Energia Solar como Fonte de Receita para a Agricultura Familiar

Energia Solar como Fonte de Receita para a Agricultura Familiar

Por Daniel Lima - ECOnomista

A energia solar é uma fonte limpa que pode trazer muitos benefícios para a agricultura familiar, tornando-se uma opção cada vez mais viável para a produção agrícola sustentável.

Vantagens da Energia Solar na Agricultura Familiar

 Uma das principais vantagens é a redução de custos com energia elétrica. A energia solar pode gerar eletricidade suficiente para suprir as necessidades da propriedade rural e ainda servir como uma fonte adicional de receita se implantada como atividade produtiva. Isso pode representar um incremento significativo no orçamento familiar.

Além dos benefícios econômicos, a energia solar é benéfica para o meio ambiente, pois não emite gases poluentes e não contribui para o aquecimento global. Como atividade produtiva, pode ser uma grande aliada ao desenvolvimento local, aumentando a resiliência e a permanência no meio rural frente às mudanças climáticas.

O aumento da irradiação solar, previsto como um efeito extremo, contribui para a geração de energia solar durante todo o ano, sem entressafras e sem necessidade de novos plantios ou irrigação.

Desafios da Implementação da Energia Solar na Agricultura Familiar

Apesar das vantagens, a implementação da energia solar enfrenta desafios, principalmente o capital necessário para o investimento inicial.

Recentemente, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado emitiu parecer favorável ao Projeto de Lei n° 2647, de 2022, já aprovado na Câmara Federal. O objetivo é incentivar a aquisição de equipamentos que utilizem energia solar, eólica ou biomassa, por meio de linhas de crédito diferenciadas, especialmente para a agricultura familiar.

O PL, que está na Comissão de Serviços de Infraestrutura, recebeu emenda da Senadora Rosana Martinelli, propondo que as linhas de crédito diferenciadas possam ser, inclusive, através do Pronaf, abrangendo também a aquisição de sistemas de armazenamento de energia, captação, transporte e tratamento de água, especificamente para atividades de geração de renda em assentamentos rurais, comunidades tradicionais, quilombolas e aldeias indígenas. Essa iniciativa é um passo importante para tornar a energia fotovoltaica uma opção viável e acessível para a agricultura familiar no país.


Impactos da Mudança no Clima

Mudanças Climáticas e Seus Efeitos no Meio Rural

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios globais da atualidade, afetando diversos setores, incluindo o meio rural. As mudanças climáticas referem-se a alterações significativas e duradouras nos padrões climáticos globais e regionais. Esses fenômenos são impulsionados principalmente pelas atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento.

Impactos na Agricultura

A agricultura é altamente vulnerável às mudanças climáticas. As principais consequências incluem:

Alterações na Disponibilidade de Água - a variabilidade na precipitação pode levar a secas prolongadas ou inundações, afetando a irrigação e a produtividade das culturas.

Aumento da Temperatura - temperaturas mais altas podem reduzir a produtividade das culturas e aumentar a evapotranspiração, exigindo mais água para irrigação.

Eventos Climáticos Extremos - a frequência e a intensidade de eventos como tempestades, geadas e ondas de calor têm aumentado, causando danos diretos às plantações.

Impactos na Pecuária

A pecuária também sofre com as mudanças climáticas:

Estresse Térmico - animais expostos a altas temperaturas podem sofrer estresse térmico, reduzindo a produção de leite e carne.

Disponibilidade de Pastagem - mudanças nos padrões de precipitação afetam a disponibilidade e a qualidade das pastagens, impactando a alimentação dos animais.

Impactos nas Comunidades Rurais

As comunidades rurais enfrentam desafios adicionais devido às mudanças climáticas:

Segurança Alimentar - a redução na produtividade agrícola pode levar à insegurança alimentar, afetando tanto os agricultores quanto a população em geral.

Economia Rural - a dependência da agricultura e da pecuária torna as economias rurais vulneráveis às variações climáticas, afetando a renda e o emprego.

Medidas de Adaptação

Para mitigar os impactos das mudanças climáticas, várias medidas de adaptação podem ser adotadas:

Tecnologias de Irrigação Eficientes - implementar sistemas de irrigação que economizem água e aumentem a eficiência.

Culturas Resilientes - desenvolver e plantar variedades de culturas mais resistentes a condições climáticas extremas.

Gestão Sustentável de Pastagens - adotar práticas de manejo que preservem a qualidade das pastagens e garantam a alimentação adequada dos animais.

Diversificação de atividades produtivas - aproveitamento de áreas ociosas na propriedade para implantação de outros negócios, como exemplo, geração de energia solar para comercialização ou locação de ativos.

As mudanças climáticas têm efeitos profundos e variados no meio rural. A adaptação e a mitigação são essenciais para garantir a sustentabilidade da agricultura e da pecuária, bem como a resiliência das comunidades rurais.


