Filme Les Misérables e a lição de “Não Revanche”
Neste fim de semana fui convidada por meu esposo para assistir no Teatro Renault a Peça Los Misérables, seria a última semana que a peça estaria em cartaz e não queríamos perde-la. A peça é baseada na obra prima escrita pelo francês Victor Hugo publicada em 1862. Confesso que sabia da existência da obra por conta da sua grandiosidade e fama, mas nunca havia tomado contato com seu conteúdo até então, reitero aqui que ainda não li o livro. Para melhor entender o musical, meu esposo sugeriu vermos antes o filme baseado na mesma obra; vimos então na noite anterior ao teatro o Filme: Os Miseráveis de 1998; sob a Direção de Billi August.
Poucas situações me deixam sem palavras, sem uma opinião formada e confesso que este filme foi um chute no estômago para mim; não que eu tenha levado algum; mas quando assisto a lutas e filmes, percebo que quando alguém leva um chute no estômago paralisa por instantes, tenta recuperar o folego e depois consegue se reerguer (ou não, dependendo da intensidade); também não quero fazer nenhuma apologia à violência aqui; é somente para ilustrar com uma imagem como fiquei “sem reação”... profundamente incomodada, tentando entender o que diabos eu estava sentido depois de ver o filme”....meu marido, como de costume perguntou minha opinião, segundo o julgamento dele consigo extrair boas lições dos filmes e minha reação o surpreendeu. Infelizmente vou ficar te devendo essa, pois estou sem palavras, mexida, não sei o que aconteceu e onde esse filme tocou, a única coisa que te asseguro é que senti um chute no estômago e preciso decantar.
E assim acolhi o ocorrido e me permiti decantar por alguns dias. No dia seguinte fomos assistir ao musical, achei tudo maravilhoso, mas continuei decantando o filme, ainda não havia compreendido porque estava tão incomodada. Voltei a vida normal, as vezes me pegava refletindo sobre o filme, mas resolvi soltar, pensei comigo... na hora certa a ficha cairá e eu compreenderei. Depois de soltar a necessidade de entendimento, no meio da sessão de coaching com minha mentora; sou aluna de Coaching Ontológico da Escola Newfiled do Chile; senti um PUTZZZZ entendi agora porque o Filme Os Miseráveis mexeu tanto comigo... o que mais me surpreendeu foi a capacidade do personagem principal Jean Valjean de não se vingar.
Não quero bancar aqui a spoiler, recomendo que os interessados vejam o filme, mas fiquei impressionada no quanto ele, Jean Valjean, foi perseguido por Javert e quando ele teve em suas mãos oportunidades de acabar com seu algoz, não o fazia.... dentro de mim; sou o tipo de pessoa que fica torcendo e sugerindo em silêncio possíveis reações dos personagens; eu pensava.... Senhor Deus, acaba logo com esse infeliz; larga mão de ser tão bom... ele vai acabar com você na primeira oportunidade que ele tiver... ele não teria a mesma compaixão com você. Enfim, fiquei emitindo internamente uma série de julgamentos contrários as reações de Jean.
As reações de Jean Valjean me surpreendiam, sua paciência e compreensão com a filha adotiva, quando eu a julgava ingrata e mimada, sua capacidade de desculpar-se quando em algum momento se exaltava, sua capacidade de compreender e acolher o sentimento dos demais, sem julgá-los fúteis ou banais. Na verdade, me dei conta do quão a frente do que vivemos hoje este personagem de Victor Hugo está, pois ele não carregava consigo a capacidade de julgar os demais e não tinha em momento algum a necessidade de revidar.
Parei e olhei para mim por uns instantes, algumas perguntas surgiram: Quanta energia já perdi nesta vida revidando? ... Tentando mostrar para os outros e para o mundo que os julgamentos que tinham feito a respeito de mim estavam errados? ... Quantas vezes dentro de mim vivi o sentimento ... A é bonitão (a)?! Você me falou isso, me fez isso... espera que a vingança tarda, mas não falha! ... O mundo é redondo, não tem canto pra se esconder, um dia a gente se encontra!... E por fim, acreditava piamente que quem bate esquece, quem apanha nunca esquece... E o personagem que tanto me intrigou, Jean Valjean, apanhou e não esqueceu, mas também não teve necessidade de vingar-se.
Encerro me perguntando... vale a pena xingar quem cortou minha frente no transito? Alimentar velhas mágoas; querer provar para os demais isso ou aquilo?... A energia gasta para carregar tudo isso será muito mais bem investida se eu me dedicar aos meus sonhos, ao meu propósito, dedicar-me a aquilo que me faz feliz e por fim, sentir-me em paz comigo mesma.
Franciele Ropelato, 09/11/2017.