Especificação por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 4

Especificação por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 4


Valores de especificação e nomenclatura.

Já sabemos quais ensaios realizar em uma emulsão e no seu resíduo asfáltico. Agora precisamos de limites para os parâmetros desses ensaios de modo a termos uma especificação baseada em desempenho.

E também estabelecer quais os graus de desempenho desejados.

No caso dos ensaios na emulsão in natura, as tabelas abaixo resumem os ensaios e limites para Tratamentos Superficiais e MRAF.

Ensaios em emulsões para Tratamentos Superficiais

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Ensaios em emulsões para MRAF

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

No caso dos resíduos asfálticos, precisamos definir quais as temperaturas de pavimento a serem adotadas para os graus de desempenho.

O SUPERPAVE se baseia em temperaturas de pavimento. Os ligantes asfálticos precisam ter valores definidos de suas propriedades de modo a garantir que eles terão desempenho satisfatório dentro dos limites estabelecidos de temperatura de pavimento.

No caso da temperatura de desempenho superior, definiu-se a mesma como sendo a temperatura do revestimento asfáltico a 20 mm da superfície.

Mas esse critério não pode ser adotado no caso de emulsões para Tratamentos de Superfície, pois a maioria desses tratamentos possui espessura inferior a 20 mm. Neste caso, se convencionou adotar a própria temperatura da superfície. E essa temperatura é geralmente 3,9°C mais elevada que a adotada no SUPERPAVE.

Por conveniência, decidiu-se que o EPG (Emulsion Performance Grade) seria o PG mais 3°C, tanto no grau superior, quanto no inferior, apesar dessa correção não ser necessária neste último caso.

Assim, foram definidos os EPG superiores de 49, 55, 61, 67, 73 e 79 e inferiores de -7, -13, -19, -25, -31, -37, -43 e -49.

É preciso também definir níveis de tráfego. Tratamentos de Superfície são dosados para níveis de tráfego diferentes de misturas a quente.

O tráfego foi definido então em função da AADT – Média Anual de Veículos por Dia.

Tráfego Baixo: de 0 a 500 AADT

Tráfego Médio: de 501 a 2.500 AADT

Tráfego Alto: de 2.501 a 20.000 AADT

Como explicado na Parte 3, o parâmetro relacionado à exsudação e trilha de roda adotado foi o Jnr. O mesmo foi correlacionado aos resultados do MMLS3 conforme os gráficos abaixo, adotando-se como limites os valores de 80% de área exsudada e 5mm de afundamento de trilha de roda. Esses limites foram obtidos por correlação com o desempenho conhecido das emulsões aplicadas e da experiência com o simulador de tráfego, conforme os gráficos abaixo.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem
Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Os valores de especificação do Jnr para as emulsões de tratamentos superficiais e MRAF são os seguintes:

Para Tratamentos Superficiais

AASHTO T 350 – Na temperatura do EPG Superior

Non recoverable creep compliance, Jnr

Máx Jnr @ 3.2 kPa, 8 kPa^-1 (Tráfego baixo)

Máx Jnr @ 3.2 kPa, 5.5 kPa^-1 (tráfego médio)

Máx Jnr @ 3.2 kPa, 3.5 kPa^-1 (Tráfego alto)

Para MRAF

Non recoverable creep compliance, Jnr

Máx Jnr @ 3.2kPa, 5 kPa^-1 (Tráfego baixo)

Máx Jnr @ 3.2 kPa, 1.5 kPa^-1 (Tráfegos médio e alto)

E para a retenção de agregados nos tratamentos superficiais e trincamento térmico no MRAF, o parâmetro adotado foi o módulo complexo G* em um ângulo de fase crítico dependente do EPG inferior, relacionado à perda de agregados pelo Vialit (tratamentos superficiais) e à energia de fratura SENB (trincamento térmico no MRAF), cujas relações são mostradas nos gráficos abaixo.

Relação Vialit x G* no δc - Tratamentos Superficiais

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Relação Enegia de Fratura x G* no δc - MARF

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Da mesma forma que no caso dos limites para temperatura superior, os limites aqui também foram determinados com base no desempenho conhecido das emulsões aplicadas e da experiência com os ensaios. Os limites foram de 25% a 35% de perda de agregados para tratamentos superficiais (dependendo do tráfego) e de 0,01J de energia de fratura para o trincamento térmico do MRAF (que não depende do tráfego).

