Escolha as suas batalhas

Escolha as suas batalhas

É fácil falar de ética quando você não é beneficiado pela manobra. Li a frase em um post de uma colega jornalista no LinkedIn. Ela veio bem a calhar com algumas situações profissionais que vivi ao longo de 2017 e que reverberaram no começo do ano. Como especialista em comunicação corporativa, passei por algumas situações nada éticas e nem sempre foi fácil perceber a manobra. Isso porque quando estamos muito envolvidos em grandes projetos muitas vezes somos engolidos pelo dia a dia e podemos não nos perceber em situações conflitantes.

Exemplo clássico: vamos escrever para o governo defendendo veementemente a reforma da previdência ou qualquer outra questão em pauta nacional? Vamos criar conteúdo prós ou contra assuntos espinhosos que podem colaborar com uma operação de manobra da sociedade?

Você consegue desenvolver um planejamento estratégico de comunicação para um político que não acredita e que já é de conhecimento público a sua falta de caráter?

Algumas questões devem permear a linha mestra do trabalho e vivência. Não é uma questão de julgamento, mas de busca de princípios. Particularmente não me sentiria à vontade em fazer esse tipo de trabalho. Da mesma forma que não faria campanhas para marcas de cigarro. E olha que a indústria tabagista movimenta bilhões de dólares no mundo. Mas esse dinheiro não me cai bem.

Prezo pelo melhor trabalho para meu cliente. E isso muitas vezes significa escolher as próprias batalhas e abrir mão de outras que não importam.

Ainda de acordo com o livro Compliance 360 graus, riscos, estratégias, conflitos e vaidades no mundo corporativo: "Ética diz respeito a olhar para determinadas normas, valores, e comportamentos e julgá-los, analisando, em princípio, se essas normas e valores são contraditórios entre si e avaliando quais fazem mais sentido de serem aplicados em determinadas situações. Não se trata apenas de de expressar uma opinião sobre como as pessoas deveriam se comportar, mas de tentar identificar uma unidade nas diversas crenças morais". De acordo com os autores da obra, Ana Paula Pinho Candeloro, Maria Balbina Martins de Rizzo e Vinicius Pinho: "Traduzindo essa filosofia em termos práticos, ética significa estabelecer uma justificativa racional para as escolhas e comportamentos do grupo".

Vale lembrar, que é necessário restabelecer a credibilidade das empresas junto à sociedade como um todo, especialmente em um ano de eleições conturbadas como será a de 2018. As companhias públicas e privadas brasileiras devem se fortalecer com suas práticas íntegras de compliance dentro dos pilares de seus valores e missão para ajudar a retomada da credibilidade do país junto à nossa sociedade. Cabe ao cidadão brasileiro em qualquer área de atuação combater à corrupção e é responsabilidade das empresas estabelecer padrões, adotar as melhores práticas e mostrar diariamente que ser correto é o melhor.

Em tempo: ética segundo o Houaiss: 1. parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da existência das normas, valores, prescrições, e exortações presentes em qualquer realidade social; 2. conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou se uma sociedade.

Este meu artigo foi originalmente publicano no Portal da Revista Imprensa no dia 08 de fevereiro de 2018. Leia aqui.

Daniela Barbará

planejamento de comunicação, profissional de comunicação, diretora executiva, diretora de contas, gerenciamento de crise, conteúdo, jornalista, palestrante, professora convidada

5 a

É preciso acreditar no projecto para fazer bem o trabalho. Sem ética não há cumplicidade.

Alexandre de Oliveira

Jornalista - Coordenador de Comunicação no Sindicato dos Servidores públicos - SISPUMI

6 a

Perfeito Daniela. Parabéns pelo texto e pertinência da mensagem.

Trata-se de uma espécie de vacância na consciência individual onde as pessoas não tem certeza do como do que ou sobre o que como pessoa, individuo ou ser social diante as transformações e/ou situações que o mundo lhes apresenta diante o meio que habita frequenta ou convive sazonalmente. É como se cada um se perdesse no que deseja estabelecendo um confronto com o que realmente quer e/ou precisa.

Cara Daniela, tem toda razão quando diz que não se pode trabalhar para um político no qual não se acredita. Eu não acredito em nenhum, mas não se trata dos políticos e sim do Estado. Somente atos justos geram justiça e o Estado não "comete" atos justos. Simplesmente defende os interesses de quem o comanda. E não se pode barganhar com ele, pois sua moeda é o poder e ele mesmo as cunha. Servir ao Estado é não servir à sociedade, não servir à humanidade, não servir à verdade. Pelo menos é como eu vejo as coisas atualmente. Perdão pelo pessimismo.

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