Uma modernidade que era sólida, virou líquida e EVAPOROU.
Será que o nosso tempo e as nossas relações estão se evaporando?
Não sei se vocês já pararam para pensar, mas não parece que estamos assistindo os nossos relacionamentos, amizades, empregos, dinheiro e valores morais evaporando e sob uma condição, que exercemos diante da prática da lei do menor esforço, estamos conformados diante de nossa falsa estabilidade emocional.
Está tudo evaporando diante de nossos olhos, e o que estamos fazendo? Postando mais uma foto, publicando assuntos rasos só porque sabemos que isso chama atenção, esbravejando e reclamando dos corruptos e da política.
Não suportamos mais o que leva algum tempo que vá além do segundo seguinte à nossa intransigência mínima, a não ser aquilo que dá curtidas e seguidores.
Diante dessas mudanças de estado (sólido, líquido e gasoso), fica fácil observar e admitir que romper é mais fácil do que compreender e julgar é mais fácil do que pensar.
MODERNIDADE SÓLIDA, uma sociedade marcada pelo excesso de ordem, repressão, dureza e regulação. Uma modernidade com estruturas, regras, instituições sociais e comportamentos mais rígidos, inflexíveis e duros, cheios de certezas – Modernidade marcada pela febre de sucesso
MODERNIDADE LÍQUIDA, uma sociedade mais livre, mais ligada aos seus próprios desejos e sonhos. Passamos a encarar a vida e as ações com mais liberdade, mais possibilidades de experimentação e menos amarras. A lógica do consumo deu lugar a lógica da moral, assim, as pessoas passaram a ser fortemente analisadas não pelo que eram, mas pelo que elas compravam. A ideia de compra adentrou as relações sociais, e as pessoas passavam a comprar afeto e atenção. – Modernidade marcada pela obsessão da fama
MODERNIDADE GASOSA, todos os aspectos da modernidade líquida ficam intensificados. Nesta passagem do estado líquido para o estado gasoso, um adjetivo parece ilustrar muito bem essa nova condição: a volatilidade, que pode ser usado em diversos âmbitos referindo-se a fenômenos econômicos, científicos e sociais além de indicar aquilo que se transforma em vapor. “na modernidade gasosa, é preciso, elevar-se no ar, correndo o risco de cair no chão”. Na condição da modernidade volátil, o digital tem uma influência decisiva que atravessa o território do trabalho, do consumo, de nossas experiências cotidianas, das relações sociais e pessoais. – Modernidade marcada pelo desejo de popularidade - Fonte: O futuro das coisas
Ingressar nessa jornada turbulenta e caótica das nossas emoções individualistas se tornou mais conveniente do que buscar a conexão de almas e sentimentos. Nada mais é estável. Nada mais flui conforme o curso previsto. Tudo evaporando diante de nossos olhos.
Quando nesse livro abordo o conceito do que é real e ilusão, percebo que do estado líquido para o gasoso, e aqui me refiro ao que chamamos de modernidade gasosa, aumenta a crise do real, ou um abalo muito grande do conceito de real e do que seria esse real.
Costumo dizer que a realidade é o real com toque de ilusão e fantasia, é o real sem que você confronte o real, uma relação do ser humano com seu próprio desejo, e com os objetos que podem preencher aquilo que te falta (amor segundo Platão). Por isso a ilusão e suas fantasias são as justificativas para não nos depararmos com a realidade dessa era, de uma certa maneira, sentimos mais seguros assim, porém deixamos de ver o todo e nossa imunidade fica ainda mais escancarada diante do que realmente é a vida real.
Já faz alguns anos, pelo menos uns 25 anos, o sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman, apresentou sua tese de que a modernidade estava se tornando líquida: uma época em que as relações sociais, econômicas e de produção eram frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos. As principais características da modernidade líquida são: o desapego provisório e acelerado processo da individualização; tempo de liberdade, ao mesmo tempo, de insegurança. E nesse contexto podemos definir que vivemos a falta de segurança, de certeza e de garantia.
