Google e o AlphaGo
Sempre gostei muito de jogos de tabuleiro clássicos, como xadrez, damas, trilha, gamão, entre outros. São atividades que desafiam o intelecto por meio da formulação de estratégias abstratas de grande componente estético e simbólico. Dentre todos eles, o que talvez seja o mais belo e, ao mesmo tempo mais desafiante, e por que não dizer, ameaçador, é o antigo jogo de Go.
De origem milenar chinesa (as primeiras referências surgem há mais ou menos 2.500 anos), é um jogo no qual peças brancas e pretas (chamadas “pedras”) são posicionadas em um tabuleiro de 19x19. Ele é estático, ou seja, quando as peças são posicionadas, não mais podem ser movidas. O objetivo é dominar, ao final da partida, o maior espaço (área) no tabuleiro. Quando um conjunto de pedras de uma determinada cor for completamente cercado por peças do oponente, elas são removidas do tabuleiro e aquela área passa a ser controlada por quem efetuou o cerco.
Pois bem, vale ressaltar que o Go sempre foi um dos grandes objetivos perseguidos por aqueles que desenvolvem sistemas de inteligência artificial. E por que? Ao contrário do xadrez e de outros jogos, a quantidade de posições que podem ser geradas em uma partida de Go é tão grande que não é possível imaginar sistemas computacionais analisando todas as variantes (é a chamada “força bruta”, que embasa a forma como a maioria dos algoritmos que jogam xadrez é desenhada, por exemplo). Para se ter uma ideia, esse número de possíveis posições excede as estimativas que definem o número de átomos do universo!
Resumindo, é um jogo em que o processo de tomada de decisões é baseado, em muitos casos, em conceitos que nós, humanos, chamamos de “intuição”, e não puramente na análise lógica e na extrapolação de posições. Estimava-se que algoritmos jogadores de Go seriam capazes de vencer profissionais por volta de 2030, apesar dos investimentos em P&D associados ao seu desenvolvimento, impulsionados, hoje em dia, principalmente por dois gigantes da tecnologia: Google e Facebook.
Eis que, recentemente, a equipe do Google anunciou, por meio da publicação de um artigo na revista científica britânica Nature (incluí o link abaixo: vale a pena, muito interessante!) , que seu algoritmo AlphaGo foi capaz de derrotar, cinco vezes seguidas, o campeão europeu de Go (depois que escrevi esse artigo o AlphaGo derrotou consistentemente o campeão mundial de Go, considerado por muitos o maior jogador da história do jogo!). Trata-se de uma grande ruptura de paradigma, na qual, pela primeira vez, máquinas começam a ser capazes de avaliar situações e decidir utilizando características humanas - e, inclusive, errando em alguns casos!
A esse mesmo novo conceito estão associadas iniciativas como, por exemplo, o Watson (IBM), algoritmos capazes de entender a linguagem natural humana (incluindo gírias, palavrões, entonações etc.) e que já atingem resultados notáveis - para quem ainda não viu o Watson desafiar os campeões do tradicional quiz-show americano Jeopardy, vale a pena! É o despertar da Inteligência Artificial, uma das grandes forças que, na minha opinião, irão moldar o nosso futuro.
Esses avanços serão determinantes, no médio prazo, para o processo que hoje começamos a chamar de “Quarta Revolução Industrial” e que envolve, sobretudo, a integração de elementos físico-digitais a processos produtivos e operacionais. Este é exatamente o contexto no qual buscamos, nos últimos anos, posicionar a Logicalis na América Latina, e que parte de uma visão puramente de TI e Comunicações para uma proposta de agregar elementos de serviços, software e IoT em seu portfólio.
Quando olhamos a partir da perspectiva de onde nos encontramos, Inteligência Artificial comercialmente disponível ainda parece algo distante, mas tenho certeza de que em um horizonte de cinco a dez anos, sistemas inteligentes serão gradualmente incorporados às cadeias produtivas, gerando impactos econômicos, sociais e políticos em âmbito global e ainda difíceis de imaginar e avaliar.
O importante para uma empresa como a Logicalis é não perder de vista o objetivo de estar ao lado de nossos clientes, com um entendimento claro das tendências de evolução tecnológica e com a missão de ajudá-los nesses processos de transformação, sempre com uma postura pragmática, isenta e focada no negócio.
Um grande desafio para todos nós. O futuro está bem mais perto do que parece.
Um abraço grande,
Rodrigo
P.S. (para os mais nerds como eu!):
Link da revista Nature:
Google AI algorithm masters ancient game of Go : Nature News & Comment
IBM Watson jogando Jeopardy
IBM's Watson Supercomputer Destroys Humans in Jeopardy | Engadget - YouTube
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8 aExcelente texto, Rodrigo