Para os tratamentos superficiais temos os seguintes limites de G*:

DSR – Varredura de Frequência/Temperatura, temperaturas 5°C e 15°C

Resposta medida: G* no ângulo de Fase crítico, δc

Máx. G* @ δc : 30 MPa (Tráfego baixo)

Máx. G* @ δc : 20 MPa (tráfego médio)

Máx. G* @ δc : 12 MPa (Tráfego alto)

O δc em função do EPG inferior é dado pela tabela abaixo:

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

E para o MRAF temos:

Resistência à Baixa Temperatura – Trincamento Térmico

DSR – Varredura de Frequência/Temperatura, temperaturas 5°C e 15°C

Resposta medida: G* no ângulo de Fase crítico, δc

Máx. G* @ δc : 16 Mpa

O δc em função do EPG inferior é dado pela tabela abaixo:

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Esses valores dos parâmetros no resíduo asfáltico, em conjunto com os parâmetros dos ensaios realizados na emulsão, mostrados no início do artigo compõem a proposta de especificação por desempenho para emulsões asfálticas apresentada como resultado final do NCHRP 09-50. Essa especificação está em processo de validação por um outro NCHRP, o 09-63. Os resultados devem estar disponíveis em 2023.

Agora já podemos definir uma nomenclatura para emulsões classificadas por desempenho.

Um exemplo seria:

CRS-EPG 67-19M

Onde:

CRS = Cationic Rapid Setting, ou emulsão catiônica de ruptura rápida - Aqui se descreve o tipo da emulsão com relação à carga de partícula (aniônica ou catiônica) e ao tipo de ruptura (rápida, média, lenta ou controlada)

EPG 67-19 – Grau de Desempenho de Emulsão (Emulsion Performance Grade) para temperaturas do revestimento entre 67°C e -19°C

M – Tráfego Médio

E assim termino essa pequena série. Espero que tenha consigo passar o conceito de especificação por desempenho para emulsões. Como no caso da especificação SUPERPAVE para ligantes a quente, a adoção do Grau EPG significa uma mudança de paradigma, difícil e trabalhosa, porém necessária para a melhor garantia da qualidade e durabilidade dos serviços de pavimentação.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Alexander Vivoni

  • O Poder da Propaganda

    O Poder da Propaganda

    Devo confessar que nunca fui muito fã de propaganda. Os intervalos comerciais sempre atrapalhavam os meus filmes e…

  • Carrinhos de supermercado: o teste decisivo de educação e civilidade.

    Carrinhos de supermercado: o teste decisivo de educação e civilidade.

    Aqui entre nós, quantas vezes você já abandonou o carrinho do mercado no meio do estacionamento? Devolver o carrinho no…

    1 comentário
  • Microrrevestimento, Micro-Revestimento ou Microrevestimento?

    Microrrevestimento, Micro-Revestimento ou Microrevestimento?

    Quando se trata da fantástica técnica de manutenção de pavimentos em referência, já vi seu nome escrito de diversas…

    3 comentários
  • Superando Limites?

    Superando Limites?

    Hoje ao caminhar vi uma senhora com uma camiseta dizendo "Eu supero meus limites." Algo como essa: Não posso deixar de…

  • Especificações por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 3

    Especificações por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 3

    Ensaios de Desempenho no Resíduo de uma Emulsão Muito bem, obtivemos o resíduo asfáltico de uma emulsão de acordo com a…

  • Especificação por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 2

    Especificação por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 2

    Obtenção do Resíduo de uma Emulsão. Um ligante asfáltico é fácil de ser amostrado de forma representativa, pois…

    6 comentários
  • Especificação por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 1

    Especificação por Desempenho de Emulsões Asfálticas - Parte 1

    Ensaios na emulsão Recentemente tive o privilégio de ser convidado a fazer uma apresentação no Workshop Virtual da Rede…

    6 comentários
  • Colored Asphalts

    Colored Asphalts

    After leaving Petrobras Distribuidora last year, I’m enjoying my now excessive free time and trying to revert decades…

    4 comentários
  • Asfaltos Coloridos

    Asfaltos Coloridos

    Após meu desligamento da BR distribuidora, estou aproveitando meu momento Ph.D.

    2 comentários
  • Asphalt: Refinery's Trash Can?

    Asphalt: Refinery's Trash Can?

    A few days ago, during an informal conversation, I heard that asphalt is “what’s left” from refining. I know the person…

    1 comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos