Educa-dores

Educa-dores

Volto do treinamento satisfeito. Atender pessoas é um desafio e desafios são o que dão sentido a nossas vidas. Começamos falando de dores, terminamos propondo soluções.

Quando crio um programa de ensino, defino uma estratégia. Mas estratégias precisam ser constantemente revisadas: se não ficamos atentos, perdemos oportunidades. Nesse ponto, divago sobre minha primeira experiência em sala de aula e no quanto precisei estar atento, já que tudo que eu havia planejado de um jeito, acabou de outro.

Aqui, o plano rodou perfeitamente. A gente aprende com a experiência.

Três turmas falando de funções, papéis, responsabilidades. No primeiro dia, o caos; no segundo, a luz. "Ontem saí meio triste; estava incomodada. Hoje..." E nem precisou terminar a frase, porque os olhos brilhavam de contentamento. "Queria agradecer"; "foi diferente de tudo que eu já fiz".

Nem pensei que seria para tanto, mas a gerente quis saber quais seriam os possíveis desdobramentos de tema, dada a aceitação das plateias. Um novo projeto para o próximo semestre?

No fim de semana, já de volta, cruzamos com uma amiga querida na calçada. Retornávamos de um compromisso; ela seguia para o seu. Mas como não nos víssemos há bastante tempo, qualquer lugar era propício a um abraço e alguma conversa. E soubemos que Fulano e Beltrano haviam sido desligados; que as coisas andavam assim; que...

Nossa amiga não atuava mais nos cursos extras de esporte. Não porque tivessem sido terceirizados (já que sempre atuara como terceira, nessa seara), mas porque o propósito se transformara. Participar de um time, agora, só por peneira. O importante era a aptidão.

A gordinha que queria aprender futebol já não tinha vez. E, no basquete, o baixinho sempre seria preterido pelo altão.

"Naquela época" peneira era algo meio impensável. Mas, "naquela época", curso extra de esporte não tinha o objetivo de vencer campeonato. Podia-se ou não vencer, mas isto era irrelevante. Hoje, ganhar ou perder um jogo continua sendo uma circunstância, mas a mentalidade que se criou é que um curso extra de esporte passou a ser clube.

Nossa amiga frisou seu papel de educadora e por que não se sentia à vontade para assumir qualquer equipe nestes "novos tempos". Achei bonito. E, embora entenda que numa escola de elite tudo seja motivo para a próxima campanha de marketing, senti saudade "daqueles tempos" sem sequer os ter vivido.

Depois de nos despedirmos, fiquei pensando no que tanto me emocionara. Acho que teve a ver com minha experiência imersiva.

Num dos coffee breaks, alguém se espantou com minha memória para guardar nomes. E, antes que eu me manifestasse, outra emendou: "é porque o senhor olha pra gente de verdade".

Afora o fato de ter-me tratado por "senhor", o restante da fala dessa moça me calou. Sim: tento lembrar os nomes de todos e, para isso, olho para cada um "de verdade".

É natural que saibamos o nome daqueles alunos/participantes que se destacam. Mas gosto de entender as dores também das gordinhas e dos baixinhos. Considero fundamental saber quem são.

Penso que este é, de fato, o papel dos educa-dores.


Iva Santanna

Director Creation and Photography > Fashion | Beauty | Advertising | Lifestyle | Portrait | Corporate

1 m

EMPATIA... Você toca em questões que vão além do ensino técnico, como enxergar e valorizar as individualidades de todos. Isso cria uma conexão emocional. O impacto do feedback positivo reforça seu comprometimento e paixão pelo que faz...

Eu gostaria de lembrar nomes.. não consigo e me penitencio por isso! Note que sempre sei quem são as pessoas, só não sei seus nomes. O que me consola é que esquecer nomes é chato, mas trocar nomes, pode ser fatal!

Raquel Prado, MSc

Docente dos cursos de Marketing e Comunicação. Pesquisadora acadêmica e mercadológica. Empreendedora digital. Consultora de inovação para pequenos empreendedores

1 m

"Olhar pra gente de verdade " é tarefa complexa que exige atenção, empatia e respeito. Belo texto, bela reflexão, bela lição.

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