As Expectativas Irracionais e o Fundamento
Sempre ouvimos que os agentes econômicos antecipam suas posições estratégicas/financeiras a fim de uma probabilidade de cenário: são as expectativas, no fim das contas, que nos levam a tomar decisões de hoje em função de um resultado futuro. Mas então, como é formada a expectativa?
Até meados dos anos 1950, o mainstream econômico entendia que as pessoas projetavam como resultado futuro a média dos eventos passados ou o último evento acrescido de uma variação observada. Na última metade do século XX, o choque do petróleo quebrou a teoria das expectativas adaptativas: se os padrões passados não são suficientes, é preciso entender o futuro para montar nossas decisões atuais. Robert Lucas, propagador das expectativas racionais, mudou a forma como pensam os agentes econômicos. Ou seja, ao invés de olhar o passado, agora olhamos para o futuro. Não basta aplicar ao futuro uma correção de erro sobre o efeito passado, é necessário entendê-lo.
Algumas aplicações:
- Política Monetária: bancos centrais utilizam dados como a expectativa de inflação para encontrar a taxa de juros de equilíbro.
- Preço das Ações: os resultados passados em nada compõe o valor de uma ação, é preciso mensurar sua capacidade de geração de caixa futura para avaliá-la.
O que não te disseram sobre as expectativas, é que elas estão carregadas de irracionalidade. Motivações emocionais levam à tomadas de decisões as quais não são baseadas unicamente em estatística.
Um exemplo é o efeito manada que ocorre, por exemplo, no mercado de ações. Por um boato ou um evento aleatório não previsível, há uma forte corrida para a venda ou para a compra do papel sem que haja uma análise razoável sobre o impacto do boato no futuro da companhia.
Outro: o que um acidente de avião leva ao raciocínio da maior parte da população? "Não vou pegar o meu próximo vôo" ou "viagens aéreas são muito perigosas". Mas, vamos lá, um acidente aéreo a mais alterou a estrutura de probabilidades de ocorrência de acidentes aéreos?
A estes eventos acima, Daniel Kahneman (Prêmio Nobel de Economia 2002) deu o nome de Heurística da Disponibilidade - vale ressaltar que Kahneman é psicólogo e nunca frequentou cursos de economia, estudando apenas os impactos emocionais nas tomadas de decisões, inclusive financeiras.
A Heurística da Disponibilidade nada mais é que a facilidade com que recortamos os fatos de acordo com as nossas percepções e desejos a fim de justificar um cenário ou, segundo Kahneman "é a tendência que as pessoas têm de julgar a probabilidade de eventos baseados na facilidade com que as probabilidades vêm em sua mente".
Algo te pareceu familiar? Sim, e eu concordo com você: as operações day-trade são excelentes exemplos da Heurística da Disponibilidade. O que te faz comprar e vender uma ação no mesmo dia? O lucro diário é uma ilusão se olhar um grande horizonte de tempo, pois não se consegue vencer o mercado todo dia; hora se ganha, hora se perde se sua estratégia for baseada por impulsos e emoções e na média você não bate o mercado como gostaria, ou seja, muito trabalho para pouco retorno.
As tomadas de decisões baseadas por esses motivos geram expectativas irracionais, refletindo em uma volatilidade exacerbada, como observamos no mercado brasileiro nos últimos anos. Devemos buscar fatos concretos para diminuir a assimetria de informação e posicionarmos convictamente até que novas informações mudem o cenário futuro.
É o fundamento baseado em dados e estudos que vencem no longo prazo, que descobrem as assimetrias que podem gerar resultados econômicos extraordinários em alguns anos. A expectativa irracional, o sentimentalismo, o boato e a manada servem apenas para aumentar sua volatilidade financeira e sua ansiedade emocional.
Trade Surveillance | BTG Pactual
7 aParabéns pelo artigo! A economia comportamental deveria ser mais estudada, muitos traders afirmam que o aspecto psicológico importa bem mais que o aspecto técnico quando o assunto é mercado financeiro, para operações de curto-prazo é claro. No longo prazo os fundamentos são indispensáveis.