A REDESCOBERTA DE JOSÉ LINS DO REGO
Tenho a mania de pegar um autor e ler quase toda a obra dele, ir fundo neste autor. Conhecer profundamente sua obra. Já fiz isso com muitos autores nacionais ou não. Neste momento estou conhecendo com mais profundidade o escritor brasileiro José Lins do Rego. No fundo, sua obra, tem uma marca muito forte de memórias que o autor viveu. Nascido e criado no nordeste, José Lins do Rego, nos conta o que viu, sentiu, viveu, de uma forma artisticamente bela. Está sendo uma experiência muito interessante ler José Lins..
Sempre tive um certo preconceito com a literatura de José Lins do Rego. Desde o seu primeiro livro e o mais popular, O Menino do Engenho, que li no colégio, considerava-o muito regional. Agora, mais maduro, depois de muitos anos, resolvi voltar a José Lins do Rego e ler quase toda a sua obra literária. Está sendo uma redescoberta maravilhosa, me surpreendeu. Meu preconceito contra sua obra não tinha nenhuma razão de existir. Estava perdendo muito com essa atitude. Na verdade, o preconceito nunca tem razão para existir, nunca faz nenhum sentido, seja qualquer tipo de preconceito, é no fundo total falta de conhecimento. Na verdade, José Lins do Rego, é universal, parte de sua memória local, mas é universal. Reli o Menino do Engenho com um outro olhar. É uma obra definidora. É o olhar de um menino que vê o mundo, o seu mundo, a partir do engenho que vive, vê o mundo a partir do seu lugar no mundo, o engenho de cana de açúcar. É o olhar do próprio autor, de suas memórias quando menino. Com toda a subjetividade. Falando do seu avô, o senhor de engenho, o menino diz:
"Ele sentia-se bem amigo de Deus com um coração bom que era o seu."
É um livro intenso.
No livro Doidinho, que é uma continuação do Menino do Engenho, o menino vai para o colégio interno, e vive ali toda as suas contradições e saudades. Diz:
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"Aos poucos, como uma dor que viesse picando devagarinho, a saudade do Santa Rosa me invadiu a alma inteira. O meu avô, os moleques, o campo(...) tudo me parecia perdido, muito longe, de um mundo que não podia mais voltar".
Depois, no livro Usina, José Lins do Rego, conta toda a crise que vive os engenhos antigos de cana de açúcar, que aos poucos começa a surgir, uma crise que vai acabar com um antigo modelo de produção no nordeste brasileiro, que vinha de longe. José Lins do Rego vive intensamente esta crise. Acaba com todo um mundo que existia nos engenhos antigos. Um crise profunda em todos os sentidos possíveis, econômica, humana e ambiental. O livro Usina, retrata toda a crise do velho engenho, sua agonia final e o surgimento da Usina moderna, com máquinas caras e modernas importadas dos Estados Unidos, que moe tudo, até gente, ou principalmente gente, que destrói tudo, a natureza, acaba com os rios, desvia rios, mata o homem, moe o homem trabalhador em suas engrenagens, sertanejo, que também logo entra em crise. A natureza se revolta e destrói a Usina. É a transição de um novo modelo econômico e de produção, que traz consequências terríveis, é o fim de um modelo, o fim de um mundo. José Lins do Rigo, registra essas suas memórias em forma de um belo romance com maestria, ele na verdade faz uma grave denúncia válida para sempre.
Depois li o livro Pedra Bonita, que na verdade é um romance sobre o cangaço e o fanatismo religioso. Por fim, o livro Fogo Morto, o último livro de José Lins do Rego, a sua obra prima. Neste livro ele amarra todos os outros que escreveu.
José Lins do Rego escreveu outras obras maravilhosas, profundas, humanas, universais. Ainda a ser descoberta por muitos.