Escritas
Chá de constatação: em minhas formações em Letras pouco ou nada foi visto sobre métodos e processos de escrita.
Ah, estudei abordagens teóricas, fiz provas sobre e tive disciplinas no formato oficina, em que escrevíamos os textos e compartilhávamos com os colegas para críticas e impressões. Claro, tem as trocas e aprendizados reais da vida universitária: nos corredores, a caminho das aulas, um café entre os períodos. Tive épocas ousadas até, com saraus e publicações de diretório, concursos...
Mas e o criar? A discussão sobre os temas ali de cima?
Há tempos acompanho algumas conversas e um dos tópicos recorrentes continua sendo a escrita, em geral. Papos sobre métodos, processos, recursos, ferramentas, técnicas XYZ, a substituição da pessoas pelas máquinas...
Então. Para começar, é preciso entender que essa ideia da pessoa escritora com sua bebida, sozinha no escuro é uma construção, uma persona. Tem também a persona da redatora hipercriativa e atormentada das agências. A moça que escreve para as gavetas e um dia alguém descobre seu super talento. O escritor que recebe inspiração sobrenatural.
O problema não é a existência dessas personas, como muito vemos no cinema (e na vida). A questão é a omissão no estilo "não vamos falar sobre o Bruno".
Isso acaba gerando uma série de dúvidas em quem chega no mercado para trabalhar com escrita e arranja um emprego.
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De cara, precisamos aceitar o fato que o texto não é de quem cria. O texto é para alguém - ou alguéns. "Ah, mas eu sei disso, eu estudei no curso/videoaula/disciplina/faculdade XYZ que fala sobre autoria etc etc". Pois é, mas na hora de usar alinhamento centralizado porque se observou que a aceitação é melhor no Google Trends, é a mesma pessoa que pira. Ou não aceita que a gente flexiona gênero nas palavras porque né, vamos lá, não existem só aluNOS, mas sim estudantes.
Outra realidade: não se escreve estando só. Quem escreve dimensiona, organiza, produz - e compartilha com outras pessoas na empresa. Essas pessoas vão opinar, vão contribuir, vão participar nesse texto. Elas podem estar em níveis profissionais superiores ao que estamos mas nem sempre é assim e muitas vezes essas pessoas tem poder de decisão.
Nessa esteira do não estar sozinha, também me refiro ao físico. Em alguns casos se trabalha em um espaço compartilhado com pessoas que não escrevem. Quem é Tech Writer ainda tem o plus de ir atrás de devs, pessoas de engenharia e dependendo, passar um tempo junto delas.
Não se engane quem vai para o lado UX da Força: pesquisa sempre faz parte e nem vou comentar sobre o que significa no seu trabalho o "U" ali, por motivos óbvios.
Percebam, ninguém tem conhecer todas as técnicas, ferramentas e teorias para trabalhar. Mas é preciso, sim, ter uma visão do que se pratica e do que se espera de alguém na profissão. Da mesma forma, não embarcar em discurso empolgado que vende profissão X, salário milionário.
E pra fechar, uma verdade dura: estudar não tem fim. Quem disse que acaba, mentiu.
Aprender envolve muito mais do que apenas ter contato com materiais e teorias. Por isso, sem se restringir somente à escola, universidade, curso ou uma referência na área.
Vamos normalizar ir conversar com as pessoas que produzem para aprender com elas também? Uma das realizações desta que escreve aqui foi poder conversar com o autor que embasou todas as minhas pesquisas acadêmicas sobre jogos e outro dia, com uma pessoa referência em documentação técnica. Sem medo, ou com medo mesmo - o importante é ir!