Exercícios como experiência
É impressionante como movimento é importante para a nossa saúde, nosso corpo e até para nossa cabeça. E eu comecei a sentir muito isso a medida que fui ficando cada vez mais parado e sedentário.
Eu precisava voltar a fazer algum exercício físico, mas tenho pavor de academia tradicional. E não falo da boca para fora. Eu testei e minha experiência foi péssima seja com os instrutores, com os equipamentos, com os ambientes, com os frequentadores e até com as músicas. Mas o que me fez desistir mesmo foi a monotonia. Eu não aguentava fazer aquelas repetições dia sim, dia não. Eu respeito e até admiro quem consegue, mas definitivamente não é pra mim.
Então eu refleti que precisava de algo que me desafiasse e engajasse, e que por consequência, me fizesse fazer exercícios. Surgiu a ideia da escalada. A muito tempo tinha escalado, e lembrei de ter gostado, apesar de ter medo de altura. Depois de meses com essa ideia na cabeça resolvi tentar e cá estou.
Definitivamente é uma experiência diferente de academias tradicionais, e segundo meu ponto de vista, incrivelmente melhor. Entre as razões, está a constatação de que é uma atividade que me da vontade de fazer. Os desafios como a própria parede, os níveis de dificuldade e o meu medo de altura, além das conversas sobre aspectos específicos do esporte com outros praticantes, me engajam muito. Como consequência acabo fazendo muito exercício, mas sem perceber.
Esse episódio do podcast Repeat Customer da Zendesk, trata justamente sobre a experiência dos clientes das ‘academias de butique’, nome que deram nos Estados Unidos para academias focadas em uma modalidade apenas, como o spinning, que é o assunto mais discutido. Ouvindo esse episódio percebi que os motivos que me atraíram para a escalada também atraem outras pessoas para o fenômeno dos centros de atividade física de nicho como yoga, dança, cross-fit e o próprio spinning.
Mas as tais academias de nicho não estão crescendo tanto por um acaso. Alguns fatores cruciais, que impactam diretamente na experiência dos praticantes são:
- Formação de comunidades
- Competitividade
- Acompanhamento especializado
A capacidade que esses espaços têm de criarem e reunirem comunidades é algo impressionante. Enquanto que em uma academia tradicional a individualidade é uma tendência natural, ou seja, cada um na sua, com seu fone de ouvido fazendo sua linha de exercícios, nas academias de nicho a troca de experiência coletiva é algo que acontece de forma orgânica. E isso é muito poderoso para engajar os alunos a continuar praticando a atividade, mas a mágica é justamente, que o engajamento é um efeito colateral da conexão que se forma entre as pessoas.
Outro aspecto engajador é o da competitividade, que se viabiliza muito pelo fato de todos ali praticarem a mesma modalidade. Mas não é o tipo de competitividade destrutiva, pelo contrário. Na verdade, o fato de o senso de comunidade existir naquele grupo, faz com que a competitividade seja positiva e estimula a evolução das pessoas. Esse post mostra como as academias de escalada podem atuar ativamente nesse propósito e criar uma estratégia baseada em gamification para amplificar o engajamento dos praticantes do esporte.
Mas se estamos falando de experiência do cliente, um fato fundamental ao meu ver é o serviço que é oferecido por esses lugares. E aqui o acompanhamento dos alunos se destaca. Diferente de academias tradicionais com vários tipos de modalidades acontecendo em paralelo, onde os poucos instrutores são generalistas e fazem um acompanhamento a distância dos praticantes (a não ser que você pague mais é claro), nas academias de nicho os alunos recebem acompanhamento de perto, por instrutores especialistas nas modalidades em questão, sem pagar nada a mais por isso. Não preciso nem mencionar o quanto isso torna a interação com os especialistas muito mais exclusiva, focada e eficiente. Ou seja, eleva e muito a experiência do cliente.
Outra questão interessante abordada no podcast, que na bem da verdade acabou sendo o foco apesar de eu achar as outras questões muito mais interessantes, é a amplitude de oportunidades de soluções digitais focadas nas necessidades dos praticantes de modalidades específicas. Produtos como ambientes virtuais, que entreguem a mesma (ou quase a mesma) experiência de interação humana com os outros praticantes e principalmente com o instrutor do spinning, mesmo que a pessoa não esteja de corpo e alma na academia, como é o caso do Peloton.
Voltando ao ponto inicial é claro que nossa vida melhora ao praticarmos algum exercício físico, mas o fato é que a experiência envolvida nessa prática é fundamental para o nosso engajamento e perseverança. Eu diria mais, com uma boa experiência a prática de exercícios deixa de ser uma necessidade ou obrigação para a nossa cabeça. O uso de subterfúgios como nos conectar com outras pessoas (comunidade), jogos (competitividade) e o coach de especialistas (acompanhamento) nos fazem entrar em estado de flow, onde estamos tão imersos no contexto, que nem percemos os efeitos colaterais, como o fato de no fundo estarmos praticando exercícios físicos.
Design & Innovation: Facilitator | Business Designer | Ethnographer | Design Manager | UX Pioneer
5 aFelipe Menhem Veja se tem ressalvas ;)