O mundo vive momentos de profundas transformações de suas propostas de desenvolvimento, em nível local e global, numa velocidade nunca vista em outros períodos históricos. E não é à toa, afinal de contas, vivemos a transição de um mundo V.U.C.A (volátil, incerto, complexo e ambíguo) para B.A.N.I (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) e isso reverbera diretamente nas agendas locais de desenvolvimento, um desafio que permeia o poder público e a iniciativa privada.
Para lidar com esse cenário, cada vez mais intenso, a UNESCO aponta que a criatividade e a cultura serão caminhos para que constituição de propostas de desenvolvimento resilientes, em especial nos territórios, uma vez que urge cocriar percursos de crescimento endógeno pautados numa relação comercial flexível, ambientalmente sustentável, socialmente justa e economicamente potente. Nesse sentido, a economia criativa é tida como uma estratégia capaz de congregar esses desejos e responder positivamente as necessidades territoriais.
A economia criativa está centrada no potencial intelectual e dos valores simbólicos que podem ser convertidos em produtos/serviços, com alto valor agregado, que emergem dos indivíduos de uma localidade. Sendo assim, o potencial de desenvolvimento local pela economia criativa é possível a todos desde que sejam observadas, com afeto e respeito, os processos e relações existentes em cada lugar. Desta maneira, não há receita pronta para o desenvolvimento, contudo, exige dos agentes públicos e privados coragem, capacitação e empatia para cocriar caminhos que permitam a resiliência e a diversificação econômica.
A dúvida que talvez esteja pairando em sua mente no momento é: como começar a trabalhar com essa pauta na localidade? Então, te convido a observar/refletir 06 prismas que poderão contribuir na sua jornada de ativação da economia criativa local:
- Mapear, articular e mobilizar setores criativos – dores e oportunidades em comum geram sinergia: É importante mapear os setores criativos existentes nos territórios (ex. designers, produtores culturais, artesãos etc.) e, partir desta etapa, articular estes agentes e mobilizá-los na construção de uma agenda comum, pautada nas dores que os impedem de avançar e nas oportunidades de desenvolvimento possível. Tal abordagem permitirá que eles se observem, e se reconheçam, como entes importantes na ativação da economia criativa.
- Formação de Redes de desenvolvimento local – para eu ganhar, preciso que o outro ganhe também: Articular os setores criativos locais em rede permite que os esforços sejam concentrados e gerem relações comerciais e de parcerias mais potentes, sejam para conquista e abertura de mercados, aquisição de insumos específicos a um preço melhor e, também, construção de soluções endógenas que permitam ao território ter recorrência na venda de produtos e serviços criativos.
- Atitude empreendedora e modelagem de negócios criativos - capacitar para conquistar: Trabalhar a atitude empreendedora é crucial para que os agentes criativos dos territórios se percebam como protagonistas do desenvolvimento local e, concomitante a isso, capacitá-los na modelagem de negócios criativos permitirá fortalecer empreendimentos já existentes e/ou criar negócios a partir do capital intelectual e dos processos culturais existentes no lugar.
- Interconexão produtiva – o potencial criativo combinado a outros setores econômicos: É fundamental conectar produtos e serviços criativos, bem como seus agentes, a outros setores econômicos locais numa perspectiva “ganha x ganha”, ou seja, criar interconexões produtivas. Por exemplo, ao trabalhar economia criativa e turismo é possível gerar experiências diferenciadas (benéficas ao turismo) e um escoamento de produtos e serviços com maior valor agregado (benéfico aos criativos), favorecendo a geração de emprego e renda e, consequentemente, potencializando balança comercial do território de maneira positiva.
- Encontros temáticos de conexão - manter aquecida a pauta por experiências exitosas: Tão importante quanto ativar é manter uma agenda que permita manter aquecida as discussões e o trabalho dos criativos locais e promover encontros temáticos auxiliam nesse processo. Sejam encontros quinzenais, ou mensais, com cases de criativos locais ou de outros lugares que foram exitosos em seus negócios criativos colaboram na manutenção da energia do trabalho coletivo e, também, no networking entre os agentes dos setores criativos.
- Planos Locais de Desenvolvimento Criativo – documentar desejos, parametrizar esforços e trabalhar futuros desejáveis: É essencial que os desejos e oportunidades de atuação dos agentes criativos sejam consolidados em planos de desenvolvimento criativos, tal instrumento gera maior corresponsabilidade entre os pares (público e privado) nos esforços para o desenvolvimento da economia criativa. Conectar este plano a outros documentos estratégicos como o Plano Diretor Municipal, Plano Municipal de Turismo e/ou Cultura pode potencializar e favorecer o estímulo ao empreendedorismo e fortalecer os setores criativos locais.
Trabalhar a economia criativa, enquanto estratégia de desenvolvimento local, deixou de ser uma mera “possibilidade” para ser um “fator decisivo” no progresso dos territórios e, consequentemente, para o futuro da economia global. As localidades e os agentes (públicos e privados) que se permitirem, e se empenharem, na articulação de suas cadeias produtivas criativas poderão criar a ambiência necessária para diversificar sua matriz econômica de maneira resiliente e sintonizada com os desafios e oportunidades que o mundo nos reserva daqui para a frente.
Artigo: Felipo Abreu, Analista do Sebrae Mato Grosso