Feedback negativo está em extinção!

Atuando como Recrutador há mais de 10 anos, sou categórico ao afirmar que AMO O MEU TRABALHO. No entanto, reconheço que a pior parte da minha atividade é dar feedback negativo para um candidato que foi reprovado em um processo seletivo.

Por dois motivos:

1º) Torço para todos os candidatos serem contratados, embora saiba que daqueles 4 ou 5 profissionais apenas um será selecionado. E torço ainda mais por aqueles que demonstram real interesse pela oportunidade em questão!

2º) É muito difícil lidar com a frustração de um profissional que “entrou para ganhar” no processo seletivo. Muitos se entusiasmam com a oportunidade e criam altas expectativas. Profissionais que estão desempregados e precisam voltar ao mercado de trabalho e profissionais que estão trabalhando mas querem novas oportunidades se frustram quando são reprovados no processo – é natural!

Quando a devolutiva negativa bate à porta a frustração pode ser proporcional à expectativa criada – às vezes pode ser até maior!

Tenho um simples, mas rigoroso controle de todas as pessoas que entrevisto: nomes, datas das entrevistas, motivo da aprovação ou reprovação e, por fim, as datas de quando dei feedback para cada um deles.

Faço questão de dar o retorno por telefone. Sou absolutamente avesso ao e-mail padrão do tipo:

“Prezado (a), gostaria de informar que você não foi aprovado no nosso processo seletivo. Agradeço seu interesse. Contaremos com você numa próxima oportunidade”.

Acho frio e impessoal. A pessoa que recebe essa mensagem se sente “um número”. Eu prefiro ligar e dar um feedback completo, doa a que doer! Procuro esclarecer dúvidas, orientar e encorajar para os próximos processos seletivos que aquele candidato irá participar. Aliás, muitos desses candidatos acabam participando de outros processos seletivos comigo, tempos depois; isso é muito comum!

Lembro de um Gerente de Consumer Insigths de uma das maiores companhias do mundo no segmento de tecnologia. Ele participou de um processo seletivo comigo em 2010, mas foi reprovado. Em 2012 participou de outro processo – para outra empresa – e novamente foi reprovado. Em 2015 o convidei para outro processo seletivo, no qual ele foi aprovado! Ele permanece nessa empresa – multinacional europeia de grande porte do segmento de bens de consumo – reportando-se diretamente ao Diretor Comercial e com grande interface com o CEO da companhia, tendo, portanto, um nível de exposição altíssimo. Acho que se não o tivesse tratado bem no primeiro processo (em 2010), não tivesse dado feedback e não tivesse criado um vínculo com ele, dificilmente ele teria confiado em mim quando liguei para ele em 2015 convidando-o para o terceiro processo seletivo comigo!

No entanto, algo me choca! Infelizmente de alguns anos para cá pude notar que quando ligo para um candidato para informá-lo sobre sua reprovação no processo seletivo, o profissional manifesta extrema gratidão pela minha atitude: “Muito obrigado pelo feedback! Realmente esse é um diferencial da sua empresa!”. Muitos dizem que nunca tiveram feedbacks tão completos; aliás, a maioria diz que nunca recebe feedback.

Você não tem recebido feedbacks negativos dos processos que tem participado  porque o Recrutador anda muito ensimesmado.

Entendo o candidato como um verdadeiro tesouro que possuo. É o mínimo que posso fazer por quem dedicou tempo de me enviar o CV, de vir até mim para uma primeira entrevista e, às vezes, de participar de outras etapas do processo. Mais do que obrigação do Recrutador, acredito que o feedback seja um ato de educação e de cordialidade; de sensibilidade e sutileza.  

Num mundo de interesses cada vez mais egoístas (e não coletivos), continuo acreditando no jargão “gentileza gera gentileza”.

Aquele que detém a elevada faculdade de fazer bem ao próximo, sentirá no ádito do coração o mesmo conforto que a outrem proporcionar.