Faça que nem Steve Jobs. Certeza?

Faça que nem Steve Jobs. Certeza?

O Clodoaldo tinha uma fábrica de maria-moles. Ao perceber que o faturamento vinha caindo, decidiu que era hora de inovar. "Mas como?", vivia se perguntando. Um amigo o aconselhou a conhecer melhor a história de Steve Jobs. "Falou em inovação, falou em Steve Jobs. Vai por mim!", recomendou.

Passou a ler tudo sobre o fundador da Apple. Nisso, o que mais chamou a atenção era o comportamento raivoso do líder com alguns funcionários. "Bingo! É isso!". Concluiu que, para ter uma equipe inovadora, era preciso demonstrar aquelas mesmas explosões de fúria do Steve Jobs. Tolerância zero. "Agora o negócio volta a decolar!", se animou.

"VOCÊ CHAMA ISSO DE TRABALHO??? TÁ UM LIXO!", repreendeu aos berros o seu Agenor, que estava lá há duas décadas. Agora era assim, quem não o surpreendesse na inovação que aguentasse as consequências. "CADÊ AQUELE PROJETO DE MARIA-MOLE QUE FALA BOM DIA NA PRIMEIRA MORDIDA???? CADÊ O PROTÓTIPO???", gritou pra recém-criada equipe de DIDE (Desenvolvimento Inovador Disruptivo Encantador). Não estava nem aí se o pedido tinha sido encomendado na tarde do dia anterior. Que encontrassem um meio de viabilizar aquilo. "O Jobs vivia fazendo isso também e dava certo. Pressão faz milagres!", confidenciou pra mulher, também assustada.

Passou a demitir todo mundo, sempre aos berros. Sobrou até pra coitada da dona Eulália, responsável pelo cafezinho. "TÁ COM POUCO AÇÚCAR! VAI EMBORA! RUA!!!". Os poucos que sobraram ali viviam em constante estado de tensão, com idas frequentes ao banheiro pra chorar. A grande maioria dos novos contratados durava pouco. "Frouxos, não se adaptaram à cultura inovadora da empresa!", explicava o Clodoaldo que, além de empresário, se apresentava no LinkedIn também como "discípulo de Steve Jobs".

A coisa só piorava, pois a produtividade diminuiu um bocado pela escassez da mão de obra. Sem produção, tampouco inovação. A empresa entrou em concordata. A falência veio rápido, aditivada pelos processos trabalhistas, com inúmeros vídeos de assédio moral publicados internet afora. O do chute no traseiro em um dos gerentes virou sucesso absoluto no YouTube. "Por isso que o Brasil não inova! Povo frouxo!", resmungou amargurado ao pisar pela última vez no terreno da fábrica.

O Clodoaldo hoje ganha a vida vendendo maria-mole na rua, sozinho. Quando alguém pergunta a ele sobre Steve Jobs, não tem dúvidas em emitir sua opinião definitiva sobre o fundador da Apple. "Fiz tudo igualzinho a ele. O sucesso daquele ali? FOI SORTE!!!"

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Crônica escrita por Marcelo Tuca Hernandes, consultor de Business Intelligence | Qlikview | Qlik Sense | redator acidental e proprietário da TH Data Inteligência Analitica (www.thdata.com.br). Todos os direitos reservados.

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E como diria Steve Jobs, one more thing: se quiser conferir mais crônicas de minha autoria sobre outros assuntos dê uma conferida (e curtida) na fanpage do Diálogos do Absurdo (www.facebook.com/DialogosDoAbsurdo/)

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