Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. Não é o que acontece na vida que importa, mas o que fazemos com o que acontece. Quando conseguimos integrar o pensar, o sentir e o agir, a realidade passa a ser criada e recriada dentro de novas fronteiras, mais fortalecida, o que nos permite sair do papel de espectadores e assumir o protagonismo da nossa própria história.

Dentro de um contexto de pandemia pelo COVID-19, convivemos diária e simultaneamente com uma “silenciosa pandemia” de consequências bem mais drásticas que ela, sem que a gente se dê conta do seu efeito devastador (longe de mim desprezar a gravidade e potência do Corona, gente!). As doenças sociais, a ansiedade, a depressão, a solidão, por exemplo, ocorrem silenciosamente e trazem danos irreparáveis por onde passam. Muitas vezes são consideradas normais, talvez por estarem se alastrando com grande velocidade, e não nos darmos conta do seu poder de contágio e destruição, capaz de fazer inveja a qualquer vírus da história recente da humanidade (H1N1, Dengue, Chikungunha, Zica e ao poderoso Corona).

Como se isso não bastasse, ainda vivemos numa cultura de esperteza, da lei do Gerson, onde os fins justificam os meios, uma total destruição do meio ambiente, um descaso com a vida humana, corrupção (essa é a campeã!) e uma competição desenfreada.

Sim, estamos doentes! Fomos infectados pelo vírus da vaidade e do poder e perdemos nossa consciência, nossa capacidade de reagir. Podemos ser alvo de uma terrível manipulação, fruto de uma epidemia induzida por um sistema viciado e viciante, que se alimenta do medo para manipular mentes e corações que, um dia, foram livres.

Como diz Marina Colasanti, eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. Mas nem tudo está perdido...se o organismo for devidamente imunizado, o vírus perde seu poder de ação. A vacina que se mostra altamente eficaz é a compaixão. Não tem efeito colateral e seus anticorpos entram em ação quando saímos da reatividade do medo e sentimos compaixão por nós e pelo outro, quando agimos com generosidade. Quando temos fé e acreditamos que podemos construir uma nova realidade. Voltar ao normal, esquece, porque foi o normal que nos adoeceu.


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