Ocas de pensamento na Amazônia de Sebastião Salgado
Esse artigo é para todo profissional interessado em comunicação e sustentabilidade, e traz reflexões sobre de que forma fazer negócios reais com pessoas reais.
No fim de semana retrasado estive na exposição "Amazônia" do Sebastião Salgado, em Paris. Algumas reflexões minhas em torno de "ocas" centrais válidas também para o mundo dos negócios.
A escuta
A exposição Amazônia de Salgado, sem dúvida sua master class, contou com uma grandiosa instalação sonora composta por Jean-Michel Jarre, Heitor-Villa-Lobos, Rodolfo Stroeter e Marlui Miranda. Não à toa a exposição está sediada na Philarmonie de Paris.
Exercício fundamental para qualquer boa comunicação. Mais importante do que saber falar a língua do outro, é saber escutar os sons, a melodia, do que diz o outro. Saber resumir, tirar o sumo, trocar em miúdos. Isso te levará a relações de trabalho melhores e mais perspicazes, além de aguçar seus sentido para o que se passa também na sua "paisagem sonora", estar mais ciente de si é chave para lidar com outros.
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O inútil
Já no título o livro do índio Ailton Krenak me chamou a atenção para um modo de vida menos "utilitário". "A vida não é útil", seu último livro pela Companhia das Letras, com reflexões provocadas pela pandemia, o pensador e líder indígena chama a atenção para as tendências destrutivas da chamada "civilização". Momentos de tempo suspenso como o da exposição de Salgado nos levam a "desautomatizar" nossos modos de pensar, de trabalhar e de ver e ouvir nosso entorno. Não se trata apenas da arte permeando a vida, mas a arte sendo vida, vidarte. Nesse livrinho de 126 páginas que quase cabe na palma da mão, Krenak diz algo assim: "Não precisamos nos desenvolver, mas nos envolver". Ao longo da exposição de Salgado, fui envolvida por sua floresta sinfônica de imagens, tive uma especial sensação de flutuação na projeção de fotos de paisagem que acompanha com poesia a obra "Erosão (origem do rio Amazonas)" de Heitor Villa-Lobos. Quanta volúpia!
O preto e branco
Depois de três horas de exposição, saí de lá ainda com a floresta no pensamento. No dia seguinte, o preto-e-o-branco ganhando cores bem vivas na minha imaginação, muito além dos tons de branco, tons de preto, cinzas e, principalmente, para além do auri-verde. Exposição brasileira, e trans-frontaleira que expande os horizontes, abre os ouvidos e o coração. Considero importante cultivar essas vivências para também trabalhar melhor. Nós seres humanos temos capacidade de captar muitas cores em nossa retina, mas e se captássemos apenas preto e branco? E se o "real" fosse uma tela em branco? Que cores você jogaria nela? Hoje, quais foram os tons? E ontem, foram os mesmos, ou mudaram? E os animais que captam nuances de cores que nós humanos não podemos perceber com nossa visão limitada. Realmente esse sinergia de sentidos (visão e escuta entrelaçados) é um guia e tanto nessa jornada amazônica. Considerar antes de agir, opinar, decidir. Ouvir o entorno. Nuançar.
O coletivo
Inútil dizer o lugar que ocupa o coletivo entre as tribos indígenas. Sem contar com a parceria entre Sebastião e Lélia em primeiro lugar, companheiros de vida e de trabalho. Em segundo lugar, entre as fotografias de Sebastião e o Instituto Terra, em Minas Gerais, para o qual a exposição reverte uma parte da renda. Também a lojinha com preciosa seleção de obras sobre Brasil, índios, natureza, entre Brasil e França. Dá gosto de ver! O livro com fotos da exposição custa 100€, um valor bastante honesto para a magnitude da obra. Foram 7 anos de expedições nos rincões do Brasil profundo, tribos isoladas contactadas, mais de 400 fotos de uma floresta sebastiana. Coletivar, pessoal, é trabalho urgente.
Fondatrice DO FIO DA SEDA | Entrepreneur de la soie à Lyon | Polyglotte portugais, anglais, français, italien, espagnol
3 aFlavio Pavan como vai? Obrigada pelo jóia