Ensino Superior e sociedade, que envolvimento?
Trabalhando em qualidade no ensino superior foi-me lançado o desafio de encontrar uma forma de avaliar o envolvimento com a sociedade na instituição em que trabalho - (atenção que pelas suas características é algo difícil de fazer).
Não foi evidente no princípio por várias razões.
Porque estas minhas funções são recentes, porque há muitos equívocos sobre o que é afinal esta relação/envolvimento com a sociedade e porque não existem muitas metodologias (apoiei-me sobretudo em dois projetos de referência na Europa – TEFCE/ SHEFCE: Steering Higher education for Community engagement e E3M - European indicators and ranking methodology for university third mission).
Não há muitas propostas metodologias mesmo quando abundam já há alguns anos reflexões sobre a importância desta relação cívica, bem como extensa literatura acerca dela. Existem aliás redes que se focam justamente no que pode ser a resposta das Instituições de ensino superior a grandes desafios sociais (por exemplo a rede GUNI muito orientada para os ODS).
É compreensível porque o envolvimento é multifacetado, depende da instituição e tipo de cursos que oferece, depende da sua dimensão e da sua localização geográfica. Não poderá, portanto, existir uma metodologia standard, se bem que se podem adoptar conceitos comuns.
Que as instituições de ensino superior sempre suportaram o desenvolvimento social e económico e bem-estar das comunidades e que não se limitam ao ensino-aprendizagem e desenvolvimento científico, todos sabemos. Mas, enfim, é daquelas coisas bonitas de se dizerem, mas pouco específicas e por cá pouco desenvolvidas.
Ideias que vou retendo enquanto avanço neste trabalho:
• a expressão Terceira Missão, não faz sentido, é de natureza compartimentada, sobretudo quando se atém só no impacto económico. Na verdade, quando o envolvimento social está fortemente expresso nos planos da instituição acaba por ser indissociável das convencionais missões de ensino, aprendizagem e investigação;
• é fundamental mudar o foco do impacto económico (é-lhe dada a maior atenção em instituições de cariz mais regional e longe de grandes centros urbanos) ou do contributo para a produtividade e inovação (relação com as empresas, que não é má em toda a linha, mas tende a ser também daquelas expressões e intenções na moda e apregoadas sem substância de fundo). A relação com a sociedade vai muito além das estafadas expressões: capital humano, inovação e transferência de conhecimento e impacto económico. Nesta relação deve-se assumir, além disso, a responsabilidade no fortalecimento dos valores democráticos e envolvimento cívico, na proposta de políticas públicas e abordagem a desafios sociais, culturais e ambientais junto das comunidades;
• a pandemia mostrou, e agora a guerra na Europa, bem como a crise climática e ambiental, as migrações, o envelhecimento da população, o aumento da desigualdade, a menor coesão social, o aumento da desconfiança em relação às instituições políticas e o surgimento de movimentos populistas antidemocráticos, ser evidente que tem de haver um assumido envolvimento social das instituições de ensino superior que vá muito além da transferência de conhecimento (que aliás deveria ser troca);
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• as instituições de ensino superior devem ser lugares de cidadania plena. Não podem sequer ser lugares inócuos e apolíticos e devem trazer as comunidades para dentro de si.
• há alguns exemplos disto no nosso país, contudo não me parece ser algo interiorizado, tão pouco generalizado e expresso nas estratégias (essa outra palavra tão gasta de boas intenções) ou missão na maior parte das Instituições.
Ao fim de tudo isto, corro eu também o risco de estar só para aqui a dizer umas coisas bonitas.
A ver vamos. Para já está ser um trabalho muito interessante.
Vejam mais sobre isto aqui: