A felicidade não é um objetivo a ser alcançado!

Se você está lendo esse texto certamente algo te chamou atenção no título. O título pode ter te causado incômodo ou curiosidade. O incômodo pode fazer com que você discorde de mim e rejeite minhas ideias mesmo sem ler todo o conteúdo do texto. Já a curiosidade pode estar fazendo você se perguntar como é que o objetivo de um ser humano pode não ser a felicidade.  

Todos nós sabemos que  o conceito de felicidade é distinto para cada pessoa. Mas, independente dessa diferença do conceito de felicidade individual, me parece que a felicidade está sempre atrelada ou ao passado ou ao futuro.

Nós todos temos uma história, permeada de momentos bons e ruins, que influencia quem somos hoje. Não é raro olharmos para o passado e nos apegarmos às situações positivas que nos trouxeram momentos de alegria ou serenidade. Não estou me referindo ao simples olhar para o passado para relembrar e resgatar nossa história, mas sim ao olhar com viés da lamentação e busca pela repetição e atualização daqueles momentos que nos trouxeram uma sensação de bem estar.  

O que não sabemos hoje é que no passado, provavelmente não dávamos tanto valor para esses momentos de felicidade, quanto damos hoje.  

Não é só da felicidade passada que sentimos saudade. Nós alimentamos a nossa esperança de que seremos felizes no futuro se.... ou quando.... Algumas frases clichês nos ajudam a exemplificar: "Serei feliz quando casar e tiver filhos... "Serei feliz quando tiver meu apartamento ou minha casa própria".. "Serei feliz quando mudar de emprego e me livrar do meu chefe"... "Serei feliz quando viajar ao redor do mundo"... e  etc., etc., etc., etc.

Se vivermos a nossa vida,fazendo planos com base na esperança de que só seremos felizes se atualizarmos a felicidade do passado no momento presente ou realizarmos no futuro tudo que almejamos (idealizamos) conquistar, a verdade é que seremos infinitamente infelizes. Precisamos repensar na ideia que venderam para gente de que é possível sermos felizes o tempo todo se tivermos os ingredientes infalíveis e idealizados para a felicidade.

Cada um tem uma receita, mas alguns ingredientes parecem ser escolhidos com mais frequência para a tal da receita da felicidade: três xícara de "companheiro perfeito que sempre nos faz feliz", 4 colheres de "o chefe maravilhoso que é sempre compreensivo", uma pitada de "a casa perfeita com filhos perfeitos". Misture tudo e bata com meio quilo de "conta bancária perfeita e viagens internacionais". Pronto, agora acrescente os ingredientes a gosto para personalizar sua receita.  

Pensar assim é acreditar que o mundo existe para nos fazer feliz. Um pouco de ingenuidade, não?

O nosso objetivo na vida é aprender a lidar com os desafios ( que são diferentes para cada pessoa) e isso inclui saber viver os momentos de alegria e de tristeza, de força e de fraqueza, de conquistas e de perdas, de saúde e de doença, de dinheiro e com a falta dele, com sucesso e com fracasso, sem que nosso mundo ou mesmo a gente só exista se todas ou parte dessas exigências forem atendidas. No final das contas, isso quer dizer que a felicidade que tanto almejamos e procuramos está e só pode existir no momento presente, no aqui e no agora.

Muitos de nós achamos que o que temos hoje não é bom. Às vezes, realmente estamos passando por momentos difíceis, dolorosos, em que nos sentimentos sem esperanças de que algo poderá ser melhor do que é hoje. Preciso deixar bem claro aqui que não acho que temos que nos acomodar com a nossa realidade, se ela não está como poderia ser. Podemos sempre evoluir, transformar a nós mesmos e a nossa realidade.

É importante que a gente possa sonhar, se imaginar diferente do que somos hoje, mas o sonho não pode ser o condicionante de nossa felicidade. Só serei feliz se... ou só serei feliz quando...

Viver a tal da felicidade tão almejada é poder sonhar e ao mesmo tempo aceitar e aprender a lidar com a realidade que temos hoje, pois só assim sentiremos momentos de paz, gratidão, serenidade e nos tornaremos conscientes e responsáveis por nós mesmos e pela nossa vida. 

Rani Peixoto, psicóloga, apaixonada  pelo desenvolvimento e transformação de pessoas. Atua como consultora na Escola de Mentores e realiza atendimento psicoterápico na clínica particular e no Ambulatório Integrado Transtornos de Personalidade e do Impulso HC - Ipq FMUSP. 

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