Deflação, o problema é mais sério do que parece
Acervo Online | Brasil por Mateus Boldrine Abrita 18 de outubro de 2019
Os resultados divulgados no dia 09 de outubro deste ano mostram uma deflação no mês de setembro de 2019 de 0,04%, principalmente puxado para baixo pelos preços dos alimentos.
O Brasil registrou deflação em setembro de 2019, menor valor para um mês de setembro desde 1998. Isto tem gerado um debate na sociedade brasileira. Mas, afinal o que é deflação? Isto é bom ou ruim? Quais seus impactos e implicações?
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é medido pelo IBGE e mensura a inflação no Brasil. Os resultados divulgados no dia 09 de outubro deste ano mostraram uma deflação no mês de setembro de 2019 de 0,04%, principalmente puxado para baixo pelos preços dos alimentos.
Para compreender o que é deflação é importante entender o que é inflação. De acordo com os manuais de economia, de um modo geral, inflação é dado pelo aumento contínuo e generalizado dos preços. Sabe quando você vai ao supermercado, posto de combustível, lojas… E sempre nota que tudo tem subido? Então, isto é inflação. Já a deflação é o oposto. Ou seja, diminuição dos preços contínua e generalizada.
Muitos leitores irão discordar deste resultado divulgado pelo IBGE, que mostra deflação, afinal a impressão é a de que tem ocorrido uma alta de preços e não queda. Isto tem a ver com o método de cálculo e outras particularidades do índice, esta é uma discussão para outro artigo. Voltando para nosso assunto, num olhar inicial pode parecer que a deflação é uma ótima notícia, ou seja, os preços estão caindo e isto é muito bom para o consumidor que poderá consumir mais no futuro. Contudo, o problema é mais grave do que parece.
Desaquecida
Quando uma economia apresenta deflação é sinal de que a renda, emprego e consumo estão prejudicados. Isto revela que a economia está fraca e desaquecida, sendo reflexo de um mercado consumidor não pujante. Uma implicação macroeconômica é a seguinte: quando a demanda está fraca, os estoques tendem aumentar e o empresário encontra dificuldade em realizar as vendas. Logo, ele tende a não investir mais e não gerar novos empregos e as vezes até demitir.
Outro aspecto perigoso da deflação é mais microeconômico, se ela persistir, o consumidor pode ficar esperando a queda dos preços para realizar a compra e como ele adia o consumo, os preços realmente caem, o que pode levar aos consumidores adiarem ainda mais o consumo, esperando novas quedas. Neste cenário, o consumo é adiando e os preços estarão sempre caindo, logo o empresário não vende e, portanto, não contrata nem realiza investimento e pode até demitir. Isto é um problema sério para a economia.
Um caso muito famoso é o do Japão, principalmente na década de 1990. Lá ocorreu um processo de deflação importante e agravou a situação da economia japonesa. Com a queda dos preços ocorreu um sentimento de que os preços sempre iriam continuar caindo, e os consumidores abdicaram de consumir, aguardando novas quedas. Com a queda nas vendas por parte das empresas, muitas delas tiveram que demitir e isto agravou sobremaneira a situação. Obviamente, é pouco provável que isto ocorra no Brasil.
Mateus Boldrine Abrita é professor na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.