Há coisas assim

Uma semana bastou para que a realidade mostrasse o que muitos sabiam e uns poucos fingiram ignorar: a campanha contra a Festa do Avante!, que levou à imposição de medidas altamente restritivas por parte da DGS, nada teve a ver com preocupações sanitárias, como se viu pelas celebrações religiosas deste domingo no Santuário de Fátima.

As imagens do desrespeito pelo distanciamento social passaram nas televisões, mas a generalidades das notícias pôs o foco no facto de o acesso ao local ter sido encerrado quando se atingiu a lotação máxima – um terço do espaço – e nos apelos da organização ao cumprimento das boas práticas. O que não se disse em momento algum foi que lotação é essa, e de acordo com o Público a mesma nem sequer estará definida.

Também não houve comentários prévios clamando contra o «suicídio colectivo» desta vez patrocinado pela Igreja Católica, nem preocupações presidenciais com a imagem de Portugal no estrangeiro, nem providências cautelares, nem exigências de divulgação pública das regras de segurança, nem apelos ao encerramento do comércio, nem sequer obrigatoriedade de missa com lugares sentados. Os comentadores de serviço distrairam-se com o Benfica ou com o Tino de Rãs, e amanhã é outro dia, já ninguém se lembra dos ajuntamentos de Fátima e se for caso disso não faltará água benta, metaforicamente falando, para afastar os vírus das comparações impertinentes e das verdades inconvenientes.

Até lá, em abono da verdade, retenha-se o mea culpa da SIC, que no noticiário da hora de almoço de segunda-feira teve a decência de mostrar a diferença entre o amontoado de peregrinos em Fátima e o disciplinado comício da Festa do Avante!. Há coisas assim, quando se mete a mão na consciência.

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