A escolha pelo reverso

A escolha pelo reverso

Em outubro os brasileiros irão as urnas. É a oportunidade para a escolha dos seus representantes no executivo e legislativo. O exercício da democracia. Em princípio é o momento que o povo confere um mandato a um conjunto de indivíduos. Sim, em princípio, porque existem tantas variáveis condicionantes que verdadeiramente a voz do povo, na maior parte das situações, apenas reverbera os interesses dominantes. De qualquer forma, como dizia Wiston Churchill: A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais.


Sabendo disso temos que fazer nossas escolhas, acreditando no que o poeta Catãneda com sensibilidade enunciou: “O caminho se faz caminhando”. Mas, não será fácil. Será que temos um caminho? Não me parece que temos adiante nenhuma estrada razoavelmente pavimentada. Temos no máximo picadas, estradas esburacadas, repletas de curvas e desníveis íngremes e perigosos.

 

Nos fixemos apenas para facilitar a reflexão na escolha do principal timoneiro. O que temos hoje? Claro que com sorte, ou muita sorte, outras opções podem se apresentar. Porém, convenhamos, dado o sistema político que temos é algo muito pouco provável. Desse modo me parece sensato supor que o futuro timoneiro ou timoneira, para ser, como se quer hoje, politicamente correto, já se apresentou. Vamos a eles.

 

De um lado temos o atual. Troquemos, nesse caso, a função de timoneiro para capitão. Ele realizou um milagre: ressuscitou um morto. De modo semelhante a Aquele que despertou do sono eterno pela palavra, ele, também foi capaz de erguer da sepultura, quem dali nunca devia ter saído.  Nesse caso, as palavras vindas da incontinência verbal e a postura caótica capturaram para a vida o ser que repousava contrariado nos braços de Thánatos. Eis aí o milagre.

 

Do outro lado, temos evidentemente, o ressuscitado. Alguém julgado e condenado em duas instâncias. Mas, que graças a chicanas jurídicas está solto. Solto não porque tenha sido inocentado. Solto porque o julgamento foi anulado. Mas, como o que importa é a narrativa, a possibilidade conferida para disputar o lugar de timoneiro passa a ideia de inocência. Ou seja, comunica-se a ideia de uma vítima imolada por razões políticas. Nunca existiu um apartamento em cima de um poleiro ou um sítio perdido por aí. Tudo que foi apreciado em duas instâncias evaporou.

 

E no meio o que temos. Um candidato que é tão falso como uma nota de um dólar e meio. Se alguém o chama pelo nome ele titubeia. Pois, naquele exato momento tem dificuldade em saber qual é papel que está desempenhando. Se diz um gestor. Associa seu desempenho no setor privado, sabe-se lá como o fez, com sua capacidade na gestão da coisa pública. Gerir a coisa pública nada tem a haver com a maximização de resultados privados.

 

Nesse locus central se acumulam outras candidaturas. Temos o destemperado e os inexperientes. Destempero é um problema sério. Falar o que não deve. Os inexperientes temos ao menos dois com possibilidades: um homem e uma mulher. O homem que já teve dois bons empregos, agora precisa de um. Quem sabe ele não se saia tão mal. É capaz de conseguir dois empregos: um para ele e outro para a esposa. Há também uma candidata do sexo feminino a bordo do maior partido. É como um piloto que dispõe de um carro potente, mas que nunca dirigiu um carro de corridas. Algo que não se pode dizer inusitado.

 

Finalmente, como sempre, se apresentam os tais nanicos. Um deles pelo menos é figurinha carimbada. Está sempre presente como em um balcão de negócios. Ele e todos os a ele assemelhados se colocam na vitrine. O número de votos que conseguirem ao longo da campanha aumenta o valor do apoio.

 

Chegamos ao fim dessa breve explanação. Em princípio, novamente, em princípio, na democracia o povo escolhe quem deseja. Mas, pelo menos eu, vou me orientar de modo diferente. Eu vou escolher do seguinte modo: em quem eu não votaria? A escolha pelo reverso. Corro o risco de não ter ninguém em quem votar. Porém vai sobrar alguém, porque pior ainda seria votar nulo, pois o caminho se faz caminhando.

Que brilhante análise Cláudio, a sensatez e isenção que o tema merece. Parabéns!

Excelente matéria, Claudinho. Abraços

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