Essa é uma eleição que revela a ética pessoal de cada um. Uma eleição sobre princípios e valores. Quais são os seus?
Havia seis debates previstos para o Segundo Turno. Cinco deles já deviam ter acontecido. Na próxima sexta, dia 26, antevéspera do pleito, o último deles, na TV Globo, também será provavelmente metralhado por Bolsonaro.
Prestes a ser eleito, Bolsonaro terá sido o primeiro presidente a não se explicar num confronto direto com seu adversário. Um gesto claro de como serão os tempos daqui para frente em termos de transparência e de prestação de contas do governo à sociedade.
Bolsonaro criou uma realidade paralela. E tudo que não couber nela, nesse delírio de ultradireita que a tantos está seduzindo, não tem valor, não expressa a verdade, é falso, retirado do contexto, e deve ser varrido, expulso, escorraçado do nosso convívio e da nossa consideração, por ser coisa de comunista, de esquerdista, de petista. (Da bandeira do Japão no Senado Federal – lembram? – ao jornalismo da TV Globo e da Folha de S.Paulo.)
Participar de um debate não é questão de valentia – mas de respeito ao eleitor. E não se combate a corrupção com bravatas e coices – mas com transparência e prestação de contas.
Esse é (mais) um gesto claro de que Bolsonaro não está nem aí para a democracia. Num país civilizado, esse beiço seria impensável. O sujeito perderia a eleição aí, por se negar a sustentar e esclarecer suas ideias e propostas diante de um contendor que pensa diferente, para julgamento do grande público.
Bolsonaro está dando (mais) uma banana para a sociedade. E a maioria dos brasileiros está achando isso aceitável. Uma idiossincrasia a mais do capitão. Ou uma questão menor. O que demonstra que boa parte de nós também não está nem aí para o exercício democrático. Só falamos com quem concorda com a gente. Os divergentes tratamos a pedradas.
Engana-se, no entanto, quem pensa que um debate – ou seis – mudaria qualquer coisa nessa eleição. Não há nada que Bolsonaro possa dizer ou deixar de dizer, em cadeia nacional, que vá mudar o voto pétreo que se abateu sobre quase 60% dos brasileiros.
O que mais me choca nessa eleição é o tanto que ela revelou da nossa imaturidade política, de como ainda somos presas fáceis do populismo, seja ele de esquerda ou de direita. (Além disso, temos, aparentemente, uma queda pela língua presa.) Qualquer aventureiro com meia dúzia de frases de efeito, e mais nada, pode chegar lá – seja a prefeitura de São Paulo ou o comando do país.)
Bolsonaro já disse todas as barbaridades que podia. Aliás, ele não diz outra coisa. Ofensas, ameaças, incitações, promessas de violência. Contra mulheres, índios, negros, esquerdistas (que, na sua língua, significa todo mundo que não é de extrema-direita), nordestinos (aqueles mesmos que fazem dancinha coreografada a seu favor), minorias em geral, adversários de qualquer matiz.
Bolsonaro também já expôs a sua enorme limitação de todas as formas possíveis. É um sujeito tosco, grosseiro, mal preparado, subletrado, de visão curta e de inteligência opaca.
A pior das performances de Bolsonaro num debate não revelaria nada de novo. Tudo está à mostra. Tudo tem sido revelado. Há meses. O bestialógico de Bolsonaro está registrado em áudio e vídeo para quem quiser ver e ouvir. (Enquanto engaja multidões no Brasil, tem causado ojeriza mundo afora.)
E não é que Bolsonaro tenha crescido apesar disso – ele cresceu POR CAUSA disso.
(O único reparo que não se pode fazer a Bolsonaro é justamente esse: ele tem sido acintosamente ele mesmo. Ele jamais tentou esconder a sua truculência. Portanto, não pode haver dúvida alguma, em nenhum de nós, a respeito de quem ele é e do que é capaz.)
Tem quem vote em Bolsonaro com sede de sangue. Tem quem vote em Bolsonaro como quem aperta o “foda-se” (sem se dar conta de que a granada sem pino estará enfiada em seu próprio bolso). E tem quem vote em Bolsonaro dizendo assim – “ah, para com isso, ele não vai fazer o que está dizendo”, num caso espetacular e inédito de eleitor que vota num candidato com o qual NÃO concorda por NÃO acreditar no que ele está deveras afirmando, sinalizando e prometendo.
Estamos em transe. Estamos surdos e cegos. O sentimento antiPT virou um caso de histeria coletiva. O Brasil escolheu UM judas – e reelegeu vários outros. Estamos em meio a uma espécie de catarse, de mantra hipnótico, de perda momentânea da razão.
A todas essas, eu pergunto: onde estão os democratas? Onde estão os liberais? Onde estão aqueles que acreditam numa sociedade aberta e inclusiva? Onde estão os empresários que levantam as bandeiras da sustentabilidade, da responsabilidade, da igualdade, da liberdade, da diversidade, da representatividade?
É hora da gente se posicionar. Se não por conta do resultado dessa eleição, ao menos pelo registro histórico dos valores e princípios que defendemos, até o fim, nesse momento sombrio do país.
Fotógrafa | Pesquisadora de Imagem | Arquivista
6 aExcelente
Assessor da Secretária de Desenvolvimento Sustentável
6 aEste texto não está fora de contexto? Não seria mais apropriado no Facebook? Aliás, campanha eleitoral em local impróprio não é também um problema de ética?
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6 aO Bolsonaro é mesmo uma temeridade! O melhor será reempossarmos o PT! De fato, essa eleição falará muito do nosso caráter e do nosso desejo para o Brasil! Se reelegermos o PT, nosso recado à classe política será: seja politicamente correto e, de resto, pode nos estuprar dioturnamente! E, para os nossos filhos, qual será o recado? Francamente!
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6 aTodos teriam de anular o voto para mostrar nossa indignação com estes 2 candidatos que levarão o país mais pro buraco...triste realidade...
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6 aO pior que estamos numa sinuca...o Lula fez o mesmo....é tudo farinha do mesmo saco .....o pt ja teve sua vez e ficamos como estamos...vai melhorar duvido....o Lula perdeu uma gde oportunidade ser lembrado como um gde estadista.....triste fazer isto com um país tão rico como o nosso...pena.