IA e Proteção de Dados: Qual o Papel do Encarregado/DPO na Governança de IA?

IA e Proteção de Dados: Qual o Papel do Encarregado/DPO na Governança de IA?

❗️Com a crescente utilização de Inteligência Artificial nas empresas brasileiras, muitas organizações já adequadas à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), podem pensar que estão prontas para lidar com a governança de IA, que está prestes a ser normatizada.

É importante ressaltar que a IA traz consigo riscos específicos para a proteção de dados.

Por exemplo, modelos de IA podem inadvertidamente revelar informações pessoais através de inferências precisas, ou perpetuar vieses presentes nos dados de treinamento.

Além disso, a opacidade de alguns algoritmos de IA (o chamado "efeito caixa-preta") pode dificultar a explicação de decisões que afetam indivíduos, potencialmente violando princípios de transparência da LGPD.

 

No entanto, é crucial nos perguntarmos agora: a governança de IA deve ser automaticamente atribuída ao Encarregado/DPO?

 

🔍Vamos aprofundar!

O projeto de Lei 2.338/23 (que dispõe sobre o uso da Inteligência Artificial), em tramitação no Senado Federal, e ainda sujeito a alterações, atribui à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) a coordenação do Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial (SIA).

No entanto, não há dúvida que existe uma sobreposição significativa entre as regulamentações de proteção de dados e as novas exigências que serão impostas pela nossa Lei de IA, uma vez que a IA envolve, essencialmente, o processamento de grandes volumes de dados, muitos dos quais incluem dados pessoais.

Embora muito positivo privilegiar a privacidade – uma garantia Constitucional do cidadão – na coordenação da IA, não parece aconselhável replicar tal cenário no ambiente corporativo.

Isso porque, apesar da interseção entre proteção de dados e IA, o Encarregado/DPO tem a responsabilidade de garantir a conformidade com a LGPD, de maneira independente, sem autoridade para influenciar diretamente as operações de processamento de dados.

Entretanto, o responsável pela IA precisará fazer exatamente isso: determinar como os dados são utilizados e processados por sistemas de IA.

Acrescente-se que um gestor de IA terá responsabilidades distintas das do Encarregado/DPO, e podem incluir:

  • Supervisionar o desenvolvimento e implementação de sistemas de IA
  • Garantir a qualidade e integridade dos dados usados para treinar modelos de IA
  • Monitorar o desempenho e viés dos algoritmos de IA
  • Coordenar avaliações de impacto ético e social dos sistemas de IA
  • Implementar medidas para garantir a explicabilidade das decisões tomadas por IA

Essa distinção nas atribuições é crucial porque evidencia que o acúmulo de funções por uma mesma pessoa provavelmente acarretará um conflito de interesses, que pode repercutir em penalização para a empresa, conforme disposições contidas no Regulamento do Encarregado, aprovado recentemente pela ANPD.

 

⚖️ Como as empresas podem se preparar?

Algumas empresas na Europa, um pouco mais adiantadas no enfrentamento desse tema por conta do EU AI Act, têm começado a adotar estruturas organizacionais que integram proteção de dados e IA sob um guarda-chuva mais amplo, denominado "Gestão de Dados".

Isso cria uma distinção clara entre as responsabilidades de proteção de dados e a governança de IA, mantendo o Encarregado/DPO em seu papel independente enquanto ainda facilita a supervisão integrada da conformidade com a IA.

 

🚀 Minha recomendação:

Se sua empresa está adequada à LGPD, aproveite esse momento para revisar a estrutura de governança e se preparar para as novas camadas de conformidade e processos que a IA está trazendo.

Além dessa revisão estrutural, será importante, também:

  • Investir em treinamento e capacitação da equipe em temas relacionados à IA e suas implicações éticas e legais, incluindo proteção de dados.
  • Desenvolver políticas e diretrizes internas específicas para o uso responsável de IA, alinhadas com os princípios da LGPD e as melhores práticas internacionais.

 

O Encarregado/DPO continuará tendo um papel crucial com os novos desafios trazidos pela Inteligência Artificial, mas a governança de IA exige uma abordagem também cuidadosa e especializada!

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