A importância das publicações, estudos e pesquisas sobre o continente africano e seus descendentes.
Há alguns dias recebi a mensagem de uma ex-aluna perguntando a minha opinião sobre a personagem de uma novela, que maltratada pelo marido decidiu buscar refúgio em uma senzala, submetendo-se voluntariamente a escravidão.
De jeito nenhum! Este enredo atenta contra o conhecimento histórico, o bom senso e subestima a inteligência da personagem. Como seria possível a jovem fugir de uma situação de violência colocando-se em uma condição na qual ficaria exposta a toda sorte de agressões, abusos, torturas e sevícias? Não faz sentido!
Há algum tempo tenho observado também a divulgação de um certo discurso que tenta minimizar o impacto da escravidão, afirmando a sua existência no continente africano, em um período anterior a chegada dos europeus.
Existiam os “jonyas”, que tinha um estatuto completamente diferente do escravizado do século XVI. O jonya (do termo mande jon, que significa cativo) não podia ser cedido, pois pertencia a uma categoria integrada a classe dominante. Era um cidadão exclusivo do Estado. Tinha o direito de possuir a maior parte do que produzia. Muitos alcançavam algum poder e construíam fortunas.
O escravizado, por outro lado, era privado de todos os direitos, submetido a todas as formas de violência, crueldade e transformado em uma mercadoria que poderia ser cedida, negociada ou descartada.
No passado, como no presente a violência seletiva tem como público alvo, a população negra e indígena, o que pode ser facilmente confirmado observando as estatísticas das principais vítimas da violência social e mais recentemente da crise sanitária causada pela pandemia do Corona Vírus.
Para conhecer mais sobre a África, sugiro fortemente a leitura do livro de OGOT, B. A. (org.), História geral da África, V: África do século XVI ao XVIII. Brasília: UNESCO, 2010.
E o capítulo: DIAGNE, P. As estruturas políticas, econômicas e sociais africanas durante o período considerado (Capítulo 2), pp. 27-54.
Toda coleção está disponível gratuitamente em pdf.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000322.pdf
Professor | Ensino Particular
4 aAdorei sempre refurto esse discurso de que os próprios negros escravizam uns aos outros, porém não tinha conhecimento desse termo "jonya" a partir de agora vou defender meus posicionamentos com mais embasamento. Muito obrigada por uma nova fonte de conhecimento.