GOTAS DE MÃE E FILHA
Revisitar nossa história quase sempre nos surpreende e nos transforma de algum modo.
CORTA PARA UMA CENA HÁ 12 ANOS ATRÁS - Estamos sentados eu e meu marido na praça de um shopping e nossa filha casualmente diz:
"...Eu estive pensando na minha vida, nos últimos meses, na correria, na empresa, em mim, nas pessoas, em vocês, pensando e eu acho ( mais dizendo) eu decido que vou sair da empresa, para fazer uns cursos, e no segundo semestre procuro outro trabalho na minha área, daí eu vejo."
“ Vai mudar sua vida” – “ Toda ação tem uma reação” diz meu marido, tentando ser o mais neutro possível.
“Eu sei” ela responde – Eu sei, mas não quero que se decepcionem, não quero ter mais pessoas me dizendo que não acreditam mais em mim, ou que desistiram de mim, como já tenho ouvido ultimamente. (como se ME dissesse, até agora ninguém me perguntou como eu estou me sentindo)
E nesse momento, dá um nó na garganta, o olho encharca, o coração acelera, e num turbilhão de emoções tento engolir seco, e estancar as lágrimas, enquanto como em slow motion tudo ficasse lento, já não ouço mais nada, só meus pensamentos tentando me conter sem emitir qualquer opinião contrária nesse momento, de algum modo buscando em mim mesma, a menina que era aos meus 21 anos, tentando me colocar no seu lugar e buscando a resposta certa que tanto esperaria ouvir numa situação assim. Mas não consigo fazer nada, travei. (CORTA PARA HOJE - É, um pouco vergonhoso me ver como uma mãe super protetora crendo piamente que ter sua filha embaixo da asa a faria não sofrer das coisas do mundo)
Eu fico olhando para ela e queria dizer...que eu sei o que ela nunca vai aprender na escola, na faculdade ou no trabalho de conclusão do curso. Eu queria lhe dizer que as feridas de uma decisão sempre se curam, mas que tornar-se mulher lhe deixará uma ferida emocional tão exposta que ela estará sempre vulnerável. (CORTA PARA HOJE - Como nossas crenças limitantes e nossa mente corrobora com pensamentos tão sem propósito? Tão desconstrutivos ao invés de empoderadores.)
Eu pensei em alertá-la que nunca mais ela iria poder pedir dispensa do seu horário de trabalho para estudar com os amigos da facu, e mesmo que conseguisse dispensa com toda certeza seria a exceção da exceção, e não a regra. E que a cada atraso, e a cada falta, e a cada tarefa não entregue ela teria menos pontos com a sua chefia e colegas, sim porque dificilmente ela encontraria amigos no serviço, não existiria muito tempo para amenidades. (CORTA PARA HOJE - Ela não só fez excelentes amigos como também tem "suas regalias" por mérito adquirido, porque administra com esmero o seu comprometimento e responsabilidade)
Eu sianto que deveria avisá-la que não importa quantos anos ela tenha investido em sua carreira, ela será arrancada dos trilhos profissionais por diversos acontecimentos e situações, por mais que ela não deseje, mas que deverá se manter firme num propósito por ela e pelos seus sonhos, custe o que custar, doa o que doer, porque a dor da desistência será muito maior ao peso dos anos. (CORTA PARA HOJE - ERRATA - APRENDI que É importante saber distinguir o ato de desistir: quando é uma falta de esforço e comprometimento, quando é uma derrota ou quando é um simples ato de sabedoria - é a sua verdade que importa não a opinião dos outros)
Eu quero que minha filha saiba que decisões do dia a dia não serão roteiro de comédia romântica, mas que os resultados das mesmas também não deverão se tornar dramalhões ao longo da vida, porque em sua produção diária de histórias sempre poderá dar o tom que quiser, pois tem toda criatividade e imaginação para montar o final que lhe seja mais feliz. Eu entendo que ela deveria saber que não importa o quanto assertiva ela possa ser, ela sempre se questionará como mulher, como esposa, como mãe e por fim como profissional também. (CORTA PARA HOJE - E... tudo bem não ter todas as respostas, tudo bem não estar bem um dia o outro, tudo bem querer de vez em quando se trancar numa bolha prá não ver as agruras, como tá tudo bem não querer ser o que a sociedade diz ser o caminho padrão e "mais normal")
Olhando–a eu quero assegurá-la que o peso desta decisão eventualmente será esquecido, mas que jamais se sentirá a mesma sobre si mesma. Como hoje se sentiu sobre os amigos do colégio e os amigos atuais Que a vida dela hoje tão importante, será de menor valor quando ela decidir ser mãe. Que ela a daria num segundo para salvar a sua cria, mas que ela passará a desejar por mais anos de vida – não para realizar seus próprios sonhos, mas para ver seus filhos realizarem os deles, como eu nesse momento tendo que entendê-la e de alguma maneira guiá-la. (CORTA PARA HOJE - E... que bom que podemos transmutar pesos em aprendizados, que podemos de largatas virar borboletas; e que uma mulher pode trabalhar ou não, querer ou não ser mãe e se o for, ter uma crise pós parto, um medo incomensurável de como agir, reclamar que os seios doem ao dar de mamar, e que esse papo de ser mãe...é padecer no paraíso, provavelmente, foi criado por um Homem Cisgênero filho de uma mãe muito Amélia)
Eu realmente gostaria que minha filha pudesse de algum modo entender a conexão das coisas, e espero profundamente que ela entenda porque eu posso pensar racionalmente sobre a maioria das coisas, mas que eu me torno temporariamente insana quando eu discuto qualquer assunto que possa mudar o curso de sua vida futura, como guerras, catástrofes, violência, etc. (CORTA PARA HOJE - Priorizemos o momento presente, o momento no AGORA é só isso que realmente importa, o Abraço de agora, o Olhar de agora, o Beijo e o Eu te amo de Agora )
Eu queria descrever a enorme emoção de vê-la nascer, de tê-la em meus braços mamando, do medo e do frio na barriga em seus primeiros passos, da enorme alegria na sua primeira palavra, no enorme orgulho em sua formatura ainda menina, e no medo que sinto agora da desmamada, dos primeiros passos, dos novos encontros e desencontros. Eu quero que ela possa sentir a alegria que é tão real quanto o sentido de impotência que chega a doer. O olhar dela a espera de uma posição minha me diz que esqueci de me preparar para esse momento, e eu queria que ela soubesse que com ela será do mesmo jeito, pois nenhuma escola nos prepara para a VIDA. (CORTA PARA HOJE - Na semana passada, tive a chance de vê-la rindo gostoso, contando sobre esse nosso momento para uma amiga, por isso este artigo)
Sei que ela me espera com um aval, com um sinal de aprovação, com um apoio. Sei que será difícil, sei que me será difícil, mas como dizê-lo? Como fazê-lo?
Hoje mais uma gota, especial sim, doida, sentida. Uma gota de mãe. Uma gota de filha.(CORTA PARA HOJE - Não há arrependimentos somente a gratidão por poder ter tido a chance de ser verdadeiramente EU MESMA, seja há doze anos atrás como hoje, certa de que ser mãe é poder dar asas amorosamente a mim e a minha filha)
Drica Ferraz Arte
3 aQue lindo e profundo!
Empreendedor social, Palhaço, Ator
3 aLindo demais!!!
Fábrica - A agência mais legal do mundo.
3 a❤️🙏❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️🙏
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3 aLindo, lindo, lindo, Isabel Cristina Pipolo!