda maior foi quando a tia concordou. Ela disse: “Eu também acho isso. Ao longo do tempo, essa parte da família fez coisas terríveis com a gente. No fim, ele se mostrou o pior de todos. Acredito que essa morte pode consertar um pouco as coisas”.

Entorpecido, Hermenegildo arregalou os olhos e balbuciou a seguinte frase: “Meus Deus... Mas do que ela está falando?”. De repente, recebeu uma pancada na cabeça. Não conseguiu ver de onde veio aquilo. A dor foi inacreditavelmente brutal. Ficou tonto.

Quando se recompôs da porrada, algumas cenas da vida começaram a aparecer. Era uma compilação das vezes em que falas dele ajudaram a prejudicar reputações de familiares, especialmente dos dois que já estavam ali. O espírito ficou perplexo.

Outras pessoas começaram a chegar. Só gente próxima, da família. Hermenegildo voltou a prestar atenção nas conversas. Dois outros primos batiam papo na entrada do salão: “Vou tentar escapar daqui a pouco. Hoje tem jogo. Não quero perder”, um deles disse.

Na mesa onde estava servido o café, duas tias trocavam uma ideia. Foi possível ouvir o seguinte comentário: “Quero ver quem é que vai pagar o que ele desviou dos nossos negócios. Só ele achava que ninguém mais se lembrava disso. Agora mesmo é que já era...”.

A reação de Hermenegildo foi imediata: “Mas que porra é essa? São umas malucas!”. Novamente, o espírito recebeu uma pancada na cabeça. A sensação era de que se tratava de uma tora de madeira ou algo similar. Só não morria porque já estava morto.

Em seguida, foi apresentada uma compilação das vezes em que foi imprudente e usou dinheiro dos outros de forma aleatória, sem medir as consequências. A partir disso, começou uma eterna sequência de pancada e compilação. Não conseguiu ver o próprio enterro...

Atualizado no dia 01/09/2018.

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