Gastança desenfreada

Gastança desenfreada

A análise da evolução da inflação no Brasil, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), pode ser facilmente mal interpretada, dando uma falsa impressão de que o governo federal está conseguindo estabilizar os preços. Quando observamos o índice geral e o grupo de alimentação e bebidas, que possui um grande peso nas despesas das famílias brasileiras, especialmente das mais pobres, fica evidente que a situação está longe de ser tão favorável quanto o governo tenta fazer crer.

Desde junho de 2022, o índice geral do IPCA acumulado em 12 meses mostra uma trajetória de queda constante, passando de aproximadamente 11,9% para 3,2% em junho de 2023. Contudo, após esse período, o índice se estabiliza em torno de 4,2% até junho de 2024, com uma leve tendência de alta. De acordo com analistas do mercado financeiro, o índice geral de inflação deve fechar em 4,2% no acumulado do ano, indicando uma aparente estabilidade.

Essa análise de tendência é crucial para compreendermos os efeitos das políticas econômicas sobre os agregados econômicos, avaliando a eficiência das medidas no controle da inflação. No entanto, ao focarmos no grupo de alimentação e bebidas, percebemos uma tendência preocupante de alta dos preços desde meados do ano passado. O índice acumulado em 12 meses para esse grupo está em 4,7%, com a expectativa de ultrapassar 5,4% no acumulado do ano, destacando uma elevação mais vigorosa dos preços.

A resposta do governo federal tem sido a de culpar as políticas do Banco Central em relação aos juros elevados, o que, de fato, tem contribuído para o aumento dos custos. É inegável que a dosimetria dos juros é excessiva, porém, a economia brasileira não apresenta condições normais. O principal fator desestabilizador é o desequilíbrio nas contas públicas, agravado pela insistência do governo em culpar terceiros e não assumir a responsabilidade pela gastança excessiva.

Sempre que se fala em buscar o equilíbrio, a solução apresentada é o aumento da arrecadação, traduzido em aumento de impostos. No entanto, o governo deve demonstrar um compromisso efetivo com o equilíbrio fiscal, realizando ajustes significativos no lado das despesas, especialmente nas discricionárias, como as emendas parlamentares. Muitas dessas despesas poderiam ser racionalizadas, e a justificativa de que as emendas diminuem a crise nos municípios é falaciosa.

Com uma gestão mais eficiente dos gastos públicos e uma racionalização das despesas, equilibrando as contas, a pressão de risco sobre os juros diminuirá, incentivando investimentos, gerando empregos e renda. Esse ciclo virtuoso é o caminho para amenizar a crise social e impulsionar a prosperidade. O governo deve ser mais vigilante e implementar políticas que mitiguem o aumento do custo de vida e a chave para isso reside em juros menores, resultantes do equilíbrio das contas públicas por meio de cortes nas despesas não obrigatórias, sem penalizar os direitos sociais dos brasileiros. Infelizmente, o que vemos é uma gastança desenfreada com emendas parlamentares, que alimenta um ciclo vicioso de ineficiência e desperdício. Enquanto o governo continuar priorizando interesses políticos a curto prazo em detrimento da saúde econômica do país, os brasileiros continuarão sofrendo com a inflação alta.

A prosperidade econômica não virá com soluções paliativas e aumentos de impostos, mas com uma gestão fiscal responsável que promova a eficiência, a transparência e a responsabilidade. Somente assim conseguiremos um Brasil mais justo e próspero para todos.



Rogério Ribeiro - Economista formado pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA), atual campus de Apucarana da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Mestre em Economia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na UNIOESTE - campus de Toledo.

É professor do colegiado do curso de Ciências Econômicas da UNESPAR - campus de Apucarana desde 1992. Foi chefe do Departamento de Economia e coordenador do curso de Ciências Econômicas.

Atuou como coordenador administrativo de 2002 a 2010 e de 2010 a 2014 foi diretor da FECEA. De janeiro de 2014 a dezembro de 2020 foi Pró-reitor de Administração e Finanças da UNESPAR.

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