Grãos de ideias para uma comunicação qualitativa

Grãos de ideias para uma comunicação qualitativa

Esse artigo é para todo profissional interessado em comunicação e sustentabilidade, e traz reflexões sobre de que forma fazer negócios reais com pessoas reais.

Desde que conheci Vandana Shiva e seu movimento de banco de sementes comunitário, o Navdanya, tenho vontade de conhecer pessoalmente uma dessas iniciativas agroecológicas baseadas na conservação e na diversidade. Em maio passado consegui, e foi na França, país onde moro atualmente. Participei do workshop “Da semente à semente – Os saberes e técnicas a assimilar para cultivar porta-sementes de qualidade”, organizado pelo CRBA (sigla em francês para Centre de Ressources de Botanique Aplliquée, ou Centro de Recursos em Botânica Aplicada), que ocorreu na Fazenda Melchior, em Charly, na metrópole de Lyon, para um grupo reduzido de 10 pessoas mais (ou menos) interessadas no cultivo de sementes locais. Também chamadas de crioulas, essas sementes são basicamente aquelas cultivadas sem alteração genética ou utilização de produtos químicos, e que são sinônimo de alimentação saudável.

Criar redes comunicantes para crescer em qualidade

O meio ambiente é um tema que tem me acompanhado desde cedo na minha carreira: desde o meu primeiro emprego no Instituto Pensarte com Leonardo Brant e Israel do Vale, passando pelo Cristalino Lodge, fundado por Vitória Da Riva e pilotado por Alex Da Riva, até chegar ao trabalho mais recente com Isabelle Moulin e o Silk me Back. Foi graças sobretudo ao trabalho que desenvolvi com Isabelle em 2019 que conheci o CRBA.

O workshop do CRBA foi inteiramente gratuito e dividido em dois momentos, um ocorrido em maio e outro, que acontecerá em setembro. A ideia é ensinar os participantes a cultivarem porta-grãos de qualidade nos seus próprios jardins seguindo os procedimentos da etnobotânica do CRBA. Assim, o centro "empresta" os jardins de moradores da região de Lyon para conseguir produzir uma maior quantidade de sementes crioulas. Cada participante se compromete em trazer de volta para o CRBA metade das sementes que ele produzir, recebendo então sinal verde para participar do segundo workshop em setembro, e consequentemente para “apadrinhar” outras variedades de grãos do CRBA, tornando-se no fim das contas um parceiro. O objetivo final é resgatar a biodiversidade local, contribuindo, no limite, para a garantia da segurança alimentar na França e no mundo.

A criação de redes comunicantes de trabalho é muito importante para o desenvolvimento de iniciativas sustentáveis. Trata-se antes de mais nada, de uma visão horizontal, mais alargada e alternativa, muito criativa e humana, que, ao meu ver, deve-se privilegiar tanto nas relações inter-pessoais como nas relações profissionais, pensando em complementar e equilibrar a outra ação vertical, aquela que visa o lucro, as honras e méritos. O conjunto de ambas em seu complexo dinamismo permite aos profissionais de, juntos, irem mais fundo em um determinado assunto, ampliando seu campo de ação e ao mesmo tempo enraizando até a chegar na essência: o grão, aquilo que contém o capital genético.

Adaptar palavras no ato da comunicação

A adaptação é um tema caro à minha experiência de vida profissional. Mais precisamente a partir de 2017 quando escolho me desenraizar do Brasil para seguir meu caminho profissional na França, sinto uma grande necessidade de estabelecer relações de trabalho mais afetivas que levem em conta a humanidade do outro, suas motivações e habilidades criativas, e baseadas em empatia e na comunicação positiva para o desenvolvimento de temas pertinentes à sociedade atual, caso por exemplo da sustentabilidade, hoje presente em todos setores, no turismo, na hotelaria, na gastronomia, na moda, etc.

O workshop do CRBA fala sobre sementes crioulas, ou seja, aqueles que souberam se adaptar ao longo dos séculos a uma terra nova e que acumularam um saber único para se desenvolver nesse ambiente específico.

A adaptabilidade pressupõe uma estratégia de luta em uma determinada direção e um subsequente reconhecimento dessa força de sobrevivência positiva pelo meio ambiente. Uma estratégia, termo que vem da área militar, é construída, antes de mais nada, baseada no reconhecimento da estratégia do outro e, na medida em que é colocada em prática, na sua constante adaptação em relação à estratégia inicial. É importante desenvolver essa qualidade do adaptar-se também na comunicação, seja ela interpessoal, com parceiros ou clientes. Conhecer o terreno de atuação, a cada paisagem, cada estação, a cada parceria mantendo em mente essa noção dinâmica meio brincalhona, mais homo ludicus e menos homo economicus. A comunicação não é uma fórmula pronta mas um constante adaptar-se a si mesmo e com o outro no maravilhoso jogo que é a vida.

O poder verdejante da comunicação

Termino com a ideia de maravilhar-se no âmbito do trabalho. Essa poderosa qualidade humana de poder se encantar com algo que, quando colocada em prática em grupo, leva a trabalhos formidáveis. Tanto nos setores das artes, nas danças e na poesia, onde esse aspecto é mais evidente, quanto nas ciências e também na mídia; tanto no nível governamental como privado. Somos todos portadores de grãos de saber incríveis e é muito bom quando trabalhamos em conjunto para cultivá-los de maneira verdadeira, acreditando, sempre que possível, na sua potência verdejante.

Pensar maneiras de nos comunicarmos e de divulgarmos nossas estratégias corporativas de forma menos interesseira e mais interessada ajuda a manter o foco, a exercitar um olhar aberto para o mundo e a enriquecer o acervo pessoal de experiências, o que só tende a trazer boas oportunidades e ótimas recompensas. O grão porta em si essa extraordinária dinâmica criadora, símbolo último de transmissão, movimento e prosperidade.

Meu grão é sensibilizar especialistas e pesquisadores da importância de informar e comunicar de forma diferente e para diferente pessoas.

Deborah Rocha

Fondatrice DO FIO DA SEDA | Entrepreneur de la soie à Lyon | Polyglotte portugais, anglais, français, italien, espagnol

3 a

Il y aura la version en français demain Isabelle Moulin, ça sera plus simple a lire!

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