Escrevendo a nossa história

Escrevendo a nossa história

"𝑨𝒕é 𝒂 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒇𝒓𝒂𝒄𝒂 𝒕𝒊𝒏𝒕𝒂 é 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒇𝒐𝒓𝒕𝒆 𝒒𝒖𝒆 𝒂 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒑𝒐𝒅𝒆𝒓𝒐𝒔𝒂 𝒎𝒆𝒎ó𝒓𝒊𝒂."

Estamos em maio de 2020 bem no meio, espero, da pandemia Covid-19 que está assolando toda a forma de vida moderna que a humanidade cunhou e entendia como normal. Completamos 60 dias desde o início das medidas de isolamento social adotadas pela nossa empresa, em tempo algum quando planejamos carinhosamente o ano de 2020 como um ano de mudanças e melhorias para toda nossa comunidade, imaginamos estar em situação tão inédita e desafiadora como esta que estamos vivendo.

Saímos na frente em muitas medidas de mitigação de riscos em relação a maioria, não vou me esquecer tão cedo de uma reunião que fizemos em 16 de março, onde chamei para uma reunião extraordinária as três principais pessoas que compõem o núcleo reduzido do nosso primeiro time de gestão da empresa, logo ao sentar uma delas olhou para mim e disse “Você não vai falar de Coronavírus não, né!”, e eu respondi prontamente sim, este é o assunto!. Naquele momento as manchetes dos jornais já estavam contando as histórias da Itália e China, mas aparentemente a crise ainda era distante, afinal estava em outros continentes. Mas já sentíamos que era o momento de começar a agir pensando na saúde das pessoas e da empresa, e assim começou todo um plano de contingência.

Ocupando a posição mais solitária da empresa, cada dia era uma surpresa, em tempo algum eu tinha experimentado a necessidade de tomar e executar tantas decisões e encontrar soluções para problemas inéditos com um espaço tão curto de tempo antes, afinal, neste contexto não existia benchmark e deliberações que antes levariam semanas ou meses precisaram ser realizadas em horas, muita intuição e feeling foram necessários para equilibrar a preocupação primordial com a saúde de todas as vidas que de alguma forma são impactadas pela Tecmach e ao mesmo tempo, ter que criar e executar planos que protegessem a continuidade do nosso negócio, já sentindo que uma segunda grande onda de impacto social viria, a econômica, e sabendo que em segundo lugar o que garante a saúde das pessoas é o trabalho, que gera os recursos financeiros para manutenção da sobrevivência. Porque mesmo com o mundo revirado, ainda não aprendemos a nos alimentar do sol.

Se estamos aqui contando esta história, é porque a maior parte das decisões foram certas, entre as milhares de reflexões que tenho praticado diariamente, a que traz mais gratidão e sentido ao meu propósito é saber que no trabalho todo o esforço e implantações está dando certo até este momento, porque tenho um time ao meu lado impecável. Em 2020 completo quatro anos de dedicação pessoal em desenvolver pessoas chaves de alto impacto, especialmente o núcleo reduzido do time de gestão da empresa, e este momento serviu como a formatura destas pessoas e merecem o primeiro obrigado deste registro, gratidão por estarem comigo! Vocês são sem dúvida a melhor versão de todas as Tecmach´s. Para quem acredita que a melhor fase da vida começa nos 30, temos mais um exemplo real nesta empresa prestes a completar três décadas.

Logo no primeiro mês de isolamento social, filosofando com uma pessoa importante e que me influencia muito, defini: “Nossa que legal que estamos vivendo isso, este momento!”. Depois da cara perplexa e quase me excluir da sua agenda do celular por eu ter usado a expressão “que legal”, expliquei: Estamos vivendo a história, respirando e fazendo parte de um momento que as próximas gerações irão estudar em seus livros (ou imersas em mundos de realidade virtual não sei) assim como nós estudamos sobre as grandes guerras, peste negra, crise de 1929 e atentados de 11/9. As próximas gerações vão também querer saber e imaginar como foi viver esta época, como o mundo se transformou tão aceleradamente e a vida continuou, sim a vida vai continuar, como foram as decisões, os porquês e quem as conduziu. E o segundo obrigado é para todos os “quens” que estão transformando do mundo e aos Essencials.

Penso que evoluímos como sociedade humanizada mais de 10 anos nos últimos sessenta dias. Como excêntrico otimista realista, consigo neste momento ver coisas boas no meio de tantas ruins, olhar também a metade cheia do copo e não só a vazia, e registro e compartilho algumas para não deixar o tempo apagar. Vivendo em São Paulo ver o céu limpo novamente com cor azul e não cinza durante o dia e estrelas a noite, é bom. Não passar 3 horas por dia no trânsito, é bom. Ver que as opções de Home Office e Home Student estão funcionando, é ótimo. Porque isso se conecta e projeta um futuro possível, onde o céu pode continuar limpo e o trânsito se reduzir enormemente traduzindo tempo de deslocamento em qualidade de vida. Ver que estamos unidos a uma empresa com pessoas competentes que está conseguindo manter a maioria dos empregos e cuidar das pessoas é ótimo. Incentivar e acompanhar muitas pessoas estudando e se preparando para futuro aproveitando o tempo que não é mais gasto em deslocamento é legal.

Aqui uma pausa, ainda no início de 2019 começamos um piloto de trabalho em modelo Home Office com uma pessoa sênior da empresa, na conversa inicial falei que era possível num futuro não muito distante as empresas deixarem de ter estrutura física de escritório. Mesmo sendo sênior esta pessoa cética ainda me olhou com uma cara do tipo “este cara é louco!” mas topou o início da experiencia e logo sua qualidade de vida e produtividade melhoraram. Passados estes últimos 60 dias o que dizer, é possível? Teve que ser possível e funciona! Não acredito que será 100% assim ainda no futuro de médio prazo, mas certamente a prática será bem maior que no passado, funções nunca pensadas neste modelo estão funcionando, então por que não?

Acompanhar pelo mundo todo esta fase que estamos iniciando de reabertura, é muito legal, ver na prática muitas teorias que antes pertenciam somente ao mundo acadêmico sobre mobilidade, redução de tráfego, acompanhar a disseminação em massa da cultura minimalista é muito legal. Conheço já algumas dezenas de pessoas que se deram conta de quanto de consumo desnecessário era feito em suas vidas pessoais e hoje, percebem dentro do isolamento social as verdadeiras prioridades de sua existência: Saúde, família, comida, espiritualidade e que irão definir um novo padrão mais sustentável de consumo, que claro, impactará na economia, mas de uma maneira que espero seja boa, onde possamos sim trabalhar menos, consumir menos e ganhar menos. Acredito que esta parada serviu para nivelar novamente os pratos da balança que definem o que desejamos e o que precisamos de verdade.

No último final semana tive uma cognição muito legal do momento. Fui ao mercado! Todo aquele ritual que boa parte está seguindo, coloquei o sapato que não entra em casa, a roupa que já poderia ser retirada assim que voltasse, tubo de álcool gel no carro, máscara no rosto (quase uma preparação para visitar a lua) e fui. Ao entrar no mercado está cheio, filas nos caixas, muitas pessoas com seus carrinhos pelos corredores, mas ao levantar o olhar senti profundamente que todos somos iguais. Todos os rostos estavam encobertos pelas máscaras, apenas a parte mais expressiva do corpo de fora, os olhos, e todos os olhares se trocando fazendo centenas de conexões silenciosas entre as pessoas. Uma sensação de profunda cumplicidade entre estranhos de uma forma silenciosa, mas que de verdade, a muito tempo não percebia na sociedade corrida de antes da pandemia, espero que este sentimento dure muito em todos.

Entre os milhões de coisas que estamos lendo nas redes sociais, sim todos estamos, uma triste, mas infelizmente verdadeira definiu: “Não estamos no mesmo barco, estamos na mesma tempestade, mas em barcos diferentes.”.  No lado não legal deste período isso também ficou evidente, conheço algumas poucas pessoas que simplesmente se trancaram eu seu mundo de luxo e fantasia, ainda querendo que a empregada faça sua comida e limpe sua casa, que o motoboy traga suas compras e que seus subalternos gerem valor para manter sua aparência, e ignoraram qualquer foram de ajudar e de fazer parte da transformação que o mundo exige neste momento, estas pessoas que potencializaram a ganancia e egoísmo também reforçam o lado da humanidade que não precisaria passar para próxima fase, neste grupo ainda incluo os políticos do nosso país, porque é decepcionante abrir os jornais e ver notícias sobre política ao invés de manchetes sobre cuidados com a saúde e economia, mas isso faz parte e também é legal, porque trouxe mais clareza do lado de quem queremos estar no mundo novo que está logo a frente.

Do lado pessoal sigo admirando a rápida adaptação dos meus filhos a este contexto, estudando remotamente, encontrando os amigos via Zoom, Teams e afins. Eles estão na geração de aceitação mais rápida a mudanças. Na teoria precisamos de apenas 21 dias para criar um hábito, passados 60 dias me pego sempre pensando se eles conseguiriam voltar ao “antigo normal” de acordar antes das seis da manhã e ficar em uma sala de aula por horas. Desejo que sim porque sigo acreditando que a vida em sociedade na fase de formação é muito útil para construção de um indivíduo integrado, mas de verdade o novo normal ainda é um mistério.

No dia 30 de abril tive o primeiro contato real com a doença, eram 04:00 da manhã e eu estava saindo do hospital geral de Itapevi após finalizar os procedimentos da internação do meu pai, daquele ponto em diante já sabia que não poderia mas vê-lo e começou a parte mais angustiante da espera de dias. Incluído no grupo de total risco por ser idoso, obeso, diabético e tabagista por mais de 40 anos as estatísticas sinalizam desafios a frente.  Sem plano de saúde fizemos todo o procedimento pelo SUS, e como foi admirável o atendimento! Ele fez a entrada pelo Pronto Socorro de Santana de Parnaíba as 22:00 e após a triagem, exames inclusive de ressonância, foi transportado de ambulância e internado seis horas depois. Impecável o atendimento público de saúde nestas cidades, e aqui o terceiro obrigado é para todos os profissionais de saúde, e todos que de alguma forma estão trabalhando para que tudo isso funcione e salve vidas na linha de frente, Essencials!. Por fim, ele saiu do hospital após seis dias e conclui o tratamento em quarentena isolado em casa, e após 15 dias os riscos já são mais baixos.

Para o futuro, não encontro certeza alguma, apenas desejos após todo este aprendizado. Desejo que esta humanização se estenda por muito tempo, que as pessoas levem adiante o sentimento que somos iguais biologicamente e mais fortes juntos, que as regras quando definidas são sempre para o bem maior, que todos nós percebemos que não devemos mais consumir tanta coisa da China só porque é barato e que devemos consumir de onde se gera valor que retorna para nossa sociedade próxima, que todos percebam o bem que estamos fazendo ao meio ambiente com esta redução de emissões de CO2, que todos percebam que saúde, educação e trabalho são muito mais importantes e política é ridiculamente menor e menos importante.

Vejo um novo normal baseado em tecnologia, afinal depois deste novo hábito quem precisa viajar para uma reunião de negócios? O que justificaria isso no futuro depois da avalanche reuniões virtuais que estamos fazendo. Um exemplo enriquecedor foi acompanhar meu conselheiro se conectando virtualmente nas novas mídias diariamente, sempre disponível e se adaptando rapidamente ao mundo novo, assim o último obrigado vai para ele pela disponibilidade mesmo com todos os problemas que caíram em seu colo.

Desejo num futuro breve estar de volta fisicamente próximo de tudo que aquilo que nos afastamos para se afastar do vírus, invisível e silencioso, mas um dos meus maiores desejos para o “novo normal” é que a conexão e a preocupação real entre e com as pessoas não seja perdida, porque esta foi uma das conquistas positivas que o Coronavírus trouxe para o mundo e que a tempos estava perdendo a força para os rápidos mais gélidos “likes” das redes sociais e sua falsa proximidade.

#juntossomosmais #vamosvirarojogo

Este texto foi incorporado a um mini book com outras histórias de autores que espontaneamente concordaram em registrar este momento, num programa que criei na companhia para estimular a reflexão de nosso time em tempos desafiados, vale a leitura. Gostou da ideia de exercitar o poderoso processo de reflexão e redação, com o propósito de documentar o momento único? registre sua história e compartilhe nos comentários.


Alexandre de Castro Alves

Supervisor de Serviços de TI l Supervisor de Outsourcing | Gestão de Serviços | Gestão de Equipe |KPIs | BPO| ECM | MPS | ITILv3

4 a

A capacidade de tomar as decisões corretas, de crer no seu potencial de realizá-las e de trabalhar intensamente até conquistar suas metas é o que define sua vida.

Rosialine Roedel

Research Assistant / PhD Student

4 a

Adorei o texto Oswaldo, muitas reflexões! Vou pensar um pouco antes de deixar um comentário com histórias.... rsrsrs🧐🧐🧐🧐

Cristiano Coradi Ratis

Gerente Sênior de Relacionamento Corporate no Banco Bradesco

4 a

Nao sabia desse sua qualidade de escritor. Parabéns. Belo texto!

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