EU NÃO TENTO. EU FAÇO. OU FRACASSO.
Foi isso que aprendi durante uma das fases mais produtivas da minha vida. Muito trabalho por fazer, muitas viagens toda semana, muita gente para coordenar, muitas negociações a cada evento... Não dava tempo prá pensar na chance do fracasso. Era necessário fazer.
Quando fui Assessor de Marketing da FIERN – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte, tinha que atender as demandas das 17 unidades do SESI, do SENAI, do IEL, da própria Federação e dos seus, na época, 22 Sindicatos. Vivia entre Centros de Atividades, Clubes, Clínicas e Escolas espalhados por todo o estado. Era um trabalho danado! De bom...
Aliás, um dado interessante: eu era o único funcionário do sistema que conhecia todas as Unidades. Cada um conhecia a sua “Casa”, como chamávamos as quatro instituições, mas elas pouco interagiam entre si. As outras pessoas que podiam conhecer todas as Unidades não eram funcionários: eram o Presidente e alguns diretores. E mesmo o pessoal da Comunicação, que era obrigado a cobrir os eventos de todas as Unidades, nem sempre conseguia conhecer tudo. Eram vários repórteres, estagiários, fotógrafos... e havia muitos eventos simultâneos. Ou seja, por força do trabalho, apenas eu tinha esse “privilégio”. Não posso dizer que não gostava!
Era legal. Uma vida sem rotina e intensa: criação e organização de eventos, redação dos mais diversos tipos de materiais institucionais, contato estreito com agência de propaganda, responsabilidade por cerimoniais –às vezes complexos, quando se recebia autoridades –, criação da primeira página da Federação na Internet (era o início dos anos 2.000)... enfim, era um mundo muito dinâmico onde eu amanhecia abrindo uma cerimônia em Natal e fechava o dia inaugurando uma escola do Senai no interior do estado. (Eu não inaugurava, claro. Só cuidava do processo.) Aliás, também fui chefe de cerimonial! E comecei por acaso. Como nem sempre era possível contar com um mestre de cerimônias, o chefe de gabinete da época me escalou para mais essa função.
Apesar de toda essa demanda, eu nunca dizia “ – não” a um trabalho novo. Analisava as condições, selecionava o pessoal, montava a equipe, fazia minha agenda de acompanhamento e ‘tocava a obra’. Algum desgaste aqui, uma rusga ali, mas sempre com um ‘parabéns’ no final. Bem, quase sempre. Vez ou outra o resultado não era tão bom quanto o esperado. Mas vale ressaltar que, geralmente, era alguma não-conformidade de equipes terceirizadas das quais nem sempre se tem controle. Enfim, executava.
Agora, o que eu escutava muito quando vinha uma nova demanda era: “A gente queria tentar fazer um... Será que dá?” Complete os 3 pontinhos com evento, curso, seminário, workshop, movimento, ação ou qualquer outra coisa do gênero. Minha resposta era invariável: “Não vamos tentar. Vamos fazer”. Muita gente se admirava com a rapidez da resposta e até contestava: “Será que dá mesmo”. Às vezes eu tinha a impressão de que a pessoa não queria que desse certo. Juro. Parecia que não queria ter trabalho e já entrava pedindo uma resposta negativa.
Bom, o que vale desse período da minha vida, é a conclusão a que cheguei depois de tantos e tantos trabalhos: eu nunca tentava. Eu nunca começava com a perspectiva de dar errado. Eu sempre fazia. Era um otimista de primeira linha. Na maioria das vezes, dava certo e até superava expectativas (uma equipe motivada faz milagres!) Outras vezes, ocorria algum imprevisto, alguma impossibilidade, mas o programado acontecia. Foi assim que eu cheguei à frase “Eu não tento. Eu faço. Ou fracasso.”.
Tenho por mim que ‘tentar’ embute uma perspectiva negativa ou, pelo menos de fragilidade. É como ir com a perna ‘mole’ numa dividida de bola no futebol, entrar distraído num ringue de boxe ou fazer uma apresentação sem ter visto o PowerPoint antes. Não funciona. Uma das pessoas que me ajudava nessa época, Christiane, me apresentou a uma expressão nordestina que tem o mesmo sentido: “se não pode com o pote, não pegue na rodilha”. Se o pote de água é muito pesado prá você, nem se atreva a pegar nas alças. O pote vai quebrar e a água se perder. Mas isso não quer dizer que o pote não possa ser transportado. Basta decidir fazer, analisar as condições e... fazer! Nesse caso, por que não convidar alguém para pegar na outra rodilha? Ou usar uma talha para levantar o pote e colocar num carrinho?
Mas, em última instância, o fracasso ainda é possível. Nesse caso, aprenda com ele. Acredito que seja mais produtivo fazer, errar, analisar e aprender do que nem tentar e ficar pelo meio do caminho observando quem faz acontecer.