“Essas gerações de hoje em dia não querem mais trabalhar.”

“Essas gerações de hoje em dia não querem mais trabalhar.”

Com certeza você já falou ou ouviu alguém falando essa frase. Por um tempo esse era o discurso do meu pai e foi uma luta para conseguir mostrar o outro lado da moeda. O fato é que há uns meses me deparei com uma outra frase, em mais uma das tantas entrevistas em profundidade que fazemos com talentos que saíram das empresas, que vou usar sempre como argumento para este tipo de discussão:

"...O reconhecimento por um bom trabalho é mais trabalho. Então hoje, na empresa onde estou, eu finjo não saber, prefiro dar uma de zé mané, do que pegar mais responsabilidade, ter mais pressão e menos tempo para família.”

Se assim como meu pai (que agora mudou de opinião, amém) você acha que as novas gerações não querem trabalhar ou ter mais responsabilidades, sinto te informar que isso é uma inverdade. A questão é que o mundo mudou e isso não é mérito apenas da pandemia, eu poderia listar aqui uma série de acontecimentos mundiais dos últimos 24 anos que transformou nosso modelo de pensar, de comprar, inclusive de socializar. Já passamos por crises econômicas, políticas, climáticas, tanta coisa. Mas o modelo de trabalho NÃO MUDA!

  • Mesmo com tanta tecnologia a nosso favor para reduzir o volume de trabalho, seguimos trabalhando mais do que nunca;
  • Mesmo trabalhando mais do que nunca, o bolso continua vazio;
  • Mesmo com tanta “flexibilidade”, vive todo mundo no escritório, sem hora para chegar ou sair, vendo o nascer e o pôr do sol pela janela dos grandes edifícios;
  • Mesmo com o discurso de: "aqui cuidamos de você de verdade", o número de casos de burnout nunca foi tão grande;
  • Mesmo sendo adultos e entregando resultados, os empregadores continuam tratando os profissionais como crianças que precisam da autorização dos pais: Posso levar minha mãe no médico? Posso ir à reunião da escola dos meus filhos?

E o que a frase de início deste texto tem a ver com o que eu ouvi do entrevistado?

As novas gerações querem SIM trabalhar, mas o mundo mudou e essa relação entre empregado e empregador precisar evoluir. Não é sobre não querer trabalhar, é sobre ter qualidade de vida, estar com a família, com amigos, cuidar da saúde física e mental. É estar presente fisicamente, não por uma breve chamada de vídeo. É criar uma relação de confiança entre o como chegar no resultado versus o resultado.

E isso nada tem haver com perder produtividade ou qualidade, pelo contrário, precisamos entender que o desempenho profissional vem muito antes do talento começar ou terminar a jornada de trabalho. Precisamos aprender a utilizar a tecnologia a favor dessas relações, de um ambiente de trabalho mais saudável, menos tóxico e arrogante.

Eu to pirando ou não? (era para ser só um post curto, mas sempre quando o assunto é modelos de trabalho eu eu perco o controle haha)

Joy, como sempre, você tá coberta de razão. E não, não tá pirando hahaha É isso, o trabalho é uma forma de ganhar dinheiro e o objetivo é ter tempo para usar esse ganho (mesmo que pouco). Ou seja, a diferença da gente pras outras gerações é que queremos viver e não só sobreviver.

Pamella Gomes Silva

Social Media | Comunicação Interna | Employer Branding

5 m

Joyce, colocações perfeitas. Mas a parte dos empregadores tratarem profissionais como crianças me pegou demais. Isso é de fato o maior absurdo que existe no mundo corporativo e infelizmente não vejo acabar tão cedo, porém tenho esperanças rsrsrs..

Bruna Gomes Mascarenhas

Employer Branding | Comunicação | Gestão da Mudança | Fundadora da Smart Comms

5 m

Uma parte simples e tão forte do seu texto: "Mesmo sendo adultos e entregando resultados, os empregadores continuam tratando os profissionais como crianças que precisam da autorização dos pais: Posso levar minha mãe no médico? Posso ir à reunião da escola dos meus filhos?". Sempre achei isso surreal, especialmente o "posso" e o quanto muitos de nós enfrentam esse momento com cara feia como resposta. Uma coisa é algo assim em trabalhos por turnos, em que uma ausência impacta todo um sistema mas, se planejada, pode ser contornada facilmente. Outra é isso acontecer no tipo de trabalho em que, de verdade, tanto faz você se ausentar por 1 ou 2 horas para um compromisso pessoal - e é onde sempre vi isso ser um problema. Já mudou muita coisa, mas falta muito. Adorei a leitura!

José Soriano

Marca Empregadora | Cultura & Engajamento | DE&I | Jornada do Talento

5 m

Amei! Esses momentos de entrevistas sempre trazem reflexões. É uma delícia ver maneiras diferentes de ver as coisas (que concordamos ou não). Eu amei o seu artigo! Arrasou.

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