E é exatamente como resposta a esta possibilidade de tempo de liberdade que Bauman, diz que os homens deste tempo, no anonimato das grandes cidades, têm uma sensação de impotência sem precedentes, já que, no anseio por esta liberdade, os mesmos se encontram por sua própria conta e risco em meio ao caos. Desta forma, como todos estão sem tempo, e preocupados com inúmeras atividades assumidas, poucos são aqueles que tempo têm e disponibilidade para dar o ombro amigo para o próximo; o vizinho é um desconhecido, mas os charlatões virtuais, os influencers, os grupos das redes sociais e pessoas que nunca estivemos perto viram conselheiras e amigas. Acho que deu para entender por que estamos saindo de um estado solido e líquido para um outro gasoso.
Hoje, vivemos uma evaporação numa sociedade cada vez mais volátil, etérea e efêmera. Uma sociedade na qual nos vemos obrigados a levantarmos do chão para existir, enfrentando o desafio da exposição e do olhar dos outros.
Segundo o sociólogo Francesco Morace, “o advento das redes sociais arquiva a modernidade líquida e inaugura a gasosa.”
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Se antes cuidar de uma sociedade na modernidade sólida já tinha seus desafios, a líquida se tornou ainda mais difícil de controlar, agora imaginem a gasosa, onde subir no ar é desafiador, embriagador, arriscado, desorientador e muito excitante.
Nessa obra revisitei o conceito proposto por Bauman em 1999 sobre a sociedade líquida, entre tantas outras teses e autores que abordavam esse tema, e claro sempre conectando com as minhas experiências de vida e negócios.
O importante aqui é lembrar da seguinte frase: “Os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não podem aprender, desaprender e reaprender”. Escrita pelo sociólogo e futurólogo Alvin Toffler em 1970, que já fazia previsões realistas em seu livro Future Shock, e quem diria que depois de 50 anos continuaria atual e necessário.
Portanto a busca por um novo olhar diante desse contexto de mundo, se faz necessário pois se antes consumíamos coisas hoje consumimos nós mesmos, e segundo Morace, não é um consumo apenas de nossa imagem, mas também de uma existência que se pulveriza, ficam mais exigentes, porém mais frustradas e insatisfeitas.
“Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável” Bauman
Estamos ainda na coexistência de dois mundos, aquele mundo que não queremos acreditar que faliu, e nesse outro que é extremamente veloz e imprevisível, é uma metamorfose de mundo. Nessa nova era, muito das mudanças ocasionadas e seus impactos, foram potencializados pelo que chamamos de transformação digital, e o domínio pelas tecnologias utilizadas nas redes sociais como exemplo, permitem que qualquer um se mostre ao mundo: é nessa nuvem que estão repletos de egos inflados, e os muitos personagens que bombeiam esses egos.
Já sabemos que a pandemia recente do COVID-19 antecipou futuro e fomos obrigados a mergulhar nas ferramentas e técnicas do mundo digital. Segundo Sabina Deweik, uma amiga querida e estudiosa sobre o assunto, coloca um ponto de atenção: Multiplicam-se pessoas que, agora, através do digital, realizam seus sonhos do nada: jovens empreendedores, startupeiros, influenciadores, criadores, que voam ao céu da popularidade. Na modernidade líquida, tudo isso era impensável. Na condição gasosa, os voos estratosféricos tornam-se possíveis, para o bem ou para o mal.
AS QUATRO DIMENSÕES que caracterizam a passagem da modernidade líquida para a gasosa: evaporação, suspensão, contaminação, explosividade.
A hipótese é que na transição do líquido para o gasoso, novas oportunidades se abrem para as projeções da comunicação, trabalho e negócios, mas colocam-se também novas questões críticas sobre isso.
Como podemos, então nos orientar nesse estado gasoso, onde tudo parece aleatório, volátil e se evapora? Como estar atento à realidade e se conectar com as tecnologias sem perder as oportunidades? E principalmente como lidar e não se deslumbrar com a tal “síndrome do ego inflado”?
Na minha opinião, e muito da maneira que vejo o mundo e deu origem a newsletter, a grande resposta está em nós, ou seja, dentro de nós mesmo, não podemos fechar os olhos para essa realidade nem muito menos escapar do avanço tecnológico e jamais subestimar suas vantagens, porém, precisamos dar mais sentido a tudo isso que partiu das nossas inteligências humanas, para que traga mais razão e benefícios as necessidades inerentes ao ser humano, abrindo cada vez mais a possibilidade de praticarmos a inteligência espiritual.
Gratidão.
Marcos Batista - Inovação Humanizada