Escuta ativa: a importância de não julgar
Costumo dizer que a escuta ativa vai além do ouvir. Quando escutamos ativamente, estamos olhando, percebendo, sentindo.
O psicanalista Christian Dunker diz que a essência da comunicação é o mal-entendido e esta é uma imagem curiosa, porque revela nossa inabilidade de ouvir o outro.
O natural é que procuremos, na fala de nossos interlocutores, indícios que reforcem ou garantam nossos próprios pontos de vista. E nem o mais gabaritado dos comunicadores foge à regra, pois ela traduz o comportamento humano: valores se sobrepõem e refletem as particularidades de uma comunicação.
Isso explica por que o ato de escutar ativamente exige mais do que prestar atenção ao que é dito: muitas vezes, é no não dito que reside a verdadeira mensagem.
Há alguns dias, tive oportunidade de observar tudo isso em um treinamento. Discutíamos a importância da escuta ativa nas relações profissionais e o uso dessa forma de comunicação como uma ferramenta para diminuir o conflito, gerar empatia e ampliar o poder de persuasão.
Diante de um vídeo (estrategicamente) escolhido para o encontro, vimo-nos diante de um dilema: o que era dito soava absurdo e quem proferia tal absurdo era uma figura que poucos, ali, considerariam “idônea”.
Discordávamos, portanto, do que havia sido dito.
Mas... discordávamos porque tínhamos argumentos suficientemente sólidos para combater o que era dito ou discordávamos porque não compactuávamos com as posições ideológicas do emissor da tal mensagem?
Difícil definir.
O fato é que questões como o suposto caráter do emissor, atitudes do passado e uma imagem não muito positiva foram mais importantes na decisão do grupo do que, efetivamente, o teor da mensagem transmitida.
O nó se completou quando um texto (também estrategicamente selecionado) mostrou a mesma visão sob outra ótica e o “absurdo” que acabáramos de debater pôde ser observado segundo padrões lógicos de retórica e opinião.
Sim, continuávamos discordando – mas, agora, de forma menos emocionada, pois víamos um lado da questão que sequer fora percebido quando assistimos ao vídeo.
Veja só: quando abordado por uma figura “dissonante”, o tema não mereceu crédito; quando observado sob um ponto de vista que levava em consideração nossos valores e crenças, passou a ser considerado “razoável”.
Este foi, a meu ver, o grande aprendizado daquele encontro.
Porque tendemos a julgar nossos interlocutores a partir de uma perspectiva absolutamente particular: a mensagem que espero receber precisa refletir meus valores e, se isso não acontece, tendo a distorcê-la – segundo minhas percepções e de acordo com meus interesses.
Mais complicado ainda é quando a comunicação envolve pré-julgamentos: porque, nesse caso, não distorço mais a mensagem, mas a própria forma de recebê-la.
Quanto da minha habilidade de comunicação está voltada – realmente – ao outro? Até que ponto sou capaz de “ouvir sem julgar”?
Muito se fala sobre escuta ativa. Mas escutar ativamente é fruto de observação, treino, prática constante: um exercício de reflexão.
Decididamente, escutar de forma ativa não é uma tarefa simples. Por sorte, também não é impossível! Reflitamos.
Ajudante de Motorista | Auxiliar de Viagem | Manobrista | Transporte de Cargas e Passageiros | Logística
3 aMuito bom! Entendi que a escuta ativa se relaciona à observação, à reflexão... e sem pré-julgamentos. Veja, prezado Thomas Brieu.
Mentora de Lideranças e Habilidades Essenciais de Executivos | Governança Familiar | Conselheira | Comunicação & Transformação Organizacional | Palestrante
3 aObrigada pelo belo texto e pelas reflexões, Jeferson Mola! Concordo com vc..."escutar ativamente é fruto de observação, treino, prática constante: um exercício de reflexão",
Teacher na Centro Paula Souza
3 aÓtimas reflexões, Jeferson Mola!
Psicólogo, Psicoterapeuta, Terapeuta de Saúde Integrativa, Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho: Psicologia e Coach. CRTH-BR 13542 ABRATH.
3 aObrigado Jeferson Mola, por mais este estímulo, importante para estabelecer relações pessoais em todos os âmbitos da nossa vida. Acredito que a aceitação e empatia sejam fundamentais, porém, ao meu ver, é necessário uma preparação remota, anterior. Sabendo que vou escutar e me conectar com alguém, preciso preparar este momento. 1) Escutando a mim mesmo, como estou, o que me preocupa no momento, quais são as expectativas, conceitos prévios, o que pretendo... 2) Abrir e reservar um espaço para o outro, retirar tudo que possa atrapalhar, inclusive pré-coceitos e expectativas, para que a outra pessoa possa ser acolhida e se encontre sempre mais à vontade, é o que chamo de abertura - acolhedora. Acredito que esta seja a base par que se estabeleça a a escuta ativa, empática.
Trabalho de Campo
3 aUm esforço hein, quem gosta de falar muito e ouvir pouco, realmente perde a empatia e as oportunidades do diálogo um monólogo eu isso...eu aquilo... eu posso ...e eu só.... rsrsrsrsrsrsrs Parabéns pela matéria