Falhas de Modo Comum (FMC): Defenda-se de temporais assinaláveis

Falhas de Modo Comum (FMC): Defenda-se de temporais assinaláveis

Um tufão assusta os moradores de qualquer cidade. É a segurança da nossa casa, ou seja, é o nosso sistema crítico sofrendo interferências que não estão sob nosso controle: estas são as chamadas causas especiais. Mas existem causas comuns que, se não tratadas, podem também gerar dores de cabeça, como exemplo, uma lâmpada em curto, paredes com infiltração de água, um chuveiro sem aterramento, ou a mangueira de um gás de cozinha vazando. Isso tudo é compreensível, e já conhecemos as possíveis causas e planos de contingência. Seja uma vela ou uma lanterna para momentos de falta de energia elétrica, ou um fogão à lenha, como existe na casa da minha amada avó para não depender de botijão de gás.


O mesmo conceito, porém, em escala maior, ocorrem para sistemas críticos, como exemplo, usinas nucleares, caldeiras de alta pressão, centros cirúrgicos e UTIs, cujos requisitos do projeto e a gestão desses tipos de sistemas têm necessidade de confiabilidade elevada. Em geral, em tais sistemas aplicam-se algum tipo de redundância para reduzir o gradiente das falhas comuns, e mesmo que sejam sistemas independentes, a dependência sempre irá existir entre quaisquer sistemas. Essas são as chamadas falhas de modos comuns.


Para explicar melhor do que se trata esse artigo, seja um sistema de bombeamento de água potável de um município no qual duas bombas, A e B, são responsáveis por abastecer a demanda das residências. Tais bombas são eletrificadas por corrente alternada, mas em determinado momento do dia acontece uma falha de energia ocasionada por uma causa especial, das quais não estão sob nosso controle, e, invariavelmente, ocorre a interrupção do abastecimento da caixa d’água principal do bairro. Se esse evento aconteceu por volta das 17h, e não foi solucionado antes das 22h, é bem provável que falte água na caixa d´água principal. Qual é a redundância para a nossa residência? Muito bem! É aquela caixa d’água escondida na laje, ou qualquer que seja o local de sua instalação. Entretanto, a falha de modo comum afetou as bombas A e B, ou seja, a falta de energia elétrica tornou os sistemas dependentes de uma outra fonte de energia. A solução que já deve estar na cabeça é um gerador de energia elétrica movido a diesel, que automaticamente entra em operação caso ocorra a falta de energia na rede elétrica.


Compreender quais são esses sistemas críticos, identificar as FMC e suas possíveis causas, e escolher um conjunto de medidas específicas para cada situação resultará na evolução da confiabilidade e na minimização das falhas para tolerâncias aceitáveis. Isso requer um bom entrosamento entre as áreas de projeto e sua execução, com canais de comunicação entre os futuros grupos de mantenedores e operadores, bem como é essencial que o núcleo da engenharia de manutenção esteja compartilhando recomendações e registrando todos questionamentos, e essa integração favoreça a implantação de um projeto de alta confiabilidade e que atenda aos requisitos.

 

Andam por aí afora adversidades declaradas e silenciosas que provocam grandes colapsos na confiabilidade dos equipamentos. Todas as mais diversificadas técnicas de defesa contra as FMC angariam votos para proteger sistemas contra ocorrências aleatórias e indesejáveis, muitas vezes, que agem em silêncio, e somente são descobertas quando os equipamentos entram em estado de falha, ou mesmo quando já há algum problema evidente, tornando sistemas industriais críticos suscetíveis a danos de alto potencial.


Mas como se defender desses ataques? Como evitar trips, sistemas em pane e inoperantes, e efeitos colaterais que afetem a segurança e o ambiente? Uma série de metodologias podem ser descritas, e as estratégias mais conhecidas podem ser aplicadas, mas o sucesso depende de aprender e ensinar a cada dia, e tornar essas duas ações uma cultura. Controlar e revisar o projeto durantes todas as fases não é tarefa apenas do gerente de projetos. Deve haver um canal para detalhamento das análises juntamente com a manutenção e o processo, com treinamentos e testes, elaboração dos Modos de Falhas e Análises de Efeitos (FMEAs), Árvore de Falhas, procedimentos de operação, manutenção e registros, e conscientização de todos para a identificação das FMC.


A supervisão e a operação devem seguir os fluxos e procedimentos, e realizar monitoramento contínuo, registrando os desvios e ações corretivas sempre que o sistema apresentar FMC. A engenharia de confiabilidade deve estar sempre atenta na busca de soluções diversificadas, sugerindo simplicidade, padronização através de normas técnicas, elaboração planos de inspeções periódicas e de sucessivos testes para identificar e tratar as FMC, avaliando juntamente com o profissional da automação possibilidades de intertravamentos, diversidades de equipamentos, e projetos à prova de falhas (superdimensionamento). Sempre que possível, aplicar também barreiras físicas de segregação nas instalações de campo e em equipamentos da sala de controle, e evitar todas as formas possíveis de falhas perigosas de “by pass”.


As falhas comuns estão por aí, e muito pode ser feito antecipadamente. É importante enfatizar que os aspectos de relacionamento entre as FMC e suas causas devem estar ligados em uma estrutura de gerenciamento nos níveis estratégico, tático, e operacional que controlem e dêem subsídios para todos os departamentos envolvidos, e a prática demonstra que se há alguma probabilidade de eventos indesejáveis ocorrerem, eles ocorrerão, sendo a prevenção o melhor remédio para aumentar a função confiabilidade.


Este artigo trouxe um breve resumo sobre defesas contra FMC em sistemas críticos para compreendê-los e identificá-los de uma forma mais simples, e introduziu o conceito de redundância por diversidade para eliminar suas causas. A avaliação da confiabilidade do sistema deve ser realizada de maneira ininterrupta e rítmica, desde o início do projeto, sugerindo a eliminação das FMC através de aperfeiçoamento dos projetos e melhorias em procedimentos, manutenção, testes e operação.


E para você, qual é a sua experiência sobre as FMC?

Thiago Lima Mercado

⚙️Engenheiro de Controle e Automação | ⚡️Especialista em Controle Avançado de Processos | 🪩Confiabilidade e Gestão de Ativos | 💙Pai do Nicolas | 🏭🚜Paixão pelo Agro🌾🌽

2 a
Michellen Vasques

Engenheiro de Produção | Analista de Produção | Coordenador de Produção | Gerente de produção |

5 a

Parabéns! Artigo muito bom e esclarecedor! A prevenção e o olhar cuidadoso pro processo e as causas comuns é fundamental!

Sérgio Ernesto

Engenheiro Manutenção | Supervisor Manutenção

5 a

Espetacular a maneira que conseguiu explicar sobre um assunto complexo, mas com uma abordagem tão simples e prática.

Franciny Gomiz Mateo

Business Intelligence and Operations Efficiency - AMERICAS

6 a

Parabéns pelo ótimo artigo!

Mitchell de Oliveira Campos

Gestão Comercial | Estratégia de Vendas | B2B & B2C | Desenvolvimento de Negócios

6 a

Parabéns pelo brilhante e esclarecedor artigo, caro Thiago! O caminho é sempre o monitoramento e antecipação das possível falhas por parte dos profissionais de confiabilidade, e envolvimento de pessoas proativas no processo. Grande abraço!

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