Economia do Cuidado: por que abrimos mão de 10,8 trilhões de dólares por ano?
Economia do Cuidado - FAPESP

Economia do Cuidado: por que abrimos mão de 10,8 trilhões de dólares por ano?

Ao procurarmos o que é economia no dicionário recebemos a definição de que é a ciência que estuda fenômenos relacionados com a obtenção e a utilização dos recursos necessários ao bem-estar. (Oxford Languages)

Bom, se formos colocar uma lupa sobre bem-estar certamente pensaremos em como nos cuidados, certo?!

Nossa alimentação, roupa, saúde, moradia, acesso à educação e lazer. Mas isso não está restrito a nossa vida adulta, já parou para pensar em quem é/foi responsável por organizar e executar a tarefa de manutenção da sua vida? 

Todos nós precisamos de cuidado para existir! 

O trabalho do cuidado é essencial para a manutenção da vida e, consequentemente, a base da nossa economia. Todo profissional já foi cuidado para que hoje consiga exercer suas atividades de forma plena. Fomos alimentados, tivemos nossas roupas lavadas, fomos levados à escola, recebemos ajuda em nossos deveres, fomos limpos e tivemos nossa saúde acompanhada.

Quando adultos, uma parcela continuar a exercer o cuidado e, de acordo com a sua localização na pirâmide social, terceiriza boa parte desse trabalho – claro que aqui precisamos fazer um recorte de gênero e classe.

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Mas afinal, o que é a Economia do Cuidado?

 “O trabalho de cuidado envolve muitas horas e tempo dedicado ao cuidado com a casa e com pessoas: dar banho e fazer comida, faxinar a casa, comprar os alimentos que serão consumidos, cuidar das roupas (lavar, estender e guardar), prevenir doenças com boa alimentação e higiene em casa e remediar quando alguém fica ou está doente, fazer café da manhã, almoço, lanches e jantar para os filhos, educar e segue por horas a fio.” (Think Olga: Economia do Cuidado, 2020)

A pandemia, que trouxe consequências como o isolamento social, trouxe uma transformação na forma como trabalhamos, nos relacionamos e vivemos.

O trabalho do cuidado não remunerado prestados por mulheres a partir de 15 anos equivaleria a 10,8 trilhões de dólares. Apenas quatro economias do mundo ficariam acima desse valor, uma economia 24 vezes maior do que a do Vale do Silício e maior do que o estimado para todo o setor de tecnologia do mundo. (Think Olga e OXFAM)

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Ainda, há diversas(os) profissionais que têm seu sustento oriundo da economia do cuidado: diaristas, empregadas domésticas, babás e cuidadores, trabalho remunerado, mas mal pago. As mulheres são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado e compõem dois terços da força de trabalho envolvida em atividades de cuidado remuneradas. 

A OXFAM traz em seu relatório “Tempo de Cuidar”:

  • Dos cerca de 67 milhões de trabalhadores domésticos em todo o mundo, 80% são mulheres;
  • Só 1 em cada 10 trabalhadores domésticos têm proteção igual perante as leis trabalhistas em comparação com trabalhadores de outras categorias;
  • Cerca de 50% dos trabalhadores domésticos não têm proteção do direito ao salário mínimo e mais de 50% não têm limites para a jornada de trabalho previstos em lei;
  • Estima-se que 90% dos trabalhadores domésticos não tenham acesso à previdência social – por exemplo, proteção e benefícios relacionados à maternidade.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que, até 2030, haverá um número adicional de 100 milhões de idosos e de 100 milhões de crianças de 6 a 14 anos que necessitarão de cuidados. À medida que envelhecerem, os idosos precisarão de cuidados mais críticos e de longo prazo de sistemas de saúde que estão mal preparados para atendê-los. Aumentando a carga do trabalho não remunerado para a manutenção da vida dessas pessoas.

Sem surpresas: mulheres são o centro da Economia do Cuidado

A invisibilidade do trabalho não remunerado coloca uma venda social sobre quem exerce essas atividades e que na pandemia foram as mais impactadas: as mulheres.

De acordo com o relatório “Economia do Cuidado”, ao todo, mulheres gastam em média mais de 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no Brasil.

O estudo ainda mostra que esse trabalho equivale a 11% do PIB. “Mais do que qualquer indústria. E mais do que o dobro que todo o setor agropecuário produz.” 

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Em tempo, precisamos fazer um recorte de suma importância, o recorte de raça. Mulheres negras estão na base da pirâmide econômica do Brasil e são as mais impactadas pelas consequências do novo coronavírus. Olhando os dados: 

  • 58% das mulheres desempregadas na pandemia são negras;
  • 93% das trabalhadoras domésticas da América Latina e Caribe são mulheres;
  • 47,8% das mulheres negras do Brasil têm trabalho informal.
“Em toda a América Latina, a mulher (especialmente a mulher negra) dedica muitas horas ao cuidado, logo menos tempo para participar de questões públicas e desenvolvimento pessoal. A primeira morte por coronavírus no Brasil foi de uma mulher, empregada doméstica que morava na casa onde trabalhava.” (Think Olga: Economia do Cuidado)

De acordo com Cida Bento, diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), o trabalho do cuidado interdita oportunidades de futuro para todas as mulheres, principalmente as mulheres negras. 

“A INVISIBILIDADE DA ECONOMIA ECONOMIA DO CUIDADO É UM POTENTE AGRAVANTE DE DESIGUALDADES” (THINK OLGA)

Outro fator importante do ponto de vista do gênero, no mundo todo os homens detêm 50% a mais de riqueza do que as mulheres. Em média, apenas 18% de todos os ministros de governo e 24% de todos os parlamentares do mundo são mulheres, desta forma, as mulheres são frequentemente excluídas de processos decisórios. (OXFAM: Tempo de cuidar, 2020)

Este artigo não visa o aprofundamento do assunto e todas as suas nuances, até porque o espaço é curto e limitado, mas sim jogar luz e levantar provocações sobre um tema pouco difundido e debatido em ambientes corporativos e tomadores de decisão.

E agora, nós como sociedade organizada, o que faremos a respeito?

O que você fará?

Como remunerar o trabalho com o cuidado em sua totalidade?


Os links para as fontes citadas estão no primeiro comentário.

Autora:

Camila Borges é formada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas com Especialização em Economia Urbana e Gestão Pública. Atualmente trabalha com Comunicação em Marketing no setor da Saúde.

Jailton Lopes Ferreira

Processos | Projetos | Product Owner | Qualidade | MBA Projetos Ágeis

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Orgulhoso em conhecer a você e saber o quanto você é inquieta; busca a qualidade da informação não só pela informação!

Fernanda Martins

Service Designer | PM - Product Manager | PMO - Especialista em Inovação

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Yuri Ventura

Vitor Barros dos Santos

Diretor de Engenharia / Gerente Industrial / Gerente Manufatura / Gerente Manutenção

3 a

Parabéns Camila, artigo que estimula a reflexão do agora e o que fazermos com o "depois".

Claudia Leite, MSc

Chief Purpose Officer na HILO Estratégia e Propósito I Conselheira Consultiva Certificada I Palestrante

3 a

Parabéns pelo primeiro artigo Camila Borges ! Muito conteúdo relevante e esclarecedor! Esperando os próximos!!!!

Natasha Lavinski

Consultora | DISC | Método | Trainer Corporativo | Gestão de Pessoas | Experiência do cliente | Cultura | Palestrante

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Excelente texto e leveza na explanação das informações. Espero que seja o primeiro de muitos que ainda virão! 👏

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