Conselho de Política Energética de Alagoas

A Urgência de Políticas e Ações Eficazes

A agricultura familiar é vital para a produção de alimentos, — os agricultores familiares do Brasil juntos e se formassem um país, seria o oitavo maior produtor de alimentos do mundo — é também uma das atividades mais vulneráveis às mudanças climáticas. Dependendo diretamente de recursos naturais como água, solo e biodiversidade, além de um regime climático estável, essa atividade enfrenta um risco crescente.

À medida que os eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes, o setor agropecuário e o sistema agroalimentar brasileiro, responsável por colocar comida na mesa de milhões, se mostram fundamentais nas estratégias de adaptação climática. A resiliência desse setor é essencial para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade no longo prazo.

O Desafio Brasileiro

Ironia do destino, o Brasil um dos maiores produtores mundiais de alimentos — a agricultura familiar corresponde a cerca de 77% dos estabelecimentos agropecuários do país, com aproximadamente 3.9 milhões de propriedades que ocupam 81 milhões de hectares — é, também, responsável por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa devido a processos produtivos e tecnologias ineficientes.

O Brasil, enfrenta o desafio de adaptar suas práticas agrícolas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Um exemplo claro dessa necessidade é garantir que o Plano Safra da Agricultura Familiar financie modelos e práticas sustentáveis como, por exemplo, a utilização da energia solar no processo produtivo e como atividade produtiva da propriedade. Isso implica um esforço coordenado para transformar a agropecuária familiar em um setor mais resiliente e mais adaptado aos efeitos extremos.

Medidas de Adaptação

Outra oportunidade crucial para o Brasil é detalhar as medidas de adaptação necessárias e seu custo, considerando o zoneamento de riscos climáticos já existente no país. Essa abordagem permitiria uma alocação mais eficiente dos recursos e o desenvolvimento de estratégias específicas (programas e projetos) para cada região, levando em conta suas particularidades climáticas e ambientais.

A Importância da Ação Conjunta

Para enfrentar esses desafios, é imprescindível a colaboração entre setores públicos e privados. Políticas públicas eficazes, aliadas a investimentos privados em modelos de gestão sustentáveis e práticas agrícolas inovadoras, são essenciais para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor agropecuário.

A agricultura familiar, responsável por grande parte da produção de alimentos no Brasil, está em perigo diante das mudanças climáticas. Consertar ou destravar as políticas e ações, é uma necessidade urgente. Apenas com um esforço conjunto e coordenado será possível garantir um futuro sustentável para a agropecuária brasileira e, consequentemente, para a segurança alimentar de milhões de brasileiros.


Financiamento Rural: O Que é Preciso Mudar para Apoiar Pequenos Produtores

Uma análise sobre o financiamento rural, especialmente voltado ao pequeno produtor e ao agricultor familiar, revela diversas incertezas e desafios que precisam ser urgentemente abordados.

Desafios do Financiamento Rural

Mudanças Climáticas: A imprevisibilidade do clima pode reduzir a produtividade, aumentar os custos e levar os produtores ao endividamento. Medidas de adaptação e incentivo a novas práticas produtivas alinhadas a essa nova realidade são imprescindíveis.

Imprevisibilidade nos Preços: A variação nos preços afeta sobremaneira os produtores rurais. As incertezas das safras (quantidade, qualidade e localidade) alteram os preços dos produtos agrícolas, impactando o retorno esperado.

Insegurança na Comercialização: Sem contratos de venda antecipados ou estocagem adequada, a comercialização da produção do pequeno produtor rural ocorre no momento da colheita e pode sofrer consequências negativas diante de situações inesperadas do mercado, comprometendo o retorno do negócio e o pagamento dos compromissos assumidos.

Capacidade de Endividamento: Sem contratos de fornecimento com recebíveis garantidos, o pequeno produtor rural enfrenta condições de financiamento cada vez mais restritivas. A incapacidade de financiar a nova safra gera um ciclo perverso de endividamento.

Atualização da Regulação do Crédito Agrícola

As normas reguladoras do crédito rural, estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, precisam ser atualizadas. É necessário ampliar as possibilidades de negócios financiáveis em uma propriedade rural, como a geração de energia limpa em áreas não propícias para atividades agropecuárias.

Um empreendimento solar, por exemplo, gera receita durante os 12 meses do ano com segurança, previsibilidade e baixos riscos, além de permitir a venda da produção ou a locação do empreendimento para terceiros, possibilitando contratos de longo prazo e fortalecendo a capacidade de endividamento do produtor.

Medidas Necessárias

Incentivo para o Agro Sustentável: Adotar uma agenda ESG.

Acesso ao Seguro Agrícola: Prevenir e recuperar perdas financeiras causadas por eventos climáticos.

Diversificação do Financiamento: Permitir acesso a novos modelos de produção e negócios.

Agilidade na Concessão de Crédito: Aumentar a eficiência do processo.

Sobre o autor:

Daniel Lima é Presidente da Associação Nordestina de Energia Solar - ANESOLAR, Vice-presidente da Associação Brasileira de Armazenamento de Energia - ARMAZENE e Diretor Institucional da Agrosolar Investimentos Sustentáveis.


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