HARD TIMES
Vivemos tempos muito conturbados. A situação de pandemia vai ser muito difícil de conseguir domar totalmente antes de haver uma vacina disponível, ou termos conseguido a imunidade de grupo. Sobre as escolas recaiu uma situação de difícil gestão, mas que, até agora, estas têm mais ou menos conseguido dominar e resolver, se bem que a velocidades diferentes e com contextos também diferenciados.
No entanto, é sobre as escolas particulares que recai um grande peso no sentido de conseguirem manter o equilíbrio que resulta necessário para que os projetos educativos e as orientações programáticas dos diversos anos não sofram com este novo sistema de ensino que confronta sensibilidades diferentes, cada pai ou família com a sua opinião e ideia sobre como as coisas deveriam funcionar. Relativamente à escola dita pública, cada escola conseguiu fazer face aos seus objetivos, mas a crítica dos pais não lhes é dirigida da mesma forma. A problemática da consciência popular de que o ensino oficial é grátis, ou seja, não é pago, mina todos os princípios da garantia de qualidade e de equivalência que as escolas particulares conseguem apresentar. Embora os seus custos sejam iguais ou até mesmo superiores aos custos de funcionamento das escolas particulares.
A situação torna-se ainda mais difícil de analisar se tivermos em conta que as escolas particulares, que são vistas pela maioria da população como máquinas de fazer dinheiro, não têm forma de conseguir fazer face aos seus custos na situação atual, se as mensalidades pedagógicas não forem assumidas pelos pais. Os custos de uma escola na sua grande maioria são os custos de pessoal e das instalações. Sendo que o pessoal docente é a maior percentagem deste custo.
Os pais, como estão a pagar um serviço, consideram que podem fazer todo o tipo de exigências e interferir na organização e definição de prioridades e objetivos. E não têm em conta a situação extrema que todos os docentes estão a atravessar. Qualquer docente vos poderá demonstrar que na sua maioria têm mais trabalho e durante mais tempo nesta situação de teletrabalho do que na situação de aulas presenciais. É que, na realidade, neste momento eles estão à disposição de todas as famílias mediante mensagens no Moodle, e-mails para a direção ou ainda reuniões virtuais pedidas à direção a toda a hora. Mensagens à meia noite? Por que não? E-mails às 22 horas? Tudo é possível, tudo está à distância de um clique. E os professores têm de preparar as aulas na mesma como se fossem presenciais, têm de corrigir muito mais trabalhos e numa sequência estonteante, obrigando-se a fazer download, corrigir e devolver depois aos alunos, dando feedback.
Relativamente às disciplinas de expressão nos ciclos de pré-escolar e 1.º ciclo, os pais são ainda mais exigentes, porque pensam que, como as suas crianças têm uma aula duas vezes por semana não há problema nenhum em que o professor consiga manter esse ritmo durante a semana em regime à distância. E comparam com as aulas zoom que as educadoras e/ou professores dão. Mas não têm em conta o facto de que as aulas presenciais são todas encadeadas em períodos de manhã e que se torna praticamente impossível que o docente de expressão plástica ou de educação física e musical consiga dar todas as aulas zoom em sequências como se fossem presenciais. Sem terem em conta o tempo de preparação e de correção de trabalhos e de feedback a dar aos alunos.
E estamos agora a 3 meses do início do próximo ano letivo. O que será que vai acontecer? Como vão as escolas poder funcionar com um espaçamento de 1,5 metros entre crianças em sala de aula? Como poderão os custos de uma turma continuar estáveis e equilibrados se tivermos de desdobrar turmas com as consequentes implicações de dobro de custos para cobrir os programas e as aulas funcionarem normalmente? E como vai uma escola poder organizar os seus tempos de refeição se no mesmo refeitório cabem apenas 25 % dos alunos que anteriormente cabiam?
Os pais, na sua visão parcelar, pensam apenas nos seus problemas e na forma de os resolver, como por exemplo terem redução nas propinas sem terem em conta a influência negativa ou mesmo a impossibilidade de a maior parte das escolas - cuja estrutura de propinas está praticamente rasa com os custos resultantes – continuem a conseguir funcionar. Ou então pedirem para que os professores não ponham tantas tarefas no Moodle, que eles não têm tempo de acompanhar os seus filhos. Mas continuam a insistir para que as escolas cumpram a sua função de ensinar. Como se ensinar e aprender não seja uma realidade que depende uma da outra. E que nesta fase os professores, para fazerem uma avaliação responsável, têm de ter evidências da aprendizagem dos alunos realmente conseguida. E há um programa a cumprir, senão todo o programa do próximo ano letivo poderá ficar em causa se tivermos de passar parte do 1.º período a terminar matérias que deveriam ter sido trabalhadas este ano letivo.
É muito difícil conseguir manter a gestão do funcionamento de uma escola tendo de ter em conta todas estas variáveis. E seguramente que haverá escolas que não vão ser capazes de conseguir aguentar o embate. E ninguém ficará a ganhar: os pais porque vão perder um serviço que não conseguem arranjar tão facilmente, as escolas porque vão ter de prescindir do seu funcionamento, colocando no desemprego um grande número de funcionários docentes e não docentes.
O futuro dirá como o país conseguirá sobreviver a esta situação com profundas implicações sociais, económicas e políticas.