TRUMP E O POPULISMO

Os USA conseguem surpreender meio mundo de tempos a tempos, mas a surpresa é maior nos meios onde se desconhece o funcionamento da democracia americana.

Deixando de lado os meandros do sistema americano, interessa-me acima de tudo abordar este tema do ponto de vista de quem olha para as causas das coisas. E a primeira causa encontra mo-la em vários países, fruto da apropriação do sistema Estado pelos partidos, que todos sabemos serem essenciais em democracia. O problema é que esta causa primária do populismo e da boçalidade ser eleita, radica no facto evidente dos partidos passarem a olhar para os seus militantes e simpatizantes como o cerne da política e rapidamente esquecerem as populações às quais voltam em actos eleitorais, normalmente, de quatro em quatro anos. E este olhar para dentro e apenas isso, cria um sistema cliente lar e até mafioso que rapidamente é percebido como tal pela população que em anos sucessivos demonstra a sua aversão a este tipo de organizações fechadas através da abstenção. Os partidos após todos os actos eleitorais prometem abertura, mas como mentem constantemente e em tudo - bom, eles não mentem totalmente dizem meias verdades - de facto fecham-se sobre si mesmos e esperam mais uns anos e a coisa pode ser que convença e voltem ao poder, enquanto a democracia se esvai.

Portanto, quando alguém com os recursos suficientes se candidata a um órgão qualquer de poder, na base de um discurso anti-sistema, sabemos que pode ser eleito, porque o sistema está a funcionar apenas para uma minoria, logo a maioria pode rever-se num candidato assim. Temos em Portugal vários exemplos de personagens que aparecem a disputar o terreno dos partidos e ganham com um discurso anti partidos.

O que vemos os comentadores e políticos activos ou do passado fazer neste momento em que um anti-sistema ganha a presidência do USA? Apelar à reflexão, à calma, às virtudes europeias, a meter medo a tudo e todos, em vez de estarem a debater e a propor coisas para prevenir que um chauvinista qualquer, rico ou pobre, amanhã ganhe um lugar de poder, seja ele qual for. Por exemplo, todos sabemos que o maior grupo de deputados é constituído por licenciados em direito e dentro destes a maioria é advogado. Temos normas legais que impeçam um advogado de quando terminar o mandato de deputado, voltar à empresa de onde saiu? Não. Quem diz advogados diz outros quaisquer. Portanto, não temos transparência na casa da democracia. Logo, desconfiar dos deputados é normal e até saudável, face às circunstâncias. Por outro lado, os deputados são eleitos em nome do povo, mas nem o circulo eleitoral representam, porque de facto e de direito, apenas devem obediência aos dirigentes dos partidos. Portanto, não podemos sentir-nos representados por alguém que pode sempre alegar, que o problema que colocamos não foi tido em conta pelo partido ao qual o deputado pertence. Então, quando o povo não se sente representado vai votar? Não.

O nacionalismo é o refúgio dos canalhas, mas é o que vamos tendo, porque de facto canalhas há muitos. Assim, como devemos combater estes fenómenos? Em 1º lugar combater o lixo televisivo que temos e que no caso Trump tem um papel decisivo no dar a conhecer uma figura ao comum dos americanos. Como? Educando apara a liberdade e para responsabilidade. Como é que isso se faz? De pequenino é que se torce o pepino. Em segundo lugar, pressionar os partidos existentes a mudar a sua prática. Como? Criando/participando em movimentos de cidadania que façam sentir aos partidos que não estão sozinhos na disputa da atenção/reflexão das pessoas. Não há nada melhor para ameaçar os partidos do que a sensação do aparecimento de outros partidos e que podem retira-los de cena. Em terceiro lugar, divulgar ao máximo as redes sociais, porque só sabendo o que são é que é possível aprender a separar o trigo o joio. No fundo, mais educação anula o populismo. Sejamos educados.


Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos