A ERA DOS EXTREMOS: enfim, a hipocrisia.
Em épocas de dicotomias e polarizações, as contradições proliferam-se sem serem percebidas. E esse parece ser um bom termômetro para que as pessoas venham a se condicionar a parâmetros menos virulentos na vida cotidiana.
Faço referência à grande obra de Eric Hobsbawm no título não por querer empreender uma análise minuciosa, contundente e exaustiva da obra do historiador, mas porque parece que o título da obra reflete bem os pensamentos e sentimentos vividos nos dias atuais na sociedade brasileira.
Eu tenho visto, comumente, generais, capitães, sargentos e demais autoridades militares, autoridades criadas na diligência da ordem, do respeito, da obediência e das armas, reclamando e fazendo voz contra as políticas do atual presidente da república. Dizem eles que o chefe do Executivo federal não está fazendo aquilo que deveria prestar como serviço ao povo brasileiro. Ou seja, consideram-no um traidor daquilo que foi o seu pilar para a eleição: a ordem, a lei, a Constituição brasileira. Pois bem: se o presidente não presta um serviço, então é um desserviço. Assim, os “parentes”, os correligionários viram párias: aqueles que deveriam apostar nele tornaram-se dissidentes, revoltosos, insurgentes, o que cria um inegável clima de animosidade dentro das esferas governamentais e reflete-se no comportamento do povo, sugerindo a manutenção de uma dicotomia, de um maniqueísmo, de uma polarização ainda maior do que a que nós já temos.
Por outro lado, eu observo pessoas que se dizem liberais, dispostas à diversidade, respeitosas e coisa e tal rechaçando com palavras nada elogiosas o senhor Djavan Caetano Viana, mais conhecido apenas por Djavan – um dos maiores nomes não só da música brasileira, mas mundial –, por ele ter proferido algumas palavras em que relativizava as circunstâncias atuais e mostrava alguma pendência a acreditar que o atual governo poderia dar certo. E não são poucas pessoas: são artistas tanto quanto ele; são músicos tanto quanto ele; são fulanos e beltranos que vivem da arte tanto quanto ele.
Assim, percebe-se o seguinte:
1 – temos uma Direita neoliberal e armamentista que reclama das práticas de um presidente ex-militar e privatizador – o que aponta (perdoem o gracejo) para um “tiro no pé”, pois não avalizam as opiniões, propostas e decisões de um igual em que votaram;
2 – temos uma Esquerda que se opõe aos governos autoritários, mas que não respeita a democracia, acreditando que a expressão das opiniões não é legítima e, por conseguinte, não é digna de respeito – o que mostra que há uma Esquerda tão autoritária quanto os governos que diz combater.
Até quando acreditaremos que essa polarização vai realmente fazer bem ao país? Até quando pensaremos que “bater de frente” é o melhor remédio? Até quando fortaleceremos a ideia de “olho por olho e dente por dente” sem pensar que isso deixa todo mundo cego e banguela? Até quando vamos manter a crença de que “chumbo trocado não dói”?
Segundo o senhor Eric Hobsbawn, há um período de “catástrofe”; há um de “anos dourados” e de “enamoramento”; e há um de “desmoronamento”.
Acredito que, desde antes de 1º de janeiro de 2019, nós tenhamos passado pelas duas fases anteriores e estejamos agora na terceira. Vamos reconstruir. Se as coisas já foram “desmoronadas”, nos apressemos a aprender a reedificar as paredes tão danificadas da nossa sociedade.
Pelas crianças e idosos. Por nós. Pelo país. Pela vida.
Professor Educação Física e Esportes
3 aUma análise rasa e típica de pessoas que buscam explicar o motivo pelo qual erraram. Assumam as suas escolhas, mudem ou evoluam para algo diferente. Só vi transferências de responsabilidade de todos os lados nessa análise. Esse é o grande problema com os formadores de opinião. Escolhem lados, levam "seguidores" consigo e quando percebem o erro, resolvem culpar todos.