FOGO NO SÍTIO

FOGO NO SÍTIO

Inisio estava animado, contente, muito satisfeito com a sua lavoura, o ano era bom, tinha dado tudo certo, chuva e sol na hora certa, a produção foi excelente. Cuidou com muito carinho da sua lavoura de milho e de café. Já tinha dobrado o milho perto de sua casa. Eram espigas enormes. Estava chegando a hora da colheita. Inisio acompanhava tudo com muito carinho e cuidado. Estava apenas esperando mais alguns dias para o milho ficar no ponto. Na próxima semana iria realizar a colheita. O milho já estava seco, pronto para a colheita. Era uma bela colheita. O paiol e a tulha estavam cheios. Era um ano bom. A lavoura ia até bem pertinho das casas, tanto de café como a de milho. Eram pés de café enormes. Corria o ano de 1968. Era início do mês de julho. Estava tudo pronto para iniciar a colheita de milho.

Ai um vizinho, que tinha muitas galinhas em seu terreiro, criadas soltas, e essas galinhas estavam todas ficando doentes, com umas bolas pelo corpo, pela cabeça e morrendo, morriam muitas. Esse vizinho resolveu queimar estas galinhas mortas pela doença. Amontou as galinhas mortas bem na divisa do sítio de Inisio, bem pertinho da cerca, onde do outro lado estava a plantação de milho seco de Inisio, à espera do momento certo para a colheita. O vizinho imprudente, amontou as galinhas mortas ali, colocou palha seca em cima e ateou fogo. O fogo passou rapidamente para o milharal seco do Inisio, do outro lado da cerca, e ai foi um Deus nos acuda. O fogo se espalhou num instante, com suas labaredas enormes, não tinha quem pudesse segurar, por mais que todos tentassem apagar o fogo como podia. Desesperados até as crianças ajudavam, buscando água no poço, tirando com o sarilho, buscando na mina, no rio Marialva, onde houvesse água, ou com galhos verde, tentando abafa-lo, mas não teve jeito, o fogo espalhou por todo o sítio, queimou tudo, o milho seco, a tulha, o paiol, o parreiral de uva, o cafezal, perto da casa, até os balaios, as ferramentas, as máquinas portáteis de plantar, que estavam guardadas no paiol e na tulha, além de tudo que estava ali estocado, enfim tudo. Foi um prejuízo imenso e uma tristeza sem fim.

Inisio teve uma crise nervosa, quis matar o vizinho. Só não fez isso porque seus irmãos o seguraram. Mas a partir dai Inisio entrou em uma depressão profunda, nunca mais sarou, nunca mais foi o mesmo, sofreu muito e toda a família também, ele morreu disso.

A lavoura que vinha até perto das casas, com um cafezal enorme, viçoso, lindo, a partir desta experiência do fogo no sítio, foi recuada para longe das casas e em seu lugar plantou-se pasto.

Inisio morreu no dia 13 de novembro de 1973. Saímos daquele sítio no dia dezenove de agosto de 1974, faz cinquenta anos. São muitas histórias, memórias, lutas, utopias, alegrias e tristezas vividas ali. É preciso narrar para não esquecer.


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