A grande Meretriz
Também conhecida como mulher da vida, representada pela mulher independente, dona de si, onde assim como uma mulher comum, usa o homem como meio de sobrevivência, porém não tem vínculo ou compromisso com este ou qualquer homem. Aquela que por não ter vínculo ou obrigações pode se assumir na sua mais profunda verdade existencial, tanto de beleza, inteligência como de desejos e escolhas.
Mulher temida por homens e mulheres, devido a sua audácia e força de verdade. Seria este o sonho de consumo de todas mulheres? Sonho que a arremessa em desespero, pelo medo de realidade socio-cultural. Será esse então o motivo real de tamanha repulsa e condenação, que joga as meretrizes de todos os tempos no mais profundo poço existencial, um poço tão profundo que tem a capacidade ilusória de transmitir a fantasia de que ela não existirá nunca mais, aliviando o risco de desejo inconsciente feminino e apimentando o masculino.
Puta, palavra proibida, considerada como o mais ímpio palavrão, onde se trata de um grupo de palavras que são consideradas, em meio a sociedade, vulgares e desnecessárias. Verbalizar essa palavra sempre foi considerado o cume do constrangimento. A educação rege a exclusão do seu sentido e realidade. Toda sociedade que se considere do bem a teme, assim rege a boa educação. Quem não presenciou na vida uma boa briga entre meninos simplesmente por se insinuar a mãe como puta. Essa sempre foi a mais alta noção de ofensa perante a moral dos seres humanos.
Puta, um ser desejado pelo inconsciente masculino, por representar a liberdade de se viver um grande amor sem compromisso ou permanência. Essas mulheres livres e permissíveis, capazes de realizar os desejos imensuráveis pela capacidade imaginaria sexual masculina. Também alvo da ira feminina, que acredita ser possuidora do controle e potência de seu homem, que na verdade tem a intensão de tomá-la como sua. Conflito existencial de ambos, pois ela, a Puta, nem é capaz de concretizar o alcance do desejo masculino e nem do temor feminino, é apenas uma mulher, como todas do universo, que possui a ilusão de encontrar o grande amor, que para todos os seres humanos têm a representação de felicidade, que nada mais é que a busco do encontro do Édipo perfeito.
Afinal por que o garoto se ofende por chamarem a sua mãe de puta, se realmente ele sabe que ela não é, ou será que essa dúvida perdura em seu inconsciente?
A mulher por sua vez, vive assombrada por essa mesma Meretriz que vive no fundo daquele poço frio, escuro e isolado do universo a sua volta. A meretriz que lhe assombra a consciência de todas as noites, dias e tardes. A meretriz que sonha ser feliz e é impedida pelo medo da semelhança e do desejo incubado de liberdade de escolha.
A mulher nasce, cresce e se desenvolve à sombra da Meretriz, enclausurada e acorrentada, que lhe é apresentada pelos pais e sociedade, onde insinuações e acusações lhe são sutilmente comparadas e ameaçadas com o pecado original e mortal. Inicialmente condenada sem alforria, só pelo fato de carregar em seu feminino essa sombra ameaçadora e poderosa que perdura até mesmo após um casamento estável e fiel. Síndrome similar ao complexo existente perante a homossexualidade no masculino.
Todo complexo feminino, que levou Freud a uma busca infindável de compreensão da histeria, está vinculada a essa realidade. A meretriz é a sombra do feminino e está intimamente ligado a toda sua complexidade existencial e comportamental, que é tão criticada e subjugada perante os que por ventura procuram entendê-las.
Compreender o feminino é então compreender o grau de fobia que existe no inconsciente dessas mulheres que temem descobrir o seu desejo mais profundo, que temem serem confundidas ou melhor reconhecidas na sua mais íntima confusão do ser.