Inflação: O dilema entre escassez e abundância
O velho fantasma da inflação está de volta aos pesadelos dos brasileiros. Segundo projeções do mercado, IPCA deve encerrar o ano novamente acima de dois dígitos em 2022 (em 2021, a alta foi de 10,06% no acumulado) ligando o sinal de alerta no consumidor em geral. Com isso, o brasileiro, já acostumado com períodos de hiperinflação vividos nas décadas de 80 e 90, começa a retomar hábitos de consumo que visam proteger seu poder de compra e garantir mais produtos em sua mesa.
É importante ressaltar que a inflação não é algo novo, é uma consequência cíclica da relação entre oferta e demanda como Adam Smith já discutiu em seu livro "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações". Em resumo, quando um determinado produto sofre com escassez (pode ser por um motivo natural, como uma colheita ruim), há uma diminuição na oferta do mesmo, enquanto a demanda permanece inalterada. Sendo assim, haverá competição pelas poucas unidades e o preço subirá. Da mesma forma, num segundo momento, o preço mais elevado desencorajará parte da população a consumir este determinado produto, fazendo com que a demanda caia, resultando assim na diminuição dos preços. Esse conceito é conhecido como a "Mão invisível do mercado"
O problema se dá na interferência ao processo natural, a famosa intervenção. Esta pode ser basicamente de dois meios: privado ou governamental. Na interferência privada, um determinado indivíduo ou grupo atua de forma a controlar os preços praticados no mercado por meio da oferta ou da demanda. Isso pode se dar na formação de um cartel, onde um grupo de empresas se junta para "combinar" os preços praticados, ou quando uma empresa detém uma fatia suficientemente grande do mercado que sozinha consegue influenciar a oferta. Em ambos os casos, a legislação é firme no combate a essas práticas que lesam o mercado, porém morosa.
Recomendados pelo LinkedIn
No caso da interferência governamental, ainda mais comum, o governo implementa medidas que visam, mesmo que indiretamente, o controle de preços. É mais comum que ocorra com produtos que são de natureza estratégica como combustíveis e energia elétrica, mas podem ocorrer de forma generalizada como no governo Sarney e mais recentemente na Argentina com impactos inflacionários sentidos até hoje. Outra forma de interferência governamental é realizada pela emissão de papel moeda. No ímpeto de gastar mais, os governos se endividam e aumentam a quantidade de dinheiro em circulação. Como há mais dinheiro para a mesma quantidade de recursos, os preços sobem, gerando inflação.
Em suma, essas análises reiteram a importância de um mercado livre. Cabe ao governo o papel de estabelecer e fazer valer as regras para todos os entes envolvidos, sem preferências ou favorecimentos. Períodos de escassez e abundância são normais em qualquer mercado, em especial nos globalizados como vivemos hoje. Um mercado livre promove a livre concorrência que gera eficiência e aumento de produtividade, faz-se valer o ciclo da abundância e quem ganha é o consumidor.