O que muda na nossa vida quando começamos a escrever todos os dias
A primeira memória que tenho de escrever uma história remonta ao 3º ano de escolaridade. Meia dúzia de páginas sobre um grupo de adolescentes que ia passar uns dias de férias a uma casa no meio da floresta e cada um deles ia aparecendo morto, de formas diferentes, porque criatividade acima de tudo. Andava, provavelmente, a ver demasiados filmes de terror de série Z; no entanto, só alguns anos mais tarde descobri a paixão pela escrita, com um texto, também em contexto escolar, sobre o poder da escrita.
E, desde aí, passei por várias fases, até que, há algum tempo, decidi começar a escrever todos os dias, sem excepção. E percebi que é algo absolutamente essencial para quem quer dedicar a sua vida à escrita. Há coisas que mudam na nossa vida quando escrevemos todos os dias.
A nossa mente está constantemente a trabalhar
Se em períodos de férias ou de procrastinação a mente parece bloqueada, estagnada, quando começamos a escrever todos os dias quase podemos jurar ouvir as engrenagens da imaginação a trabalhar dentro da nossa mente. Como se o músculo da escrita estivesse constantemente a ser exercitado e a procurar histórias, personagens, ideias em tudo o quanto é sítio. E é um trabalho invisível que não nos cansa, nem nos causa transtorno. Poderíamos pedir melhor?
As ideias florescem e produzimos conhecimento
Ninguém pode assumir com certeza de onde vêm as ideias. Mas a verdade é que quando criamos rotinas e hábitos de escrita, forçando-nos a esse processo criativo, as ideias começam a florescer. Não são todas boas - e ainda bem – mas a verdade é que vão brotando, não sabemos bem de onde nem como. E a partir dessas ideias surgem outras e outras, num processo de multiplicação que só pára no infinito.
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É também no florescimento dessas ideias que começamos a produzir conhecimento. E, quando falo em produzir conhecimento, falo de darmos o nosso cunho pessoal e original a algo já existente. É uma ideia que me fascina. A maioria das coisas já foi dita, vezes sem conta. Mas nunca foi dita por nós. E quando oferecemos a nossa originalidade a um pensamento, relacionando-o com outro que, aparentemente, não se relaciona, produzimos conhecimento. Produzimos uma nova forma de olhar para o mundo.
Pensamos melhor, comunicamos melhor, conhecemo-nos melhor
Acho que a relação entre o escrever e o pensar melhor um facto consumado. Quando temos o hábito de escrever diariamente, começamos a conseguir organizar melhor os nossos pensamentos, porque, ao escrever, vemos o que pensamos. Afinal, escrever é uma tradução do pensamento para a nossa língua.
Conseguir observar o que pensamos permite-nos pensar melhor, porque nos familiarizamos com o nosso processo de pensamento. O que nos faz conhecermo-nos melhor, também. Vamos percebendo um padrão no que pensamos, vamos identificando aqueles pensamentos que aparecem mais vezes e não sabemos bem porquê. E, através da escrita, tomamos o controlo desse processo.
Acho mesmo que o acto de escrever diariamente, sobretudo em papel, melhora a nossa vida, sobretudo sem nos trazer qualquer tipo de prejuízo. E quando falo em escrever falo simplesmente na passagem das palavras para a folha em branco. Não me refiro à ficção, à poesia, ao conto. Refiro-me ao escrever, como arma poderosa para uma mente mais saudável e um auto-conhecimento mais profundo.