Existe espaço para o humor nas empresas?
Um artigo publicado na Current Opinion in Psychology apresenta algumas reflexões sobre este assunto. O texto é classificado pela revista como uma revisão, mas os autores mostram suas considerações com um viés opinativo. Se, por um lado, há uma grande limitação em relação às evidências científicas, por outro, entender o ponto de vista dos autores não parece que fará mal para possíveis debates no futuro.
Os autores citam o artigo de 2010 de McGraw e Warren para explicar como algo pode ser classificado como pertencente ao campo do humor: trata-se da teoria da violação benigna. Este conceito sugere que, para que algo seja identificado como humor, é necessário que exista uma violação (de uma ideia ou descrição de um fenômeno) e que essa violação seja percebida como benigna. Se essas duas condições forem atendidas, então uma piada, por exemplo, pode ser considerada engraçada.
Eu sei, você deve ter lembrado de uma lista de coisas que você considera engraçadas, mas que não parecem se encaixar nessa definição. O humor é uma experiência humana e, como tal, está condicionada a fatores individuais e do contexto social. Valores morais e éticos interferem na percepção do que é aceitável ou não, tanto na esfera individual como coletiva, e são influenciados por vários fatores, entre eles, o tempo.
Encontrar o ponto de equilíbrio em que aquela frase dita na reunião da empresa possa ser considerada bem-humorada ou inadequada é um campo minado cada vez mais evitado pelos líderes. Os autores sugerem que, ao usar elementos de humor, os líderes demonstram um alinhamento com as violações que são o pressuposto do recurso. Além disso, o risco de que essas violações não sejam recebidas como benignas entre suas equipes e pares desencoraja seu uso no contexto das organizações. Líderes são vistos como modelos e, neste ponto de vista, não podem ser vistos como seres que violam regras.
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Então, é possível utilizar recursos de humor no contexto das organizações? Os autores fazem uma curiosa recomendação: se for utilizado, que o humor seja direcionado para “coisas não-vivas”, que não percebem e não se magoam.
Não acredito que exista uma regra simples ou uma resposta para a o título deste texto. Dependendo do contexto, o humor pode criar descontração ou tensão, reforçar ou romper laços, expressar ou reprimir ideias, flertando com os riscos das questões de assédio. Os códigos de conduta das organizações podem tentar dar conta de parte desse tema, mas certamente não são suficientes. Refletir e trocar ideias sobre o tema pode trazer caminhos possíveis no futuro.
Artigo completo: Yam KC, Min Ye Y. Humor and morality in organizations. Curr Opin Psychol. 2024 Feb 1;57:101799. doi: 10.1016/j.copsyc.2024.101799